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São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2003

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PERSONALIDADE

Cientista político se projetou com obra sobre movimento de 1964

René Dreifuss morre no Rio aos 58

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Morreu anteontem no Rio, aos 58 anos, o cientista político René Armand Dreifuss, vítima de um tumor no cérebro. Sua obra mais conhecida é "1964: A Conquista do Estado", lançada em 1981.
Sua enfermidade foi detectada em 2000, quando sofreu uma primeira cirurgia; a segunda ocorreu em 2002. No final do ano passado seu estado de saúde se agravou. Ele era casado e tinha um filho de 24 anos. O enterro foi realizado anteontem, no Cemitério do Caju (zona norte do Rio).
Uruguaio de Montevidéu, Dreifuss formou-se em ciência política pela Universidade de Haifa, em Israel. Obteve o mestrado em política pela Universidade de Leeds (Inglaterra), em 1974, e o doutorado em 1980, pela Universidade de Glasgow (Escócia), com a tese sobre o movimento de 1964.
Na opinião do historiador Jacob Gorender, só essa obra -que analisa as articulações de setores empresariais e militares para derrubar o presidente João Goulart em 1964- já basta para situar seu autor entre "entre os grandes analistas político-historiográficos do Brasil daquele período".
"Fico realmente sentido, condoído [com sua morte]", disse Gorender, que conheceu Dreifuss em 1989, num seminário do PT.
Mesmo sem concordar com todas as idéias, Gorender diz que "1964: A Conquista do Estado" faz parte da bibliografia fundamental sobre a história recente do Brasil: "Ele procura utilizar os ensinamentos de Antonio Gramsci [1891-1937, fundador do Partido Comunista Italiano] e aplicá-los no processo sociopolítico".
Para Wanderley Guilherme dos Santos, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), a morte de Dreifuss representa uma perda para a ciência política no Brasil. Ele ressalta a importância de seu principal livro: "É um trabalho de pesquisa de fôlego, bem documentado. Esse tipo de volume nunca sai da agenda [do estudioso"", disse.
No Brasil, Dreifuss lecionou na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e depois se transferiu para o Departamento de Ciência Política da UFF (Universidade Federal Fluminense). Além de sua obra principal, Dreifuss publicou em 1987 a "Internacional Capitalista - Estratégias e Táticas do Empresariado Transnacional" (editora Espaço e Tempo), seguido, em 1989, de "O Jogo da Direita" (editora Vozes), no qual analisava a atuação dos setores conservadores no Congresso constituinte.
Em 1993, publicou "Política, Poder, Estado e Força: uma leitura de Weber" (editora Vozes); em 2001, lançou "A Época das Perplexidades", também pela Vozes. Dreifuss sempre foi um crítico da relação estreita entre a elite política nacional e as corporações multinacionais. (HENRI CARRIÈRES)


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