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PERSONALIDADE
Cientista político se projetou com obra sobre movimento de 1964
René Dreifuss morre no Rio aos 58
FREE LANCE PARA A FOLHA
Morreu anteontem no Rio, aos
58 anos, o cientista político René
Armand Dreifuss, vítima de um
tumor no cérebro. Sua obra mais
conhecida é "1964: A Conquista
do Estado", lançada em 1981.
Sua enfermidade foi detectada
em 2000, quando sofreu uma primeira cirurgia; a segunda ocorreu
em 2002. No final do ano passado
seu estado de saúde se agravou.
Ele era casado e tinha um filho de
24 anos. O enterro foi realizado
anteontem, no Cemitério do Caju
(zona norte do Rio).
Uruguaio de Montevidéu, Dreifuss formou-se em ciência política
pela Universidade de Haifa, em
Israel. Obteve o mestrado em política pela Universidade de Leeds
(Inglaterra), em 1974, e o doutorado em 1980, pela Universidade de
Glasgow (Escócia), com a tese sobre o movimento de 1964.
Na opinião do historiador Jacob
Gorender, só essa obra -que
analisa as articulações de setores
empresariais e militares para derrubar o presidente João Goulart
em 1964- já basta para situar seu
autor entre "entre os grandes analistas político-historiográficos do
Brasil daquele período".
"Fico realmente sentido, condoído [com sua morte]", disse
Gorender, que conheceu Dreifuss
em 1989, num seminário do PT.
Mesmo sem concordar com todas as idéias, Gorender diz que
"1964: A Conquista do Estado" faz
parte da bibliografia fundamental
sobre a história recente do Brasil:
"Ele procura utilizar os ensinamentos de Antonio Gramsci
[1891-1937, fundador do Partido
Comunista Italiano] e aplicá-los
no processo sociopolítico".
Para Wanderley Guilherme dos
Santos, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de
Janeiro), a morte de Dreifuss representa uma perda para a ciência
política no Brasil. Ele ressalta a
importância de seu principal livro: "É um trabalho de pesquisa
de fôlego, bem documentado. Esse tipo de volume nunca sai da
agenda [do estudioso"", disse.
No Brasil, Dreifuss lecionou na
UFMG (Universidade Federal de
Minas Gerais) e depois se transferiu para o Departamento de Ciência Política da UFF (Universidade
Federal Fluminense). Além de sua
obra principal, Dreifuss publicou
em 1987 a "Internacional Capitalista - Estratégias e Táticas do Empresariado Transnacional" (editora Espaço e Tempo), seguido,
em 1989, de "O Jogo da Direita"
(editora Vozes), no qual analisava
a atuação dos setores conservadores no Congresso constituinte.
Em 1993, publicou "Política, Poder, Estado e Força: uma leitura
de Weber" (editora Vozes); em
2001, lançou "A Época das Perplexidades", também pela Vozes.
Dreifuss sempre foi um crítico da
relação estreita entre a elite política nacional e as corporações multinacionais.
(HENRI CARRIÈRES)
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