São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004

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MÁQUINA PARADA

Greve dos servidores do instituto deve atrasar ainda mais reforma agrária; entrega de cestas é suspensa

Paralisação no Incra se espalha por 20 Estados

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A reforma agrária, uma das principais bandeiras do governo, deve demorar ainda mais por causa da greve dos servidores do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), iniciada anteontem. A distribuição de cestas básicas às famílias acampadas também deve parar, o que tende a acirrar a tensão no campo.
Das 29 superintendências estaduais do órgão, 20 já se definiram pela greve, segundo o órgão e o comando de greve. Segundo a assessoria do Incra, 15 já estavam paradas ontem. Servidores de pelo menos outras cinco superintendências cruzam os braços a partir da semana que vem. Funcionários da sede da autarquia, em Brasília, também pararam.
Diante de tal quadro, o ministro Miguel Rossetto já teme pelo cumprimento da meta de famílias assentadas, sendo 47 mil até junho e 115 mil até dezembro.
"Uma greve cria obviamente grandes dificuldades para a execução da meta." Até o fim de abril, o ritmo da reforma agrária já era insuficiente, já que, mesmo sem greves, o governo só havia editado decretos de desapropriação para assentar 6.130 famílias.
Até o final da tarde de ontem, a Cnasi (Confederação Nacional dos Servidores do Incra) contabilizava que cerca de 3.500 dos 5.300 servidores da ativa estavam parados. Até meados da semana que vem, a Cnasi espera uma adesão de todos os Estados. Para o Incra, é cedo para estimar a adesão.
Os servidores do Incra é que, na prática, tocam a reforma agrária: selecionam a área, fazem a vistoria (média de 60 por semana), elaboram o laudo e dividem os lotes. Pela falta de pessoal, ainda selecionam famílias e distribuem cestas básicas aos acampados.
As duas superintendências de Pernambuco (Recife e Petrolina), Estado que concentra o maior número de famílias acampadas (cerca de 20 mil), estão em greve.
Em princípio, a paralisação não tratará a questão salarial (em torno de 50,19%) como prioridade. A Cnasi discutirá a questão a partir da semana que vem. As principais reivindicações são reestruturação da autarquia, plano de carreira e recomposição da força de trabalho do órgão. "Não há como fazer a reforma agrária sem que o Incra esteja estruturado", disse o diretor da Cnasi José Vaz Parente.
Segundo o Incra, medidas têm sido tomadas desde janeiro de 2003, como concurso para a contratação de 366 novos funcionários e lançamento do novo Plano Nacional de Reforma Agrária.
A greve recebeu ontem o apoio e a solidariedade do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) e da CPT (Comissão Pastoral da Terra).

Invasões
Ontem de manhã, o pátio da Prefeitura de Petrolina (PE) foi invadido por 200 famílias ligadas ao MST. Por volta das 13h, a prefeitura foi desocupada.
Aproximadamente 250 famílias ligadas à OLC (Organização da Luta no Campo) invadiram duas fazendas em Passira, também em Pernambuco.


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