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TUCANOS
Ex-presidente fez crítica indireta à "retórica vazia" da política externa de Lula
Falta competência ao BNDES, diz FHC
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em mais um capítulo da troca
de farpas entre o governo atual e o
anterior, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ironizou o
projeto de Lula para o país e atacou o BNDES ao dizer que a instituição tem "pouca competência"
para atender a demandas por financiamento.
FHC fez as declarações ao defender mudanças nos organismos
multilaterais, entre os quais o
FMI, cujo sistema disse estar "velho". Citou então o fato de o Banco Mundial ter a mesma capacidade de investimento que o
BNDES. "O BNDES não tem pouco dinheiro. Tem pouca competência para fazer empréstimos",
disse a cerca de 300 pessoas em seminário na USP sobre "Desafios
da Ordem Internacional".
O orçamento do banco para este
ano é de R$ 47,3 bilhões. O
BNDES, durante o governo FHC,
teve a sua política de financiamento questionada. O presidente da
instituição, Carlos Lessa, não comentou a declaração.
A contenda não terminou aí.
Diante de uma platéia amistosa,
formada por professores da USP
-muitos dos quais ex-alunos de
FHC-, o ex-presidente foi irônico ao comentar o projeto do governo atual para o país.
"Diziam: "Ah, o governo Fernando Henrique não tem projeto". Ah, o governo Fernando Henrique ficou lá oito anos chupando
o dedo? Podiam não concordar,
mas tínhamos um projeto", disse
FHC, que completou: "Imagino
que o governo Lula também tenha um projeto. Ainda não consegui descobrir qual, mas acho que
tem". Ouviu risadas da platéia.
Ao abordar a política externa
atual, o ex-presidente também fez
outra crítica, desta vez indireta,
aos discursos do presidente Lula
sobre o tema. Segundo ele, o pior
que pode ocorrer nessa área é o
que chamou de "retórica vazia".
"Precisamos nos capacitar internamente e, sobretudo, não nos
perder na retórica vazia. Tenho
horror à retórica, principalmente
no que se refere à política internacional", declarou. Para o ex-presidente, o Brasil precisa prestar
atenção em sua relação com os
EUA. "A boa relação não significa
não haver conflito. Mas isso é diferente de uma guerra total."
Ao mencionar "idéias bélicas"
que surgem em determinados setores da sociedade, disse achar
"preocupante quando há recaída
dos anos 70". Afirmou ainda que
"não estamos inaugurando a história" quando comentou a aproximação com países emergentes.
"Nós estamos no fim do mundo. Mais fim que a gente só Uruguai, Chile e Argentina", disse ao
citar que países europeus demoraram 30 anos para chegar à prosperidade atual e que o Brasil também levará o seu tempo.
FHC evitou criticar o aumento
do salário mínimo de R$ 20 concedido pelo governo. "Não faço
isso [as mesmas críticas que os
petistas faziam ao seu governo]",
respondeu o ex-presidente.
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