São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004

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TUCANOS

Ex-presidente fez crítica indireta à "retórica vazia" da política externa de Lula

Falta competência ao BNDES, diz FHC

JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em mais um capítulo da troca de farpas entre o governo atual e o anterior, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ironizou o projeto de Lula para o país e atacou o BNDES ao dizer que a instituição tem "pouca competência" para atender a demandas por financiamento.
FHC fez as declarações ao defender mudanças nos organismos multilaterais, entre os quais o FMI, cujo sistema disse estar "velho". Citou então o fato de o Banco Mundial ter a mesma capacidade de investimento que o BNDES. "O BNDES não tem pouco dinheiro. Tem pouca competência para fazer empréstimos", disse a cerca de 300 pessoas em seminário na USP sobre "Desafios da Ordem Internacional".
O orçamento do banco para este ano é de R$ 47,3 bilhões. O BNDES, durante o governo FHC, teve a sua política de financiamento questionada. O presidente da instituição, Carlos Lessa, não comentou a declaração.
A contenda não terminou aí. Diante de uma platéia amistosa, formada por professores da USP -muitos dos quais ex-alunos de FHC-, o ex-presidente foi irônico ao comentar o projeto do governo atual para o país.
"Diziam: "Ah, o governo Fernando Henrique não tem projeto". Ah, o governo Fernando Henrique ficou lá oito anos chupando o dedo? Podiam não concordar, mas tínhamos um projeto", disse FHC, que completou: "Imagino que o governo Lula também tenha um projeto. Ainda não consegui descobrir qual, mas acho que tem". Ouviu risadas da platéia.
Ao abordar a política externa atual, o ex-presidente também fez outra crítica, desta vez indireta, aos discursos do presidente Lula sobre o tema. Segundo ele, o pior que pode ocorrer nessa área é o que chamou de "retórica vazia".
"Precisamos nos capacitar internamente e, sobretudo, não nos perder na retórica vazia. Tenho horror à retórica, principalmente no que se refere à política internacional", declarou. Para o ex-presidente, o Brasil precisa prestar atenção em sua relação com os EUA. "A boa relação não significa não haver conflito. Mas isso é diferente de uma guerra total."
Ao mencionar "idéias bélicas" que surgem em determinados setores da sociedade, disse achar "preocupante quando há recaída dos anos 70". Afirmou ainda que "não estamos inaugurando a história" quando comentou a aproximação com países emergentes.
"Nós estamos no fim do mundo. Mais fim que a gente só Uruguai, Chile e Argentina", disse ao citar que países europeus demoraram 30 anos para chegar à prosperidade atual e que o Brasil também levará o seu tempo.
FHC evitou criticar o aumento do salário mínimo de R$ 20 concedido pelo governo. "Não faço isso [as mesmas críticas que os petistas faziam ao seu governo]", respondeu o ex-presidente.


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