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ESCÂNDALO DO MENSALÃO / UM ANO DEPOIS
Lula admite que desafio à oposição foi erro
Presidente, que instigou adversários a usarem CPIs na campanha, promete a auxiliares que voltará à linha "paz e amor"
Quando se lançar candidato, ele usará Torto para discutir sua campanha; antes disso, porém, discutirá no Planalto aliança com peemedebistas
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu ontem
em reunião com seus principais ministros que errou na semana passada ao desafiar a
oposição a usar a "tortura" das
CPIs na propaganda na TV e ao
receber o ex-governador Orestes Quércia (PMDB-SP) no Palácio do Planalto para tratar de
eleição.
Lula disse que voltaria "a ficar paz e amor", segundo relato
de um auxiliar direto à Folha.
Foi decidido ainda que, quando
Lula assumir a candidatura, a
Granja do Torto, uma de suas
duas residências oficiais, será
usada para encontros de natureza claramente eleitoral.
Hoje à noite, haveria um encontro assim no Torto com a
ala governista do PMDB. Como
Lula ainda não assumiu a candidatura, mudou de opinião ao
longo do dia e decidiu fazer a
reunião no Palácio do Planalto.
Oficialmente, Lula discutirá
a agenda congressual com o
PMDB. Na realidade, tratará de
alianças estaduais com o partido. Os governistas estimam
que Lula possa receber o apoio
de 14 a 16 seções estaduais do
partido.
Os governistas do PMDB deverão ainda repetir para o presidente o que ele já sabe: a verticalização, regra que proíbe
alianças nos Estados entre adversários na eleição nacional,
impedirá o partido de lançar
candidato próprio ao Planalto
ou de apoiá-lo oficialmente.
Lei e arrogância
Segundo um ministro, a reunião de ontem discutiu os limites de um presidente-candidato. Há temor de problemas com
a Justiça Eleitoral. Lula e auxiliares acham que Marco Aurélio Mello, presidente do TSE
(Tribunal Superior Eleitoral),
tem dado sinais de que será rigoroso.
A autocrítica de Lula foi feita
em reunião ontem de manhã
no Palácio do Planalto, com os
ministros que compõem a
Coordenação de Governo.
"Eu quero que eles coloquem
CPI na televisão todo dia, toda
hora. Eu quero que eles coloquem as torturas que eles fizeram com muita gente lá", disse
Lula na última quinta-feira.
A maioria dos ministros avaliou que o presidente errou ao
desafiar a oposição. De acordo
com o relato de um ministro,
Lula admitiu que não devia ter
feito o desafio, mas que acabou
deixando escapar a frase.
O presidente e auxiliares decidiram que o tom dos seus discursos até que assuma a candidatura deve enfatizar realizações na economia e na área social, além de eleger a educação
como bandeira de campanha.
Ao desafiar a oposição a colocar a CPI na propaganda política, Lula tocou num tema, corrupção, no qual sua administração é vulnerável. E "deu palanque", disse um ministro, para o
candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, acusá-lo
de cínico.
Marina e mensaleiro
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, fez ontem um
elogio à "elite" do país, em
evento no Salão Nobre do Palácio do Planalto, a poucos metros de Lula.
"A desgraça de um país não é
a sua elite, é não tê-la", disse a
ministra, para então elogiar os
empresários brasileiros. "Vamos organizar um jantar para
dizer que os empresários do
Brasil também pensam estrategicamente e constituem a elite
pensante deste país", afirmou.
Sentado na primeira fila, o
ex-deputado Paulo Rocha (PT),
que renunciou com medo de
ser cassado por seu envolvimento com o mensalão, assistiu a toda a cerimônia.
Quando foi abordado para
saber quem o tinha convidado,
se irritou: "A intenção da Folha
não é essa [descobrir o autor do
convite], é saber se eu sou influente aqui [no Palácio do Planalto]". E é? "Sou dirigente do
partido, fui quatro vezes deputado federal, esse evento é uma
luta nossa. Eu fui um dos que
iniciaram essa luta, eu tenho de
estar aqui, mesmo que a Folha
não queira", respondeu.
Rocha disse que o "nivelamento" no caso do mensalão
provocou injustiças. "Depois
de 11 meses, não ficou provado
o mensalão", afirmou o ex-deputado, um dos 40 denunciados pelo procurador-geral da
República sob a acusação de
formar uma "quadrilha".
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