Sem acordo, relator tira chefe-de-gabinete de Lula da lista de indiciados, mas fará acusação contra Paulo Okamotto

Oposição quer substituir Mozarildo Cavalcanti (PTB) e Augusto Botelho (PDT) por outros senadores para assim reconquistar maioria na CPI

ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mesmo contando com a derrota, a oposição vai insistir para incluir pedidos de indiciamento de petistas no relatório da CPI dos Bingos, que deverá ser entregue pelo senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) amanhã. O principal alvo é Paulo Okamotto, presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e amigo do presidente Lula. Até a semana passada, Gilberto Carvalho -chefe-de-gabinete da Presidência da República- também era alvo, mas deve ser excluído da lista dos indiciados, segundo declarou Garibaldi. Apesar da insistência contra Okamotto, a oposição já admite ser derrotada em relação aos pedidos de indiciamento. "A CPI já deu o que tinha que dar. Não dá para gerar uma expectativa em relação ao resultado final. A conclusão não é o mais importante, mas sim o que ela estimulou", disse Álvaro Dias (PSDB-PR) sobre as denúncias que a CPI suscitou. "O governo moveu céus e terras para tentar impedir a conclusão a que a CPI dos Bingos pode deixar de chegar", disse José Agripino (RN), líder do PFL no Senado. O pefelista, contudo, ainda pretende reconquistar a maioria na CPI. PSDB e PFL dependem dos votos de Augusto Botelho (PDT-RR) e Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), que têm se ausentado das últimas reuniões, ajudando os governistas. Cavalcanti deve ser substituído por Antônio João (PTB-MS). Quanto a Botelho, há um esforço da oposição para que seja trocado por Jefferson Peres (AM), líder do PDT do Senado.

Depoimento
A CPI dos Bingos marcou para hoje o depoimento de Joacir das Neves Oliveira. Ele afirma ter trabalhado, entre 2001 e 2002, como segurança de João Arcanjo Ribeiro, conhecido como Comendador Arcanjo, acusado de comandar o crime organizado em Mato Grosso. À Procuradoria da República do Espírito Santo, em 1º de junho, Oliveira afirmou que políticos do PT, PP e PSDB mantinham reuniões, de três em três meses, com Arcanjo. O ex-segurança disse que ouviu Arcanjo tramar o assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, morto em 2002. Arcanjo nega tudo. A Folha teve acesso ao depoimento de Oliveira. O documento tem apenas uma página e não traz evidências de que as reuniões ocorreram.

Palocci
A Polícia Civil de São Paulo enviou ontem à CPI dos Bingos relatório que aponta o ex-ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) como "coordenador de todo o esquema" de corrupção e fraudes nos contratos de limpeza da Prefeitura de Ribeirão Preto entre 2001 e 2002. O material foi enviado ao senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) para embasar o relatório da CPI sobre os crimes praticados pelo ex-ministro. Em Ribeirão, Palocci foi indiciado pelos crimes de formação de quadrilha, peculato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Em relatório preliminar, consultores do Senado afirmam existir elementos suficientes para pedir o indiciamento de Palocci pelas fraudes em Ribeirão e pela suposta participação na violação do sigilo do caseiro Francenildo Costa. O advogado do ex-ministro, José Roberto Batochio, disse não existir no inquérito nada além do depoimento do advogado Rogério Buratti que aponte a participação do seu cliente nas fraudes: "Disseram para ele [Buratti]: "Ou você entrega o Palocci ou vai continuar preso". Foi uma denúncia à la carte". O delegado Benedito Valencise nega ter existido pressão sobre Buratti: "Ele prestou depoimento no terceiro dia. Teve tempo hábil para examinar sua consciência. O que importa é que tudo o que ele falou foi devidamente comprovado". Batochio disse considerar um absurdo a inclusão de fatos ocorridos em Ribeirão no relatório: "O objeto da CPI não tem nada a ver com Ribeirão Preto".