São Paulo, Domingo, 06 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÍDIA
Repórteres sem Fronteiras abre escritório no Rio de Janeiro
Entidade denuncia violência contra jornalistas brasileiros

LUIZ CAVERSAN
Diretor da Sucursal do Rio

Oito jornalistas brasileiros foram assassinados desde 1995 e pelo menos mais 19 encontram-se atualmente ameaçados de morte. Na maioria dos casos, estão impedidos de exercer a profissão.
Os dados são da organização internacional Repórteres sem Fronteiras, que está implantando no Brasil um escritório para coletar, investigar e divulgar dados sobre a ameaça à integridade física dos profissionais de imprensa no país.
Com sede em Paris, essa organização não-governamental foi fundada em 1985, já recebeu colaborações de jornalistas brasileiros no passado, mas só agora resolveu se instalar formalmente por aqui.
Gilberto de Souza, 39, é o responsável pela implementação do escritório da Repórteres sem Fronteiras no Brasil. Há um mês e meio, vem trabalhando na coleta de informações e denúncias, bem como na criação de uma rede de colaboradores com o objetivo de checar informações sobre supostas violências contra jornalistas.
"A Repórteres sem Fronteiras tem uma preocupação muito grande com a veracidade das informações que divulga, para não perder a credibilidade. Se recebemos um comunicado de alguma ameaça de morte no Norte do Brasil, por exemplo, necessariamente vamos checar essa denúncia por meio de alguma fonte idônea e independente", afirma Souza.
Segundo os dados da entidade, os jornalistas brasileiros relacionados foram mortos durante ou após a veiculação de denúncias contra criminosos, policiais, empresários ou políticos. São eles: Manoel Leal de Oliveira (1998, Bahia), José Carlos Mesquita (1998, Rondônia), Donizete Adauto (1998, Piauí), Edgard Lopes de Faria (1997, Mato Grosso do Sul), Zaqueu de Oliveira (1995, Minas), Aristeu Guida da Silva (1995, Rio de Janeiro), Reinaldo Coutinho da Silva (1995, Rio de Janeiro) e Marcos Borges Ribeiro (1996, Goiás).
"Nenhum dos responsáveis por esses crimes foi condenado até hoje", diz Souza.
A Repórteres sem Fronteiras tem relacionados os nomes de 19 jornalistas brasileiros que estariam sofrendo ameaças de morte. Alguns casos estão em apuração, outros já foram confirmados, mas os nomes não são divulgados por questões de segurança.
Três desses casos são bem representativos dos problemas identificados pela entidade: um jornalista do Norte do país está refugiado em São Paulo, ameaçado por um grande traficante que denunciou; outro, do Nordeste, revelou um esquema de desvio de verbas na prefeitura local e vem sendo perseguido; um terceiro recebe ameaças de morte há um mês e acusa um secretário de Estado como mandante das intimidações.
Segundo Souza, o objetivo da entidade não é o de simplesmente tornar públicas as denúncias que recebe. "Procuramos sempre divulgar fatos checados, comunicá-los a órgãos do governo, como o Ministério da Justiça, assim como a organizações como a Anistia Internacional, e também a países parceiros daqueles em que as ameaças estão acontecendo. É assim que atuamos e é assim que pretendemos fazer no Brasil."
Souza afirma que a maior parte das denúncias é oriunda de cidades do interior do país.

Repórteres sem Fronteiras (rua da Assembléia, 35, conjunto 402 - e-mail: gsz60@hotmail.com)


Texto Anterior: Domingueira - Marcos Augusto Gonçalves: Brasilianistas
Próximo Texto: Folha publica relatório
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.