São Paulo, Domingo, 06 de Junho de 1999
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Bancos lideraram contribuições a FHC

Jorge Araújo - 17.ago.98/Folha Imagem
FHC durante campanha eleitoral de 1998


ALEX RIBEIRO
da Sucursal de Brasília

Os bancos foram os maiores doadores da campanha do presidente Fernando Henrique Cardoso, com uma contribuição total de R$ 11,504 milhões. A soma equivale a 26,73% dos fundos levantados pelo comitê de reeleição.
No primeiro mandato de FHC, as instituições financeiras viveram anos de prosperidade, segundo balanços divulgados pelo Banco Central, e escaparam dos impostos, segundo a Receita Federal.
A soma do patrimônio líquido (dinheiro investido nos bancos por seus acionistas) do conjunto das 223 instituições financeiras mais do que duplicou no período, passando de R$ 26,426 bilhões para R$ 55,653 bilhões.
O acúmulo de patrimônio pelos bancos não foi acompanhada por crescimento proporcional no pagamento de impostos.
O recolhimento de Imposto de Renda dos bancos cresceu 11,13% de 1994 para 1998, contra 60,1% das empresas não-financeiras.
Os bancos também ajudaram a financiar gastos de campanhas eleitorais para outros cargos (ao todo doaram R$ 17,283 milhões), mas em nenhum deles sua contribuição foi tão expressiva quanto para a reeleição presidencial.
Os governadores obtiveram dos bancos apenas 3,07% das verbas arrecadadas para a campanha eleitoral, os deputados recolheram 4,41%, e os senadores, 7,75%.
Uma participação de até 5% nas contribuições pode ser entendida como equilibrada, já que os bancos respondem por 4,7% do PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas do país), segundo a pesquisa mais recente do IBGE, de 1996.
O Itaú foi o principal doador da campanha de FHC, com R$ 2,6 milhões. O segundo lugar entre os bancos é do ABN Amro, que comprou o Real, com uma contribuição de R$ 2,300 milhões. O Bradesco ocupa a terceira posição, com R$ 1 milhão.
O Itaú foi o maior contribuinte entre os bancos na campanha eleitoral passada. Ele aparece liderando também as doações para os deputados (R$ 870 mil) e para os senadores (R$ 700 mil).
Dois ex-ministros da área econômica de FHC aparecem na lista dos dez deputados que mais receberam contribuições dos bancos.
Antônio Kandir (PSDB-SP), ex-ministro do Planejamento, lidera o ranking, com R$ 225 mil.
Ministro da Indústria e Comércio no primeiro mandato e atual ministro do Trabalho, Francisco Dornelles (PPB-RJ) ficou em oitavo lugar, com R$ 125 mil.
Três deputados do PT receberam doações de instituições do mercado financeiro, mas não estão entre os primeiros no ranking. Entre eles, está Aloizio Mercadante (PT-SP), com R$ 20 mil.
Mercadante é o autor das denúncias sobre a mudança das posições de câmbio dos bancos às vésperas da desvalorização do real, que deram lucros milionários e estão sendo investigadas pela CPI dos Bancos no Senado.
Ele recebeu R$ 10 mil da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), cujos dirigentes foram depor na CPI, e R$ 10 mil da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo).
Entres os senadores, o que mais recebeu contribuições foi Jorge Bornhausen (PFL-SC).
Levantamento dos balanços publicados pelos 18 bancos que fizeram doações revela que eles tiveram um desempenho durante o Plano Real superior ao obtido pelo conjunto dos 223 bancos.
Um terço dos bancos que fizeram doações conseguiram triplicar o patrimônio líquido entre 1994 e 1998. Outras três instituições conseguiram mais do que duplicar o patrimônio. Apenas um dos bancos que fizeram doações registrou queda no período.
O crescimento dos bancos durante o Plano Real é explicado, em parte, pelos juros pagos pelo governo sobre sua dívida pública.
Nesses últimos quatro anos, as receitas dos bancos com tesouraria (que inclui os negócios com títulos públicos) superaram os ganhos das instituições com os créditos concedidos à produção.
No mesmo período, houve significativo aumento da dívida pública. Em dezembro de 1994, a dívida líquida do setor público (inclui União, Estados, municípios e estatais) representava 29,4% do PIB (R$ 152,408 bilhões), contra 44,3% do PIB (R$ 432,161 bilhões) em março passado.


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