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Prefeito oferece caixão e vestido de noiva
do enviado especial
"Minha filha, saiu algum caixão
hoje? ", pergunta o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Newton
Carneiro (PPB) aos funcionários
de uma funerária que mantém para fazer enterro de parentes de
eleitores da periferia da cidade.
"Infelizmente não, seu Newton", responde uma funcionária,
demonstrando uma certa tristeza
por não ter atendido a clientela
que assegura, há 42 anos, mandatos para Carneiro.
O diálogo foi acompanhado pela
Folha na tarde da última quinta-feira, quando o prefeito procurava mostrar as suas realizações
no município, localizado na região metropolitana de Recife.
Folclórico, Newton Carneiro, de
73 anos, tem um estilo que lembra
o modo de governar de Jânio Quadros, seu ídolo na política. Adora
fazer "visitas surpresas" a obras e
repartições e também transmite
ordens por bilhetes aos auxiliares.
No comando do segundo maior
município do Estado, com uma
população de 529.966, o prefeito
diz que o chamam até de "louco",
devido ao seu comportamento e a
certas atitudes, como andar com
os bolsos cheios de bolachas.
"Não tenho tempo para fazer
uma refeição, então vou comendo
as bolachas enquanto percorro a
cidade todos os dias", diz. "Meu
gabinete é a rua."
O prefeito patrocina uma média
de 40 enterros por mês. Ele fornece o caixão e providencia uma pequena cerimônia para a família.
Carneiro se orgulha de fornecer
caixões "envernizados" aos eleitores: "Não é por ser pobre que o
cidadão tem de ser enterrado enrolado apenas em um pedaço de
plástico, como acontece por aí".
Graças a esse trabalho, o político
de Jaboatão dos Guararapes foi
deputado estadual dez vezes.
E não se dedica apenas à morte.
Na mesma casa onde funciona a
funerária, mantém um serviço de
confecção de registros de nascimento e outro de empréstimo de
vestidos de noiva para as eleitoras.
Segundo o prefeito, embora a
prefeitura ajude, a "casa de caridade" é sustentada também com
dinheiro do seu bolso.
Devido à elevada taxa de mortalidade infantil do Nordeste, a
maioria dos caixões doados por
Carneiro é para crianças ou "anjinhos", como chamam na região.
(XS)
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