São Paulo, segunda, 6 de julho de 1998

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"Balcão' atrai voto fisiológico

do enviado especial

Seja no Piauí do folclórico governador "Mão Santa" (PMDB) ou no rico São Paulo de Mário Covas (PSDB), o chamado eleitor "fisiológico" corre atrás de vantagens oferecidas em tempo de eleição.
No tabuleiro de troca de votos por mercadorias ou benefícios, vale tudo. "O eleitor quer vantagem, seja uma dentadura ou um caixão de defunto", diz o prefeito Newton Carneiro (PPB), de Jaboatão dos Guararapes, a segunda maior cidade pernambucana.
Cabo eleitoral importante na região metropolitana de Recife, Carneiro vai apoiar Miguel Arraes (PSB) para governador e tem sido procurado diariamente por uma dúzia de candidatos à Câmara e à Assembléia Legislativa que buscam o seu prestígio.
O prefeito tem uma marca "eleitoreira": sempre obteve muitos votos com ajuda dos caixões de defunto que distribui diariamente para os mais pobres (leia texto nesta página).
Neste balcão de troca, até o jogador Ronaldo, da seleção brasileira, vira garoto-propaganda de candidatos com poucas chances eleitorais, como João Oliveira (PT do B), que tenta uma cadeira de deputado estadual no Ceará.
Oliveira comprou 2.000 camisas da seleção, com o "9" às costas, para distribuir aos eleitores.
No Piauí, o governador Mão Santa e os seus aliados oferecem, no seu balcão de atrativos, entre outros benefícios, sopas para famintos e casas populares.
Uma peculiaridade das "moedas" eleitorais do governador é que todos os programas são conhecidos pela sua marca: "casa santa", "sopa na mão" etc.
Em São Paulo, o governador Mário Covas, que vai se licenciar do cargo hoje, também distribui chaves de casas, programa social comum no país. O que é considerado "eleitoreiro" pelos adversários é que o tucano anunciava, até pouco tempo, no ato de entrega das casas, que pagaria, do seu bolso, a mensalidade de mutuários.
No sertão nordestino, que passa por um período de estiagem, as principais "moedas" passam a ser o carro pipa, o poço artesiano, a cesta básica e a vaga para as frentes de trabalho patrocinadas pelos governos federal e estaduais.
"Ou descolamos alguma coisa nesse período ou nunca mais", diz o eleitor "fisiológico" Antonio da Conceição Pereira, 56, um garçom cearense, da cidade do Crato, que mora em São Paulo há 30 anos.
"Aqui nos arredores de São Paulo, os candidatos fazem do mesmo jeito dos políticos do Nordeste." (Xico Sá)



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