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ELEIÇÕES 2004/DEBATE
Prefeita admite ao final ter levado "bordoada de tudo quanto é jeito", pois, como candidata à reeleição, era única situacionista
Seis se voltam contra Marta no 1º debate
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O debate da noite de ontem na TV Bandeirantes foi menos um debate e mais um intenso tiroteio sobre a prefeita Marta Suplicy (PT),
que, no penúltimo bloco, acabou por admitir que levara "bordoada
de tudo quanto é jeito".
O tiroteio é compreensível: como candidata à reeleição, Marta é,
obviamente, a única situacionista; todos os outros seis candidatos
presentes são oposicionistas. Menos natural, no entanto, é o fato de
não ter havido, praticamente, troca de farpas entre os oposicionistas
José Serra (PSDB) e Paulo Maluf (PP), que estão embolados com
Marta na disputa, de acordo com as pesquisas mais recentes.
Marta levou "bordoadas", acima de tudo mas também previsivelmente, pela carga tributária que o paulistano paga.
Paulo Maluf atacou a "histeria
fiscal", José Serra falou em "sufoco tributário", Havanir Nimitz
(Prona) apontou "formas espúrias" de arrecadação, Paulo Pereira da Silva citou até uma suposta
"taxa do espaço aéreo".
Contribuiu para o tiroteio o fato
de que Marta usou a pergunta que
tinha direito, no segundo bloco,
para tentar jogar sobre Maluf e
também sobre os governos tucanos (de que Serra fez parte) a culpa pelo endividamento da cidade
e, por extensão, das dificuldades
orçamentárias da prefeitura.
Maluf puxou de um gordo envelope um volume de capa marrom, citou os dados da dívida que
deixara (R$ 6,5 bilhões, que passaram a R$ 14 bilhões ao final da
gestão seguinte, de Celso Pitta)
para dizer que Marta, no fim de
2003, elevara a dívida para R$ 25
bilhões, que, passados mais sete
meses, já devem, pelos juros, ter
chegado a R$ 30 bilhões.
Aí, usou uma das raras frases de
efeito que arrancou risos da platéia, formada basicamente por
jornalistas e lideranças políticas:
"De José de Anchieta para cá, a dívida foi de R$ 14 bilhões. Você sozinha fez R$ 30 bilhões".
Marta só conseguiu de Maluf a
concordância em atribuir parte
do problema da dívida aos altos
juros do governo tucano, mas,
ainda assim, o ex-prefeito não
deixou de cutucar o PT, por ter
dado continuidade à política econômica anterior. A prefeita chegou a escorregar no português, ao
dizer que os juros (do governo federal anterior) eram "acorchantes", em vez de escorchantes.
Mesmo levando "bordoadas", a
prefeita não perdeu a tranqüilidade, a não ser quando Luiza Erundina (PSB) acusou-a de "comprar
votos" de vereadores em troca de
favores. Marta pediu direito de
resposta, que o moderador Carlos
Nascimento negou, alegando que
o regulamento previa direito de
resposta só em casos de ofensas
"pessoais" graves -não de ofensas de cunho administrativo.
Na primeira oportunidade seguinte, a prefeita deu a resposta
que pedira. Primeiro, considerou
"naturais" os ataques que estava
sofrendo, menos a acusação de
Erundina. "Sou uma pessoa séria", reagiu Marta. A ex-prefeita
também acusou a atual de lotear
cargos públicos. Chegou a dizer,
em relação à campanha, que o uso
da máquina pública "não é ético".
Nem quando entraram na roda
os CEUs, os centros educacionais
que são a menina dos olhos de
Marta, deixaram de surgir críticas, ao lado do reconhecimento
dos méritos do programa. Havanir Nimitz, por exemplo, disse
que 90% das crianças paulistanas
estavam "no inferno" e apenas
10% freqüentavam os CEUs. Maluf reduziu mais o número de beneficiados, para 5%.
O segundo alvo preferencial de
críticas foi José Serra, por sua gestão no Ministério da Saúde. Não
só pelo "caos" na saúde, apontado por mais de um dos debatedores, mas pelo escândalo dos chamados "vampiros". Defesa de
Serra: os vampiros não foram
apontados por ele, mas ou por
políticos do PT ou eram funcionários públicos. O tucano disse
que nenhum leito hospitalar foi
acrescentado na cidade nos últimos quatro anos.
A prefeita apenas conseguiu falar do bilhete único, talvez o seu
melhor cabo eleitoral, nas suas
considerações finais, no último
bloco do programa, já além da
meia-noite. Enquanto isso, Maluf
passou absolutamente incólume
sobre a questão de suas contas supostas ou reais no exterior. Ninguém tocou no assunto.
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