São Paulo, sexta-feira, 06 de agosto de 2004

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ELEIÇÕES 2004/DEBATE

Prefeita admite ao final ter levado "bordoada de tudo quanto é jeito", pois, como candidata à reeleição, era única situacionista

Seis se voltam contra Marta no 1º debate

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O debate da noite de ontem na TV Bandeirantes foi menos um debate e mais um intenso tiroteio sobre a prefeita Marta Suplicy (PT), que, no penúltimo bloco, acabou por admitir que levara "bordoada de tudo quanto é jeito".
O tiroteio é compreensível: como candidata à reeleição, Marta é, obviamente, a única situacionista; todos os outros seis candidatos presentes são oposicionistas. Menos natural, no entanto, é o fato de não ter havido, praticamente, troca de farpas entre os oposicionistas José Serra (PSDB) e Paulo Maluf (PP), que estão embolados com Marta na disputa, de acordo com as pesquisas mais recentes.
Marta levou "bordoadas", acima de tudo mas também previsivelmente, pela carga tributária que o paulistano paga.
Paulo Maluf atacou a "histeria fiscal", José Serra falou em "sufoco tributário", Havanir Nimitz (Prona) apontou "formas espúrias" de arrecadação, Paulo Pereira da Silva citou até uma suposta "taxa do espaço aéreo".
Contribuiu para o tiroteio o fato de que Marta usou a pergunta que tinha direito, no segundo bloco, para tentar jogar sobre Maluf e também sobre os governos tucanos (de que Serra fez parte) a culpa pelo endividamento da cidade e, por extensão, das dificuldades orçamentárias da prefeitura.
Maluf puxou de um gordo envelope um volume de capa marrom, citou os dados da dívida que deixara (R$ 6,5 bilhões, que passaram a R$ 14 bilhões ao final da gestão seguinte, de Celso Pitta) para dizer que Marta, no fim de 2003, elevara a dívida para R$ 25 bilhões, que, passados mais sete meses, já devem, pelos juros, ter chegado a R$ 30 bilhões.
Aí, usou uma das raras frases de efeito que arrancou risos da platéia, formada basicamente por jornalistas e lideranças políticas: "De José de Anchieta para cá, a dívida foi de R$ 14 bilhões. Você sozinha fez R$ 30 bilhões".
Marta só conseguiu de Maluf a concordância em atribuir parte do problema da dívida aos altos juros do governo tucano, mas, ainda assim, o ex-prefeito não deixou de cutucar o PT, por ter dado continuidade à política econômica anterior. A prefeita chegou a escorregar no português, ao dizer que os juros (do governo federal anterior) eram "acorchantes", em vez de escorchantes.
Mesmo levando "bordoadas", a prefeita não perdeu a tranqüilidade, a não ser quando Luiza Erundina (PSB) acusou-a de "comprar votos" de vereadores em troca de favores. Marta pediu direito de resposta, que o moderador Carlos Nascimento negou, alegando que o regulamento previa direito de resposta só em casos de ofensas "pessoais" graves -não de ofensas de cunho administrativo.
Na primeira oportunidade seguinte, a prefeita deu a resposta que pedira. Primeiro, considerou "naturais" os ataques que estava sofrendo, menos a acusação de Erundina. "Sou uma pessoa séria", reagiu Marta. A ex-prefeita também acusou a atual de lotear cargos públicos. Chegou a dizer, em relação à campanha, que o uso da máquina pública "não é ético".
Nem quando entraram na roda os CEUs, os centros educacionais que são a menina dos olhos de Marta, deixaram de surgir críticas, ao lado do reconhecimento dos méritos do programa. Havanir Nimitz, por exemplo, disse que 90% das crianças paulistanas estavam "no inferno" e apenas 10% freqüentavam os CEUs. Maluf reduziu mais o número de beneficiados, para 5%.
O segundo alvo preferencial de críticas foi José Serra, por sua gestão no Ministério da Saúde. Não só pelo "caos" na saúde, apontado por mais de um dos debatedores, mas pelo escândalo dos chamados "vampiros". Defesa de Serra: os vampiros não foram apontados por ele, mas ou por políticos do PT ou eram funcionários públicos. O tucano disse que nenhum leito hospitalar foi acrescentado na cidade nos últimos quatro anos.
A prefeita apenas conseguiu falar do bilhete único, talvez o seu melhor cabo eleitoral, nas suas considerações finais, no último bloco do programa, já além da meia-noite. Enquanto isso, Maluf passou absolutamente incólume sobre a questão de suas contas supostas ou reais no exterior. Ninguém tocou no assunto.


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