São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/RETÓRICA DA CRISE

Presidente diz que turbulência é menor do que esperavam adversários e que economia vai bem, semanas após destacar vulnerabilidade

Lula encontra empresários e minimiza crise

EDUARDO SCOLESE
SÉRGIO LIMA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em reunião ontem à tarde com 22 empresários do país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou minimizar os efeitos das denúncias de corrupção contra diferentes esferas do governo, dizendo que a crise não é "tão grande como parece". Segundo o presidente, a atual turbulência é "bem menor" do que seus adversários esperavam.
A declaração foi dada no início de encontro com empresários no Palácio do Planalto. Estavam, entre outros, Abílio Diniz (Pão de Açúcar), Jorge Gerdau (Gerdau), Márcio Artur Cypriano (Bradesco), Rogério Oliveira (IBM) e José Ermírio de Moraes (Votorantim).
Logo no começo do encontro, agendado a pedido da Presidência para que o governo pudesse apresentar um balanço da economia diante das denúncias de corrupção, Lula tentou demonstrar tranqüilidade aos presentes.
E foi nesse momento que o presidente minimizou a crise política. "A crise não é tão grande como parece e como pensam. E [a crise] é bem menor do que muitos gostariam que fosse", afirmou, diante de fotógrafos e cinegrafistas que registravam o início da reunião.
Em diferentes discursos recentes, Lula tem adotado uma linha parecida, com ataques aos seus antecessores, em especial a Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), e críticas à imprensa, que, segundo ele, tem enfatizado apenas o noticiário negativo do governo e "manchado" o currículo de outros.
Ontem, Lula dedicou a maior parte de sua agenda a conversas com empresários e representantes do setor. À tarde, vieram os empresários, que ouviram uma versão otimista do governo sobre a sustentabilidade da economia.
Essa versão destoa da apregoada por Lula, em discurso no Rio Grande do Sul, no mês passado. Na ocasião, o presidente afirmou que a economia brasileira ainda era muito vulnerável.

Agenda econômica
Pela manhã, passaram por seu gabinete presidentes de diferentes confederações patronais, como Indústria, Comércio, Agricultura e Transporte.
No primeiro encontro, também fechado à imprensa, Lula disse que vai manter sua agenda de seguidas viagens pelo país, buscando, na prática, retirar de sua figura os focos da atual crise política. Ontem, usou o argumento da inauguração de obras para justificar os deslocamentos.
"Eu montei um governo nos últimos três anos [31 meses, na realidade]. E agora está na hora de eu inaugurar isso. E vou inaugurar, vou continuar viajando pelos Estados, perto da base", afirmou o presidente, segundo relato à Folha de pessoas que participaram da reunião.
Aos presidentes de confederações, assim como fez mais tarde aos empresários, o presidente também tentou minimizar os desdobramentos da crise. Disse a eles que, neste momento, o papel da investigação cabe apenas ao Congresso e suas CPIs, restando ao Executivo o papel de governar.
"O governo tem que seguir governando, cumprindo sua agenda, e o Congresso tem que continuar investigando. Neste momento, a melhor resposta para a crise é o nosso trabalho", disse, sempre segundo relatos.
Participantes do encontro da manhã relataram à reportagem um presidente sereno e convicto de que as ações do governo e a economia não serão afetados por conta da turbulência política.
Manter conversas com a sociedade, segundo ele, é um dos principais caminhos. "Vou continuar dialogando com diferentes segmentos da sociedade, como sempre fiz", declarou.
Em entrevista após o encontro, o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e deputado federal pelo PTB, Armando Monteiro Neto, advertiu que "não se blinda a economia com discursos e medidas artificiais".


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