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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/RETÓRICA DA CRISE
Presidente diz que turbulência é menor do que esperavam adversários e que economia vai bem, semanas após destacar vulnerabilidade
Lula encontra empresários e minimiza crise
EDUARDO SCOLESE
SÉRGIO LIMA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em reunião ontem à tarde com
22 empresários do país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
procurou minimizar os efeitos
das denúncias de corrupção contra diferentes esferas do governo,
dizendo que a crise não é "tão
grande como parece". Segundo o
presidente, a atual turbulência é
"bem menor" do que seus adversários esperavam.
A declaração foi dada no início
de encontro com empresários no
Palácio do Planalto. Estavam, entre outros, Abílio Diniz (Pão de
Açúcar), Jorge Gerdau (Gerdau),
Márcio Artur Cypriano (Bradesco), Rogério Oliveira (IBM) e José
Ermírio de Moraes (Votorantim).
Logo no começo do encontro,
agendado a pedido da Presidência
para que o governo pudesse apresentar um balanço da economia
diante das denúncias de corrupção, Lula tentou demonstrar tranqüilidade aos presentes.
E foi nesse momento que o presidente minimizou a crise política. "A crise não é tão grande como
parece e como pensam. E [a crise]
é bem menor do que muitos gostariam que fosse", afirmou, diante
de fotógrafos e cinegrafistas que
registravam o início da reunião.
Em diferentes discursos recentes, Lula tem adotado uma linha
parecida, com ataques aos seus
antecessores, em especial a Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), e críticas à imprensa, que,
segundo ele, tem enfatizado apenas o noticiário negativo do governo e "manchado" o currículo
de outros.
Ontem, Lula dedicou a maior
parte de sua agenda a conversas
com empresários e representantes do setor. À tarde, vieram os
empresários, que ouviram uma
versão otimista do governo sobre
a sustentabilidade da economia.
Essa versão destoa da apregoada por Lula, em discurso no Rio
Grande do Sul, no mês passado.
Na ocasião, o presidente afirmou
que a economia brasileira ainda
era muito vulnerável.
Agenda econômica
Pela manhã, passaram por seu
gabinete presidentes de diferentes
confederações patronais, como
Indústria, Comércio, Agricultura
e Transporte.
No primeiro encontro, também
fechado à imprensa, Lula disse
que vai manter sua agenda de seguidas viagens pelo país, buscando, na prática, retirar de sua figura
os focos da atual crise política.
Ontem, usou o argumento da
inauguração de obras para justificar os deslocamentos.
"Eu montei um governo nos últimos três anos [31 meses, na realidade]. E agora está na hora de eu
inaugurar isso. E vou inaugurar,
vou continuar viajando pelos Estados, perto da base", afirmou o
presidente, segundo relato à Folha de pessoas que participaram
da reunião.
Aos presidentes de confederações, assim como fez mais tarde
aos empresários, o presidente
também tentou minimizar os desdobramentos da crise. Disse a eles
que, neste momento, o papel da
investigação cabe apenas ao Congresso e suas CPIs, restando ao
Executivo o papel de governar.
"O governo tem que seguir governando, cumprindo sua agenda, e o Congresso tem que continuar investigando. Neste momento, a melhor resposta para a
crise é o nosso trabalho", disse,
sempre segundo relatos.
Participantes do encontro da
manhã relataram à reportagem
um presidente sereno e convicto
de que as ações do governo e a
economia não serão afetados por
conta da turbulência política.
Manter conversas com a sociedade, segundo ele, é um dos principais caminhos. "Vou continuar
dialogando com diferentes segmentos da sociedade, como sempre fiz", declarou.
Em entrevista após o encontro,
o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e deputado federal pelo PTB, Armando Monteiro Neto, advertiu que
"não se blinda a economia com
discursos e medidas artificiais".
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