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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/LIGAÇÕES CRUZADAS
Publicitário foi recebido por Ricardo Salgado, presidente do Banco Espírito Santo, principal instituição financeira de Portugal
Banco também recebeu Valério em Lisboa
ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A LISBOA
Além do ex-ministro de Obras
Públicas de Portugal António Mexia e do presidente da Portugal
Telecom, Miguel Horta e Costa,
também o presidente do Banco
Espírito Santo (principal instituição financeira daquele país), Ricardo Salgado, reuniu-se, em Lisboa, com o publicitário Marcos
Valério Fernandes de Souza, um
dos principais personagens do suposto esquema ilegal de captação
de recursos para o PT e para a base aliada do governo.
O encontro de Salgado e Valério
foi confirmado anteontem, pela
assessoria do banco, ao jornal
""Público", de Lisboa. O banco
disse que a reunião aconteceu no
ano passado, mas não especificou
dia nem mês. Acredita-se que tenha sido na mesma ocasião em
que o empresário esteve com Miguel Horta e com António Mexia,
em setembro ou outubro de 2004.
Marcelo Leonardo, advogado
de Marcos Valério de Souza, disse
ontem que o seu cliente confirma
o encontro com Ricardo Salgado,
em Portugal. Mas ele não informou quem fez a intermediação
para que Valério fosse recebido.
A suposta ligação de Marcos
Valério com o Banco Espírito
Santo foi levantada pelo deputado
federal Roberto Jefferson, presidente licenciado do PTB e denunciador do esquema do ""mensalão". Ele sustenta que o publicitário o procurou propondo que interferisse junto ao IRB (Instituto
de Resseguros do Brasil) para que
aplicasse cerca de US$ 600 milhões de suas reservas internacionais no banco português.
Na versão de Jefferson, o BES financiaria a reestatização de linhas
da Eletronorte, e Valério obteria
uma comissão de cerca de US$ 40
milhões, que seria entregue ao PT
e ao PTB. A escolha do banco português, segundo ele, teria a ver
com os interesses da instituição
no Brasil e com supostas ligações
contratuais entre ex-dirigentes do
PT, como Delúbio Soares, e do
próprio Marcos Valério, com o
banco português.
Segundo o Banco Espírito Santo, Marcos Valério pediu o encontro com Ricardo Salgado para
apresentar os serviços de sua empresa de marketing e publicidade.
"Foi recebido e foi-lhe dito que esses serviços deveriam ser apresentados ao Besi Brasil [subsidiária
de investimento do banco no Brasil] e não ao BES", disse o porta-voz. O banco sustenta que seu
presidente nunca se encontrou
com José Dirceu.
Na última quarta-feira, o IRB
informou que, no final de abril, o
Banco Espírito Santo lhe apresentou uma proposta para aplicar
US$ 100 milhões, que integram a
reserva em moeda estrangeira
que ela mantém aplicada no exterior. A proposta, segundo a estatal, foi rejeitada no início de maio,
por não se enquadrar na política
de investimentos aprovada pelo
Conselho de Administração.
O presidente do Besi Brasil, Ricardo Abecassis Espírito Santo, já
confirmou a reunião, em 11 de janeiro deste ano, no Palácio do Planalto, com José Dirceu e Marcos
Valério.
Já o ex-ministro José Dirceu,
por intermédio de sua assessoria,
disse não ter certeza da participação de Marcos Valério na audiência com o executivo do Banco Espírito Santo.
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