São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/LIGAÇÕES CRUZADAS

Publicitário foi recebido por Ricardo Salgado, presidente do Banco Espírito Santo, principal instituição financeira de Portugal

Banco também recebeu Valério em Lisboa

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A LISBOA

Além do ex-ministro de Obras Públicas de Portugal António Mexia e do presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa, também o presidente do Banco Espírito Santo (principal instituição financeira daquele país), Ricardo Salgado, reuniu-se, em Lisboa, com o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, um dos principais personagens do suposto esquema ilegal de captação de recursos para o PT e para a base aliada do governo.
O encontro de Salgado e Valério foi confirmado anteontem, pela assessoria do banco, ao jornal ""Público", de Lisboa. O banco disse que a reunião aconteceu no ano passado, mas não especificou dia nem mês. Acredita-se que tenha sido na mesma ocasião em que o empresário esteve com Miguel Horta e com António Mexia, em setembro ou outubro de 2004.
Marcelo Leonardo, advogado de Marcos Valério de Souza, disse ontem que o seu cliente confirma o encontro com Ricardo Salgado, em Portugal. Mas ele não informou quem fez a intermediação para que Valério fosse recebido.
A suposta ligação de Marcos Valério com o Banco Espírito Santo foi levantada pelo deputado federal Roberto Jefferson, presidente licenciado do PTB e denunciador do esquema do ""mensalão". Ele sustenta que o publicitário o procurou propondo que interferisse junto ao IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) para que aplicasse cerca de US$ 600 milhões de suas reservas internacionais no banco português.
Na versão de Jefferson, o BES financiaria a reestatização de linhas da Eletronorte, e Valério obteria uma comissão de cerca de US$ 40 milhões, que seria entregue ao PT e ao PTB. A escolha do banco português, segundo ele, teria a ver com os interesses da instituição no Brasil e com supostas ligações contratuais entre ex-dirigentes do PT, como Delúbio Soares, e do próprio Marcos Valério, com o banco português.
Segundo o Banco Espírito Santo, Marcos Valério pediu o encontro com Ricardo Salgado para apresentar os serviços de sua empresa de marketing e publicidade. "Foi recebido e foi-lhe dito que esses serviços deveriam ser apresentados ao Besi Brasil [subsidiária de investimento do banco no Brasil] e não ao BES", disse o porta-voz. O banco sustenta que seu presidente nunca se encontrou com José Dirceu.
Na última quarta-feira, o IRB informou que, no final de abril, o Banco Espírito Santo lhe apresentou uma proposta para aplicar US$ 100 milhões, que integram a reserva em moeda estrangeira que ela mantém aplicada no exterior. A proposta, segundo a estatal, foi rejeitada no início de maio, por não se enquadrar na política de investimentos aprovada pelo Conselho de Administração.
O presidente do Besi Brasil, Ricardo Abecassis Espírito Santo, já confirmou a reunião, em 11 de janeiro deste ano, no Palácio do Planalto, com José Dirceu e Marcos Valério.
Já o ex-ministro José Dirceu, por intermédio de sua assessoria, disse não ter certeza da participação de Marcos Valério na audiência com o executivo do Banco Espírito Santo.


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