São Paulo, Sexta-feira, 06 de Agosto de 1999
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JANIO DE FREITAS
Um pobre a mais


Assim como os caminhoneiros fizeram o bem de forçar, afinal, as atenções para o preço absurdo dos pedágios no Brasil, a pouco disfarçada má vontade com o plano antipobreza, do senador Antonio Carlos Magalhães, não lhe tira o mérito de trazer o tema mais uma vez à discussão.
O que está havendo nem é apenas a repescagem do assunto. Por se tratar de Antonio Carlos Magalhães e suas particularidades, sua iniciativa não recebe, como suas inúmeras antecessoras, tratamento de sufocação imediata, por parte de parlamentares governistas, e de desprezo e ridículo, por parte dos tecnocratas ministeriosos e de Fernando Henrique Cardoso.
O plenário do Senado lotou, ontem, para ouvir o que Antonio Carlos já dissera. E o orador não achou necessária qualquer cautela para dizer que, se o governo não se juntar à iniciativa, o Senado e a Câmara farão sozinhos -ou seja, imporão- as medidas e o movimento de combate à pobreza. Era o comandante do rolo compressor que aprovou no Congresso as emendas à Constituição.
A senadora Marina Silva deu uma contribuição importante, irrecusável pela maioria dos líderes parlamentares, para extrair uma consequência prática da oportunidade aberta ao tema da pobreza. A comissão especial que selecione e alie, em 90 dias, os projetos antipobreza já existentes no Congresso pode eliminar as competições pessoais e partidárias, na fusão das boas sugestões.
Essa contribuição inteligente não é vista assim no Planalto. A iniciativa do Congresso, em assunto tão importante, além de implicar uma condenação do governo, põe Fernando Henrique à mercê de opositores, sejam circunstanciais ou permanentes. Como já condenou a iniciativa, com o comentário de que ""o problema não é falta de dinheiro, é como gastar", não pode agora aderir, ou não pode fazê-lo sem um custo que a sua pobreza em capital político e popular não cobre, nem de longe.
Está criado um confronto que não tem coluna do meio, nem a possibilidade de dar zebra.


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