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JANIO DE FREITAS
Um pobre a mais
Assim como os caminhoneiros fizeram o bem de forçar,
afinal, as atenções para o preço
absurdo dos pedágios no Brasil, a pouco disfarçada má vontade com o plano antipobreza,
do senador Antonio Carlos
Magalhães, não lhe tira o mérito de trazer o tema mais uma
vez à discussão.
O que está havendo nem é
apenas a repescagem do assunto. Por se tratar de Antonio
Carlos Magalhães e suas particularidades, sua iniciativa não
recebe, como suas inúmeras
antecessoras, tratamento de
sufocação imediata, por parte
de parlamentares governistas,
e de desprezo e ridículo, por
parte dos tecnocratas ministeriosos e de Fernando Henrique
Cardoso.
O plenário do Senado lotou,
ontem, para ouvir o que Antonio Carlos já dissera. E o orador não achou necessária qualquer cautela para dizer que, se
o governo não se juntar à iniciativa, o Senado e a Câmara
farão sozinhos -ou seja, imporão- as medidas e o movimento de combate à pobreza.
Era o comandante do rolo
compressor que aprovou no
Congresso as emendas à Constituição.
A senadora Marina Silva deu
uma contribuição importante,
irrecusável pela maioria dos líderes parlamentares, para extrair uma consequência prática da oportunidade aberta ao
tema da pobreza. A comissão
especial que selecione e alie, em
90 dias, os projetos antipobreza
já existentes no Congresso pode
eliminar as competições pessoais e partidárias, na fusão
das boas sugestões.
Essa contribuição inteligente
não é vista assim no Planalto.
A iniciativa do Congresso, em
assunto tão importante, além
de implicar uma condenação
do governo, põe Fernando Henrique à mercê de opositores,
sejam circunstanciais ou permanentes. Como já condenou
a iniciativa, com o comentário
de que ""o problema não é falta
de dinheiro, é como gastar",
não pode agora aderir, ou não
pode fazê-lo sem um custo que
a sua pobreza em capital político e popular não cobre, nem de
longe.
Está criado um confronto que
não tem coluna do meio, nem a
possibilidade de dar zebra.
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