São Paulo, Sexta-feira, 06 de Agosto de 1999
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CPI DO NARCOTRÁFICO
Hildebrando Pascoal (PFL) admite ter usado sua influência para beneficiar condenados
Deputado do AC favoreceu criminosos

WILSON SILVEIRA
da Sucursal de Brasília

O deputado Hildebrando Pascoal (PFL-AC) admitiu ontem, no segundo dia do seu depoimento à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que usou sua influência para favorecer pessoas condenadas por tráfico de drogas, homicídio, assalto e contrabando.
Ex-deputado estadual e ex-coronel da Polícia Militar, Pascoal beneficiou criminosos concedendo-lhes livre trânsito em fronteiras e barreiras policiais e liberando carros e motos apreendidos pela polícia ou pelo Departamento Estadual de Trânsito.
Diversos bilhetes do deputado em favor de criminosos foram apresentados por membros da CPI do Narcotráfico, que compareceram à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que pediam para que ele confirmasse ou não a autenticidade dos papéis.
Pascoal se mostrou irritado com a insistência do deputado Robson Tuma (PFL-SP) em mostrar-lhe os bilhetes.
"Eu não preciso vê-los, eu os assinei sim", afirmou Pascoal, justificando-se: "Bandido não tem placa na testa". Pascoal foi além: "Nenhum político aqui é diferente de mim. Não se ganha eleição com sorriso".
Um dos bilhetes chegou a ser plastificado, para não ser danificado pelo uso.
Achado pela polícia em poder de Valmir Pereira Matos, condenado por contrabando e tráfico de drogas, o bilhete dizia: "Irmãos da PM, facilitem a passagem de Valmir Pereira Matos".
Outro bilhete foi encontrado em poder de Firmino dos Santos Lira, condenado em 1992 por oito crimes, entre eles homicídio e narcotráfico.
O bilhete de Pascoal, que também lhe dava livre trânsito no Acre, foi expedido dois anos depois da condenação.
Acusado de envolvimento com o narcotráfico e com o esquadrão da morte no Acre, Pascoal recusou-se terminantemente a abrir mão de sua imunidade parlamentar para que a Justiça o processe por acusações menores: desacato a autoridade, porte de arma ilegal e resistência ao cumprimento de ordem de busca e apreensão da Justiça Eleitoral.

Escopeta
Na véspera da eleição realizada no ano passado, Pascoal apontou uma escopeta calibre 12 para policiais federais que foram à sua casa cumprir mandado de busca e apreensão.
Em seu carro, na mesma ocasião, foram encontrados dois revólveres calibre 38, também ilegais, usados por dois policiais militares que trabalhavam ilegalmente em sua campanha (eram pagos pelo governo do Estado).
Embora fossem essas as acusações que provocaram o depoimento na CCJ, Pascoal foi interrogado minuciosamente sobre todas as acusações que lhe foram feitas por sete testemunhas na CPI do Narcotráfico.
Seu advogado, Eri Varella, tentou impugnar algumas perguntas dos membros da CPI, mas a CCJ rejeitou essa técnica, permitindo apenas que Pascoal se recusasse a respondê-las -o que ele não fez.
O relator do caso, Inaldo Leitão (PMDB-PB), deve dar parecer favorável à licença. Seu parecer será votado na próxima quarta-feira pela CCJ e encaminhado ao plenário da Câmara, a quem cabe a decisão final. Paralelamente, a Corregedoria da Câmara analisa pedido da CPI de cassação do mandato do deputado por quebra de decoro parlamentar.


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