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CELSO PINTO
As contas fiscais de 2000
O governo calcula que poderia
ter um ganho fiscal de R$ 7 bilhões, no próximo ano, com três
medidas que o Congresso teria
que aprovar neste semestre: mudanças no INSS (R$ 4,3 bilhões),
na aposentadoria dos militares
(R$ 1,7 bilhão) e com a regulamentação da reforma administrativa (R$ 1 bilhão).
As duas primeiras nem sequer
foram ainda apresentadas ao
Congresso. A atual fragilidade
política do governo, de todo modo, coloca fortes dúvidas sobre
sua capacidade de aprová-las.
Ao todo, contando essas medidas e outras, já aprovadas ou
em julgamento no Supremo Tribunal Federal, o cálculo do governo é que poderia haver um
ganho fiscal adicional de R$
22,7 bilhões no ano 2.000. Haveria, ainda, o impacto positivo do
crescimento esperado sobre a receita fiscal.
O governo trabalha com a hipótese de um crescimento de 4%
do PIB no próximo ano e estima
que cada ponto a mais no PIB
gere 1% a mais na receita. Mesmo descontando fatores excepcionais, que ajudaram a engordar a receita este ano, se esse
crescimento se confirmar, o adicional de receita fiscal poderia
ultrapassar R$ 5 bilhões.
O ganho fiscal adicional, portanto, poderia chegar a uns R$
27 bilhões. Parece muito, mas
não é. É bom lembrar que o
acordo com o FMI prevê um aumento do superávit primário
(receita menos despesas, exceto
juros) do setor público de 3,1%
do PIB neste ano para 3,25% no
próximo.
O governo federal teria que gerar 2,6% do PIB de superávit. Se
o PIB, em reais, tiver uma queda
de 0,6% este ano e crescer 4% no
próximo, chegará a R$ 1,1 trilhão, nos cálculos do Banco
ING. Nesta hipótese, só o superávit primário do governo central teria que chegar a R$ 28,6
bilhões.
Além disso, neste ano houve
um volume muito significativo
de receita adicional, que não se
repetirá no ano 2000. Segundo
um documento do Ministério da
Fazenda, a cobrança de atrasados do Imposto de Renda gerou
um ganho extra de R$ 2,4 bilhões e a taxação sobre ganhos
gerados pela desvalorização
cambial outros R$ 2,2 bilhões
(R$ 1,5 bilhão com "swaps" e R$
770 milhões com IR sobre remessas).
Outra receita adicional importante e que não se repetirá
foi gerada pelas concessões (ligadas à privatização). Foram
R$ 6,2 bilhões no primeiro semestre. A estimativa no acordo
com o FMI, lembra um estudo
do ING, é que ela chegue a R$
9,3 bilhões neste ano e a R$ 4 bilhões no ano 2000. A menos que
se gerem novas receitas de concessão, portanto, haveria menos
R$ 5 bilhões no próximo ano.
As previsões do governo de ganhos adicionais no próximo
ano, é bom lembrar, incluem
várias medidas que estão sub judice no STF. Se o governo perder
em questões essenciais, o ajuste
fiscal estará mortalmente comprometido.
É o caso dos ganhos com as
mudanças aprovadas na reforma da Previdência do setor público, que geraria ganhos extras
de R$ 4,2 bilhões no próximo
ano. O próprio governo admite
que pode perder parte substancial das mudanças (todo o adicional a ser cobrado dos servidores na ativa).
A CPMF, também em julgamento no Supremo, geraria R$
4,3 bilhões além do esperado,
pelo fato de a alíquota de 0,38%
vigorar até junho, porque entrou em vigor depois do esperado neste ano. O aumento de 2%
para 3% na Cofins, outra medida em exame no STF, daria R$
4,5 bilhões em 2000.
A aplicação da Cofins sobre
setores monopolistas, que o governo acabou de ganhar no Supremo, geraria R$ 1,2 bilhão no
próximo ano. Depósitos judiciais representariam um ganho
de R$ 1,5 bilhão.
A tudo isso, seria ainda necessário acrescentar um esforço de
contenção de gastos no orçamento fiscal e, quase certamente, medidas adicionais compensatórias. Vai ser impossível, por
exemplo, o governo obter os R$
4,9 bilhões previstos com a conta
petróleo este ano, apesar dos aumentos recentes (no primeiro semestre, o ganho foi de R$ 1,6 bilhão).
Enquanto as decisões do STF
não vierem e continuar incerta
a disposição do Congresso em
aprovar novas medidas fiscais,
justifica-se o enorme ceticismo
com que o mercado financeiro
está vendo a trajetória fiscal. Ceticismo que está se refletindo
numa forte pressão sobre o câmbio, que fez com que a cotação
fechasse ontem a R$ 1,84 por dólar.
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