São Paulo, sexta-feira, 06 de setembro de 2002

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CAMPO MINADO

Líder do MST sai ferido ao resistir à ação policial em assentamento

Foragido desde maio, José Rainha é preso no Pontal

Georgiane Costa/"Oeste Notícias"
José Rainha, líder do MST, sai da delegacia de Presidente Venceslau, onde fez exame de corpo de delito


JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TEODORO SAMPAIO

O líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no Pontal do Paranapanema, José Rainha Jr., foi preso na manhã de ontem no assentamento Che Guevara, em Mirante do Paranapanema (oeste de SP), por uma equipe de dois delegados e dez investigadores da Polícia Civil. Ele se feriu ao tentar fugir.
Foragido desde 23 de maio, quando a Justiça de Teodoro Sampaio decretou sua prisão, Rainha, 41, é acusado de formação de quadrilha ao promover invasões na região.
Rainha se preparava para trabalhar em um assentamento quando foi surpreendido às 6h15 de ontem pelos policiais.
O líder sem-terra tentou fugir e foi alcançado pelo delegado Donato Farias de Oliveira, que comandava as buscas.
A perseguição ocorreu ao longo de cerca de 150 metros e, na luta corporal com o delegado, Rainha machucou a perna direita e sofreu escoriações nas costas.
Segundo o delegado seccional de Presidente Venceslau, Dirceu Jesus Urdiales, a prisão de Rainha foi possível após a polícia receber "uma informação segura", na tarde de anteontem, de que ele estava no assentamento, no município de Mirante do Paranapanema (a 605 km de São Paulo).
Com mandado de busca domiciliar assinado pelo juiz de Teodoro Sampaio, Athis de Araújo Oliveira, e com aval do juiz de Mirante do Paranapanema, Cláudio Luiz Pavão, os policiais fizeram buscas, a partir das 5h de ontem em três casas no assentamento. Rainha estava na casa de uma cunhada quando foi surpreendido pela chegada dos policiais civis.
Depois de preso, Rainha foi levado pelo delegado Donato Farias de Oliveira para Presidente Venceslau, onde foi submetido a exame de lesões corporais. Na saída da delegacia seccional da Polícia Civil de Presidente Venceslau, Rainha afirmou que sua prisão "é política e uma prova do processo de criminalização do MST".
Depois dos exames, Rainha foi transferido para a cadeia de Teodoro Sampaio (a 649 km de São Paulo) e não deu entrevistas.
A cadeia tem capacidade para 48 presos, mas contava ontem com 75 detentos. O delegado não informou em qual cela e com quantos presos ele ficaria. Entre os presos, além de José Rainha, outros seis são militantes do MST.
Gilmar Mauro, um dos membros da coordenação nacional do movimento, disse que a prisão tem um caráter político.
O advogado do MST na região, Hamilton Belloto Henriques, disse que a prisão de Rainha foge à questão social da luta pela terra. "Existe o fato concreto de que o processo de criminalização do MST atingiu seu auge", afirmou.
Segundo Belloto Henriques, o processo contra José Rainha "é infundado". "E o objetivo do movimento sempre foi o de denúncia social e da necessidade da reforma agrária, ficando evidente o abuso político", disse Belloto.
A Agência Folha não conseguiu falar ontem com o juiz Athis de Araújo Oliveira.

O inquérito
José Rainha e outros quatro líderes tiveram suas prisões preventivas decretadas, em maio deste ano, em razão de um inquérito instaurado em Teodoro Sampaio, no ano de 2000, que agrupa possíveis delitos decorrentes da ação do MST no Pontal do Paranapanema.
A denúncia do Ministério Público engloba ações de invasões de prédios públicos, de propriedades rurais, danos e de denúncias de furtos por fazendeiros da região.
As denúncias foram agrupadas no processo 275/2000 com os líderes denunciados por crime de formação de quadrilha (artigo 288 do Código Penal).



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