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JANIO DE FREITAS
Um certo ato falho
O turbilhão de sonhos que
movem a cabeça de quem chega a se imaginar presidente da
República há de ser um mundo
fascinante. Não há um só que, até
o último minuto, admita a sua
impossibilidade de ser o escolhido
pela multidão de votos, por mais
as evidências o indiquem.
José Serra está isento de tais evidências, é claro. Mas o seu ato falho em Recife -"nossa meta é alcançar isso no final do nosso primeiro mandato"- cometeu mais
do que uma exposição eloquente
da sua inflação particular de sonhos. Traiu-o, mesmo.
Serra já disse que, se eleito, não
pretenderia a reeleição, propondo
trocá-la pelo mandato único de
cinco anos. Uma proposta muito
atraente para os que consideram
a reeleição à brasileira uma desastre para o país. Mas o que diz
não é o que lhe vai nos recônditos
revelados pelo ato falho, que o velho Freud recomendou levar-se
mais a sério do que os pedidos de
José Serra esquecê-lo ali mesmo.
Em tempo
Mesmo montado no governo,
como sucessor de Roseana Sarney, José Reinaldo Tavares, do
PFL, está nove pontos atrás de
Jackson Lago, do PDT, que alcançou 41% das preferências para governador do Maranhão.
José Reinaldo tem biografia rica, e não só biografia. Na história
execrável do Ministério dos
Transportes, que vem dos seus
tempos de Ministério da Viação e
Obras Públicas, o ministro José
Reinaldo Tavares deixou um dos
capítulos mais nefandos.
Pois bem, a vitória de Jackson
Lago pode ser dificultada e mesmo impedida pelo PSDB e pelo
PSB, cujos candidatos têm 5% cada um, que poderiam assegurar a
derrota de José Reinaldo já no
primeiro turno, para evitar uso
ainda maior, e talvez decisivo, do
peso do governo no segundo.
Sem medo
Ficou no ar a idéia de que Luiz
Inácio Lula da Silva elogiou o general Médici ou o seu governo ditatorial. Não houve tal elogio.
Com outras palavras mas precisamente com este sentido, Lula
disse que no governo Médici havia emprego e que os governos
militares planejavam o Brasil a
prazo longo, deixando, entre outras coisas, um sistema de comunicações muito melhorado. Disse
isso para realçar o contraste com
o governo de Fernando Henrique
Cardoso.
A criminalidade praticada em
quartéis e centros policiais sob cobertura da Presidência de Médici
é uma verdade histórica que não
apaga nem altera outras verdades históricas. E é verdade histórica que naqueles anos houve, por
decorrência de intensa atividade
econômica, grande ampliação da
oferta de empregos e melhoria salarial. Assim como é verdade que,
bem ou mal, os governos militares
quiseram planejar muita coisa a
longo prazo.
Certo esquerdismo precisa
aprender a não ter medo das verdades históricas que não lhe sejam simpáticas.
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