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DISCURSO E PRÁTICA
Petista é cobrado por trabalhadores ligados à CUT acampados em frente à Embraer; candidato diz não ter visto ato
Metalúrgicos protestam em visita de Lula
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
Enquanto visitava ontem a sede
da Embraer, de cuja privatização
foi um opositor oito anos atrás, o
presidenciável petista Luiz Inácio
Lula da Silva foi criticado por metalúrgicos ligados à Central Única
dos Trabalhadores (CUT).
"Lula, nós também somos eleitores. Cobre uma posição da Embraer sobre nós acampados", dizia uma placa perto de um barracão de lona montado na entrada
da fábrica há um mês, ocupado
por 33 pessoas em ritmo de revezamento. No momento da visita,
havia cerca de 15 pessoas.
Os trabalhadores protestam
contra a Resintec, empresa que
prestava serviços para a Embraer.
Ligados ao Sindicato dos Metalúrgicos de São José, um dos redutos da ala "radical" da CUT, eles
acusam a empresa de não depositar o saldo do FGTS. Segundo os
metalúrgicos, esse conflito é resultado direto da privatização.
Aproveitando a visita de Lula,
os trabalhadores colocaram a placa e fizeram uma gravação que era
repetida constantemente por um
alto-falante. Sem citar nomes, a fita, com fundo musical da trilha
sonora do filme "Missão Impossível", acusava presidenciáveis de
terem a "cara de pau" de visitar a
Embraer. Há algumas semanas,
José Serra (PSDB) também esteve
na fábrica de aviões.
"Como o Lula, que já foi dirigente sindical e criticou a venda
da empresa, vem visitar a diretoria e faz vista grossa às nossas reivindicações?", disse Edmir Marcolino da Silva, diretor do sindicato cutista, que tem forte influência
do PSTU, partido do presidenciável José Maria de Almeida. A ala
"moderada" da CUT, amplamente majoritária, é umbilicalmente
ligada ao PT e apóia Lula.
Em 1994, o petista atacou a venda da Embraer, mas hoje a considera modelo, principalmente por
seu papel como exportadora.
O presidenciável, que chegou e
saiu da fábrica de helicóptero, não
se deparou com a manifestação.
A assessoria da Embraer não
comentou o assunto, dizendo que
o conflito não a envolvia. A Resintec foi procurada pela Folha, mas
o único telefone que consta da lista está desligado.
O porta-voz da campanha de
Lula, André Singer, declarou que
nenhum dos integrantes da comitiva de Lula que foram à fábrica
percebeu o protesto ou viu os manifestantes, na entrada e na saída.
Na fábrica, Lula gravou cenas
para seu programa de TV, sob o
comando do marqueteiro Duda
Mendonça, que acabou "dirigindo" também a sessão de fotos para a imprensa. Ele fez Lula, com
pingente da Embraer no terno,
subir e descer escadas de um jato,
enquanto fotógrafos acionavam
suas máquinas.
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