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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DO "MENSALINHO"
Sebastião Buani, porém, foi evasivo em pontos do depoimento dado a comissão de sindicância
Empresário nega à Câmara ter pago propina a Severino
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O empresário Sebastião Augusto Buani, 54, negou ontem, em depoimento que prestou na Câmara
dos Deputados, que tenha pago
propina ao presidente da Casa,
Severino Cavalcanti (PP-PE), como forma de obter privilégios em
um contrato de exploração de um
dos restaurantes do Congresso.
"Eu não tenho dinheiro nem
para pagar minhas contas, quanto
mais para pagar propina. Eu não
paguei propina a ninguém", afirmou, após o depoimento. Foi a
primeira vez que Buani falou sobre propina.
Conforme a última edição das
revistas "Veja" e "Época", Severino teria recebido uma mesada de
R$ 10 mil de Buani, ao longo de
2003, para permitir que o empresários renovasse os contratos de
arrendamento que mantinha
com a Câmara. Buani comanda a
rede de restaurantes Fiorela
-um deles fica localizado no 10º
andar da Casa.
Apesar de negar a existência de
propina, Buani e seu advogado,
Sebastião Coelho da Silva, foram
evasivos em várias respostas e
deixaram no ar a possibilidade de
comprovação de parte das denúncias.
"Algum fato ou outro pode ser
procedente", disse o advogado.
"Vou dar meu depoimento completo, tudo o que tiver de dizer, à
Polícia Federal", afirmou Buani.
A pedido de Severino, a PF abriu
inquérito para investigar o caso.
Documento
No depoimento de ontem, Buani não negou possuir um documento assinado por Severino
concedendo a ele prorrogação do
contrato de arrendamento do restaurante do 10º -pelo qual paga
R$ 11.580 ao mês- por cinco
anos. O documento não consta
dos arquivos da Câmara e seria,
de acordo com as denúncias publicadas nas revistas, uma das evidências do suposto favorecimento a Buani em troca do pagamento de propina.
"No momento próprio, vai ser
apresentado o que eu tiver", se limitou a dizer o empresário.
Severino é suspeito de ter cobrado de Buani o "mensalinho"
quando era primeiro secretário
da Casa. Além disso, teria recebido, juntamente com o deputado
Gonzaga Patriota (PSB-PE), ainda
de acordo com as denúncias das
revistas, propina de R$ 40 mil do
empresário em 2002 também para ajudá-lo a manter o contrato do
restaurante. Patriota seria o homem de contato entre Severino e
Buani.
Severino nega todas as acusações e diz que foi vítima de uma
tentativa de extorsão por parte do
empresário. Ontem, a oposição
pediu formalmente o seu afastamento até que sejam concluídas
as investigações.
Buani prestou depoimento por
cerca de três horas a uma comissão de sindicância da Diretoria
Geral da Câmara, formada por
três assessores jurídicos.
No depoimento, distribuído aos
jornalistas, o empresário responsabiliza indiretamente pelas denúncias o ex-funcionário Izeilton
Carvalho, que era até a quinta-feira o gerente-executivo do seu restaurante na Câmara. Segundo
funcionários, Carvalho saiu do
emprego porque teria uma oferta
de emprego em Rio Verde (GO).
"Tomei conhecimento pela imprensa de que quem fez a denúncia teria feito em troca de vantagens financeiras", afirmou Buani.
De acordo com a "Época", Carvalho elaborou um dossiê com as
acusações e tentou vendê-lo à revista, que não aceitou.
Buani também negou à comissão de sindicância ter conhecimento do dossiê em que as acusações contra Severino são relatadas
-supostamente feito com base
em anotações sobre a propina feitas pelo próprio empresário. "Raramente anotava as ocorrências
havidas com empregados ou de
qualquer ordem no curso da execução do contrato com a Câmara.
As anotações se restringiam àquelas relativas a movimentação financeira, controle de cheques e
eventos", disse.
O advogado do empresário, entretanto, disse, após o depoimento, que Carvalho era funcionário
de confiança e, como tal, pode ter
usado "um ou outro manuscrito"
de Buani para elaborar o relato.
"Ele [Buani] fez as anotações rotineiras de trabalho, mas não fez
nenhum dossiê", afirmou.
Fim do contrato
Durante o depoimento, o empresário recebeu uma notificação
da diretoria da Câmara informando a intenção de rompimento
unilateral do contrato de exploração do restaurante, que vence no
dia 14.
Buani diz dever à Câmara R$
105 mil, mas afirma possuir um
crédito de aproximadamente R$
30 mil por eventos que teria realizado. Ele tem cinco dias para contestar a intenção da Câmara.
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