São Paulo, terça-feira, 06 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DO "MENSALINHO"

Sebastião Buani, porém, foi evasivo em pontos do depoimento dado a comissão de sindicância

Empresário nega à Câmara ter pago propina a Severino

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O empresário Sebastião Augusto Buani, 54, negou ontem, em depoimento que prestou na Câmara dos Deputados, que tenha pago propina ao presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE), como forma de obter privilégios em um contrato de exploração de um dos restaurantes do Congresso.
"Eu não tenho dinheiro nem para pagar minhas contas, quanto mais para pagar propina. Eu não paguei propina a ninguém", afirmou, após o depoimento. Foi a primeira vez que Buani falou sobre propina.
Conforme a última edição das revistas "Veja" e "Época", Severino teria recebido uma mesada de R$ 10 mil de Buani, ao longo de 2003, para permitir que o empresários renovasse os contratos de arrendamento que mantinha com a Câmara. Buani comanda a rede de restaurantes Fiorela -um deles fica localizado no 10º andar da Casa.
Apesar de negar a existência de propina, Buani e seu advogado, Sebastião Coelho da Silva, foram evasivos em várias respostas e deixaram no ar a possibilidade de comprovação de parte das denúncias.
"Algum fato ou outro pode ser procedente", disse o advogado. "Vou dar meu depoimento completo, tudo o que tiver de dizer, à Polícia Federal", afirmou Buani. A pedido de Severino, a PF abriu inquérito para investigar o caso.

Documento
No depoimento de ontem, Buani não negou possuir um documento assinado por Severino concedendo a ele prorrogação do contrato de arrendamento do restaurante do 10º -pelo qual paga R$ 11.580 ao mês- por cinco anos. O documento não consta dos arquivos da Câmara e seria, de acordo com as denúncias publicadas nas revistas, uma das evidências do suposto favorecimento a Buani em troca do pagamento de propina.
"No momento próprio, vai ser apresentado o que eu tiver", se limitou a dizer o empresário.
Severino é suspeito de ter cobrado de Buani o "mensalinho" quando era primeiro secretário da Casa. Além disso, teria recebido, juntamente com o deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE), ainda de acordo com as denúncias das revistas, propina de R$ 40 mil do empresário em 2002 também para ajudá-lo a manter o contrato do restaurante. Patriota seria o homem de contato entre Severino e Buani.
Severino nega todas as acusações e diz que foi vítima de uma tentativa de extorsão por parte do empresário. Ontem, a oposição pediu formalmente o seu afastamento até que sejam concluídas as investigações.
Buani prestou depoimento por cerca de três horas a uma comissão de sindicância da Diretoria Geral da Câmara, formada por três assessores jurídicos.
No depoimento, distribuído aos jornalistas, o empresário responsabiliza indiretamente pelas denúncias o ex-funcionário Izeilton Carvalho, que era até a quinta-feira o gerente-executivo do seu restaurante na Câmara. Segundo funcionários, Carvalho saiu do emprego porque teria uma oferta de emprego em Rio Verde (GO).
"Tomei conhecimento pela imprensa de que quem fez a denúncia teria feito em troca de vantagens financeiras", afirmou Buani. De acordo com a "Época", Carvalho elaborou um dossiê com as acusações e tentou vendê-lo à revista, que não aceitou.
Buani também negou à comissão de sindicância ter conhecimento do dossiê em que as acusações contra Severino são relatadas -supostamente feito com base em anotações sobre a propina feitas pelo próprio empresário. "Raramente anotava as ocorrências havidas com empregados ou de qualquer ordem no curso da execução do contrato com a Câmara. As anotações se restringiam àquelas relativas a movimentação financeira, controle de cheques e eventos", disse.
O advogado do empresário, entretanto, disse, após o depoimento, que Carvalho era funcionário de confiança e, como tal, pode ter usado "um ou outro manuscrito" de Buani para elaborar o relato. "Ele [Buani] fez as anotações rotineiras de trabalho, mas não fez nenhum dossiê", afirmou.

Fim do contrato
Durante o depoimento, o empresário recebeu uma notificação da diretoria da Câmara informando a intenção de rompimento unilateral do contrato de exploração do restaurante, que vence no dia 14.
Buani diz dever à Câmara R$ 105 mil, mas afirma possuir um crédito de aproximadamente R$ 30 mil por eventos que teria realizado. Ele tem cinco dias para contestar a intenção da Câmara.


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