São Paulo, terça-feira, 06 de setembro de 2005

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Tropeço, mas não roubo, diz Severino

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), voltou ontem a negar as acusações de que receberia propina e avisou que não irá se afastar do cargo. Para seus aliados, ele está sendo vítima de uma conspiração das elites.
Ao se defender, Severino chegou a evocar sua oratória, que já causou polêmica diversas vezes. "Posso tropeçar nas palavras, mas jamais irão encontrar nada que desonre o meu mandato ou atos corruptos que manchem a minha biografia de quase 40 anos de vida pública", afirmou, em nota que divulgou à tarde, a terceira desde a última sexta-feira.
O líder do PP na Câmara, José Janene (PR), disse que "querem satanizar Severino" em razão de sua "origem humilde". "Há uma orquestração por parte das elites que sempre dominaram essa Casa", afirmou.
Insistindo na sua história pessoal, Severino declarou que levou para a Câmara sua "austeridade" na vida familiar. "A mesma austeridade que marca a minha vida em família e de homem público levei como uma obsessão a seguir em todos os cargos que ocupei."
O presidente da Câmara, na nota de duas páginas divulgada por sua assessoria, não disse explicitamente que rejeita a hipótese de se afastar da presidência. Ele afirma apenas que não pode "ser colocado à execração pública com acusações sórdidas, irresponsáveis e sem provas".
O recado de que fica na presidência foi dado por Severino ao líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA). Eles conversaram por telefone no começo da tarde, quando o pefelista falou da carta da oposição pedindo seu afastamento do posto. Aleluia disse então que iria à residência oficial da Câmara às 15h para entregar o documento. Segundo o pefelista, Severino se dispôs a recebê-lo, mas, dez minutos depois, mudou de idéia. Avisou que tinha uma consulta médica marcada para as 15h. A carta da oposição acabou sendo protocolada no gabinete da presidência.
Severino voltou a negar que tenha recebido R$ 10 mil mensais do empresário Sebastião Buani, em 2003. "Nesse período [2003] eu já não era primeiro-secretário e não detinha qualquer poder sobre os contratos da Casa, o que denota a má-fé das aleivosias do sr. Buani", declarou.
Ele também negou que tenha assinado documento concedendo a exploração do restaurante da Câmara por cinco anos.
"O sr. Buani, que explora os restaurantes na Câmara e no Senado há mais de 15 anos, está cansado de saber que os contratos da Casa são renovados anualmente e que o mandato dos membros da Mesa é de apenas dois anos. Como poderia eu ou qualquer outra pessoa assegurar-lhe cinco anos de concessão, sem licitação?"
O presidente da Câmara ironizou o fato de a acusação ser de recebimento em parcelas mensais. "Uma das mais torpes acusações, sem provas, diz que minhas secretárias recebiam, mensalmente, envelope lacrado contendo numerário a mim destinado. Elas cumprem ordem de abrir toda e qualquer correspondência ou envelope que me tem como destinatário. E jamais encontraram dinheiro", disse. (FÁBIO ZANINI E KENNEDY ALENCAR)

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