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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DO "MENSALINHO"
Após reunião esvaziada, partidos decidem não dar ultimato ao presidente da Câmara
Oposição pede que Severino deixe o cargo, mas ele recusa
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Quatro partidos de oposição
-PFL, PSDB, PPS e PV- enviaram ontem uma carta ao presidente da Câmara dos Deputados,
Severino Cavalcanti (PP-PE), pedindo que ele se afaste do cargo
durante as investigações sobre o
suposto recebimento de uma mesada de R$ 10 mil do concessionário de um restaurante da Casa.
Severino respondeu imediatamente: não vai se afastar. Contrariado com a articulação para tirá-lo da presidência, recusou-se a receber uma comissão que iria entregar a carta em sua residência.
O afastamento de Severino do
cargo seria uma saída política,
pois o Regimento não prevê essa
possibilidade. O presidente da
Câmara pode se afastar por motivos pessoais, mas sem renunciar:
assumiria, nesse caso, o 1º vice, José Thomaz Nonô (PFL-AL). Se
Severino renunciar ou for cassado, Nonô assume por apenas cinco sessões e nova eleição é realizada para preencher o cargo.
Rachadas quanto ao que fazer,
as quatro legendas desistiram de
dar um ultimato. Disseram que
vão analisar as evidências para só
então decidir se farão uma representação junto ao Conselho de
Ética, sem especificar prazo. Essa
representação é que pode determinar a abertura de processo para
cassar o mandato do deputado.
A reunião da oposição ocorreu
antes do depoimento de Sebastião
Buani na Comissão de Sindicância da Câmara aberta para investigar a denúncia envolvendo Severino Cavalcanti. Buani, dono da
concessão de serviços de restaurantes da Casa, negou ter pago
propina de R$ 10 mil mensais para ter sua concessão renovada.
Reunião esvaziada
A carta da oposição foi resultado de uma esvaziada reunião no
início da tarde, com apenas 13 deputados. Entre eles, o líder do
PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), da minoria, José Carlos
Aleluia (PFL-BA), o vice-líder do
PPS, Raul Jungmann (PE), e o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ). Esperava-se a presença de representantes do PDT, do PSOL,
do PMDB e do PT, partido que
tem dado sustentação política a
Severino em razão de sua aproximação com o Palácio do Planalto.
As ausências foram justificadas
pelo horário marcado para a reunião, meio-dia de uma segunda-feira, numa semana "morta" por
causa do feriado de amanhã. "A
Câmara dos Deputados atravessa,
hoje, um dos momentos mais difíceis de sua história. A opinião
pública tem, como sabemos, motivos de sobra para estar descontente", diz a carta das oposições.
O clima político contra Severino
já vinha pesado desde o início da
semana passada, quando o presidente da Câmara defendeu, em
entrevista à Folha, penas brandas
para deputados flagrados usando
recursos de caixa dois. A denúncia de que ele recebia R$ 10 mil do
empresário Sebastião Buani, negada com veemência por Severino, precipitou o pedido de afastamento. O argumento é o de que
Severino presidirá sobre os processos de cassação contra deputados acusados de envolvimento no
escândalo do "mensalão".
"A nenhum magistrado é dado
comandar um procedimento no
qual possui interesse direto. Solicitamos a V. Exa. que se afaste da
Presidência da Câmara até que as
denúncias trazidas a público durante o fim de semana sejam apuradas com rigor e isenção", diz a
carta, que acabou sendo protocolada no gabinete de Severino pelos deputados após um chá de cadeira de 15 minutos.
Após a notícia de que Buani havia negado a propina, os líderes
oposicionistas procuraram aparentar tranqüilidade. "Ele está
sendo contraditório com o que
disse no final de semana, quando
deu a entender que pagou propina. A única saída é investigar",
disse Goldman. "Estamos investigando e vamos desarmar mais essa pizza", afirmou Gabeira.
Tentando evitar a aparência de
esvaziamento do movimento, os
articuladores do documento afirmaram que já receberam adesões
de outros partidos. "O PDT, a esquerda do PT e o PSOL já estão
nos apoiando", disse Gabeira. "O
PSB e o PC do B podem se juntar a
nós", declarou Jungmann. "Já falei com muitos peemedebistas",
disse Ronaldo Caiado (PFL-GO).
Mas o racha na oposição ficou
evidente. Enquanto PPS e PV disseram já ter tomado a decisão política de representar contra Severino no Conselho de Ética, tucanos e pefelistas preferiram a cautela. "A decisão de entrar com
ação contra Severino tem de ser a
mais correta e bem fundamentada possível", afirmou Aleluia.
O PT criticou a iniciativa das
oposições. "Pedir para alguém se
afastar é estranho. Afastamento é
uma decisão pessoal", afirmou o
deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), vice-líder do governo.
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