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Para Lula, quem acreditou que crise afetaria economia, "caiu do cavalo"
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Obrigado a incluir a crise até na
pauta da abertura da 39ª Convenção Nacional de Supermercados,
em São Paulo, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva recorreu aos
números da economia para minimizar o difícil momento político.
Embora tenha lembrado que o
Banco Central é autônomo -até
por reivindicação dos empresários-, Lula chegou a acenar com
a redução de taxa de juros do país.
"Obviamente que nós entendemos que os juros agora têm que
entrar numa rota, eu acho que diferentemente da que fez agora,
porque a inflação me parece que
está definitivamente controlada",
disse, apesar de reafirmar que não
tem poder para redução de juros.
Dois dias antes do "Grito dos
Excluídos" -protesto convocado para o Sete de Setembro-,
Lula fez questão de frisar que não
teme manifestações.
"Ninguém cobrou mais no Brasil do que eu, por isso eu nunca reclamarei quando alguém me cobrar. Olha, passeata contra o governo, qualquer manifestação,
como eu já fiz todas que eu tinha
direito, aceito que façam todas
contra mim também, sem ficar de
cara feia", afirmou.
Mas ressaltou: "Agora, não podem deixar de reconhecer que o
Brasil vive um momento excepcional na sua economia... Com todo esse conflito político, se alguém achou que poderia fazer
conflito político, criar conflito político, exagerar mais ou menos,
achando que iria acertar a economia e que o país iria sair do trilho,
caiu do cavalo", declarou.
O presidente afirmou que a crise "pode prejudicar um político,
dois políticos, 30 políticos", mas
que não vai permitir "que o nosso
querido Brasil e, sobretudo, o povo mais pobre, sofra qualquer retrocesso com mudanças na política econômica".
O presidente disse que não cederá a tentações para preservar a
popularidade. "Não pensem que
as pressões que nós sofremos diariamente não são muitas, infinitas. Pessoas que acham: "Presidente, tem que aproveitar este
momento em que a situação está
difícil politicamente e fazer alguma coisa para agradar o mundo'",
contou Lula, usando o salário mínimo como exemplo.
Excluído da versão original de
seu discurso, o tema foi praticamente imposto pelo anfitrião, o
presidente da Abras (Associação
Brasileira de Supermercados), José Carlos de Oliveira. Ele cobrou a
conclusão da reforma tributária,
queixou-se do peso dos impostos
na economia e lamentou o momento político. Representando o
governador Geraldo Alckmin, o
vice, Cláudio Lembo, citou a redução do ICMS do trigo como um
medida que leva "a pizza real" à
mesa do consumidor. E disse torcer para que a "pizza emblemática" acabe no Brasil.
Em resposta, Lula listou os bons
números da economia e comparou os pessimistas aos torcedores
que reclamaram do placar de Brasil e Chile (5 a 0), por apostar que
os quatro gols do primeiro tempo
garantiriam um resultado melhor
ao final do jogo. "O que mais nós
queremos?", perguntou.
Quanto à reforma tributária, ele
responsabilizou os governadores
pela paralisia. "Se dependesse da
vontade apenas do governo federal, ela [a reforma] tinha sido votada já no ano passado", disse, sugerindo que as associações procurassem deputados e governadores
"porque ainda tem governador
que acha que o seu Estado vai
crescer fazendo a guerra fiscal".
"Turbulência política"
Em seu programa de rádio, que
a partir de agora passa a ser semanal, Lula comemorou ontem os
recentes resultados do PIB (Produto Interno Bruto) e da campanha nacional do desarmamento.
Segundo Lula, apesar da "turbulência política", o momento da
economia é "muito bom", tendo
crescido 1,4% no segundo trimestre na comparação com os três
primeiros meses deste ano.
"Apesar da turbulência política,
a sociedade brasileira compreende que a economia precisa dar
certo porque, dando certo a economia, vai dar mais certo ainda a
vida dos 186 milhões de brasileiros." Lula também falou da queda
no número de pessoas mortas
com armas de fogo com a campanha nacional do desarmamento.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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