São Paulo, terça-feira, 06 de setembro de 2005

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Para Lula, quem acreditou que crise afetaria economia, "caiu do cavalo"

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Obrigado a incluir a crise até na pauta da abertura da 39ª Convenção Nacional de Supermercados, em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorreu aos números da economia para minimizar o difícil momento político. Embora tenha lembrado que o Banco Central é autônomo -até por reivindicação dos empresários-, Lula chegou a acenar com a redução de taxa de juros do país. "Obviamente que nós entendemos que os juros agora têm que entrar numa rota, eu acho que diferentemente da que fez agora, porque a inflação me parece que está definitivamente controlada", disse, apesar de reafirmar que não tem poder para redução de juros.
Dois dias antes do "Grito dos Excluídos" -protesto convocado para o Sete de Setembro-, Lula fez questão de frisar que não teme manifestações.
"Ninguém cobrou mais no Brasil do que eu, por isso eu nunca reclamarei quando alguém me cobrar. Olha, passeata contra o governo, qualquer manifestação, como eu já fiz todas que eu tinha direito, aceito que façam todas contra mim também, sem ficar de cara feia", afirmou.
Mas ressaltou: "Agora, não podem deixar de reconhecer que o Brasil vive um momento excepcional na sua economia... Com todo esse conflito político, se alguém achou que poderia fazer conflito político, criar conflito político, exagerar mais ou menos, achando que iria acertar a economia e que o país iria sair do trilho, caiu do cavalo", declarou.
O presidente afirmou que a crise "pode prejudicar um político, dois políticos, 30 políticos", mas que não vai permitir "que o nosso querido Brasil e, sobretudo, o povo mais pobre, sofra qualquer retrocesso com mudanças na política econômica".
O presidente disse que não cederá a tentações para preservar a popularidade. "Não pensem que as pressões que nós sofremos diariamente não são muitas, infinitas. Pessoas que acham: "Presidente, tem que aproveitar este momento em que a situação está difícil politicamente e fazer alguma coisa para agradar o mundo'", contou Lula, usando o salário mínimo como exemplo.
Excluído da versão original de seu discurso, o tema foi praticamente imposto pelo anfitrião, o presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), José Carlos de Oliveira. Ele cobrou a conclusão da reforma tributária, queixou-se do peso dos impostos na economia e lamentou o momento político. Representando o governador Geraldo Alckmin, o vice, Cláudio Lembo, citou a redução do ICMS do trigo como um medida que leva "a pizza real" à mesa do consumidor. E disse torcer para que a "pizza emblemática" acabe no Brasil.
Em resposta, Lula listou os bons números da economia e comparou os pessimistas aos torcedores que reclamaram do placar de Brasil e Chile (5 a 0), por apostar que os quatro gols do primeiro tempo garantiriam um resultado melhor ao final do jogo. "O que mais nós queremos?", perguntou.
Quanto à reforma tributária, ele responsabilizou os governadores pela paralisia. "Se dependesse da vontade apenas do governo federal, ela [a reforma] tinha sido votada já no ano passado", disse, sugerindo que as associações procurassem deputados e governadores "porque ainda tem governador que acha que o seu Estado vai crescer fazendo a guerra fiscal".

"Turbulência política"
Em seu programa de rádio, que a partir de agora passa a ser semanal, Lula comemorou ontem os recentes resultados do PIB (Produto Interno Bruto) e da campanha nacional do desarmamento.
Segundo Lula, apesar da "turbulência política", o momento da economia é "muito bom", tendo crescido 1,4% no segundo trimestre na comparação com os três primeiros meses deste ano.
"Apesar da turbulência política, a sociedade brasileira compreende que a economia precisa dar certo porque, dando certo a economia, vai dar mais certo ainda a vida dos 186 milhões de brasileiros." Lula também falou da queda no número de pessoas mortas com armas de fogo com a campanha nacional do desarmamento.


Colaborou a Sucursal de Brasília

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