|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CONEXÃO RIBEIRÃO
Quebra de sigilo revela quatro ligações de celulares do advogado, então vice-presidente da Leão Leão, para os do então prefeito, em 2002
CPI identifica ligações de Buratti a Palocci
RUBENS VALENTE
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A quebra do sigilo dos telefones
celulares do advogado Rogério
Buratti no ano de 2002, em poder
da CPI dos Bingos, revelou pelo
menos quatro ligações do advogado para telefones celulares do
ministro da Fazenda, Antonio Palocci, então prefeito de Ribeirão
Preto (SP), e outras dez para o então secretário municipal de Fazenda de Ribeirão, Ralf Barquete.
Na época das ligações, Buratti
ocupava uma das quatro vice-presidências do Grupo Leão Leão.
Buratti havia deixado, "a pedido",
o cargo de secretário de Governo
da primeira gestão de Palocci, em
1994, sob suspeita de manipular
licitações de obras.
A empresa foi escolhida em licitação para o serviço de coleta de
lixo hospitalar e limpeza urbana
na segunda gestão de Palocci,
quando assinou contratos de pelo
menos R$ 46 milhões em 2002.
De acordo com denúncia de Buratti, a Leão Leão, além de contribuinte oficial da campanha de Palocci, também pagava R$ 50 mil
mensais de caixa dois a Palocci,
que depois encaminhava o dinheiro para o ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares.
Rogério Buratti disse à CPI dos
Bingos e ao Ministério Público de
Ribeirão que os pagamentos eram
feitos ao então secretário Ralf Barquete, que se encarregava de enviar o dinheiro ao PT. Barquete
morreu de câncer em 2004.
Segundo os dados do sigilo telefônico, aos quais a Folha teve
acesso, Buratti ligou para dois celulares usados por Palocci nos
dias 26 de abril, 21 de maio, 3 de
julho e 16 de agosto de 2002.
Esta última ligação, quando Antonio Palocci já estava licenciado
do cargo de prefeito e exercia a
função de coordenador da campanha presidencial de Luiz Inácio
Lula da Silva, ocorreu aos 35 minutos da madrugada. Ao todo, o
tempo das ligações foi de 5 minutos e 24 segundos.
Das dez ligações do celular de
Buratti para o celular de Ralf Barquete, cinco ocorreram em fevereiro de 2002, mesmo mês em que
a Leão Leão assinou o contrato de
R$ 41 milhões com a gestão de Palocci para a coleta de lixo hospitalar no município. O edital do contrato é datado do dia 6 daquele
mês. Os telefonemas ocorreram
nos dias 2, 3, 4, 17 e 18 de fevereiro.
Ao todo, as dez ligações somaram cerca de 17 minutos.
Buratti fez outras seis ligações
do seu celular para o aparelho de
Ralf Barquete nos dois primeiros
meses de 2003. No primeiro ano
da gestão de Lula, Barquete passou a exercer o cargo de consultor
da presidência da Caixa Econômica Federal (CEF).
Outro lado
A assessoria de comunicação do
ministro Antonio Palocci, procurada ontem, não respondeu a um
pedido de esclarecimentos a respeito dos telefonemas. A reportagem indicou as datas das ligações
e indagou qual o objetivo dessas
conversas.
No último dia 12, o Ministério
da Fazenda divulgou uma nota
para comentar telefonemas detectados pela CPI dos Bingos nos
anos de 2003 e 2004 - os dados
de anos anteriores ainda não haviam sido cruzados.
Segundo a nota, "os contatos
com o senhor Rogério Tadeu Buratti foram, nos últimos anos,
apenas sociais e eventuais. Esporádicos". Sobre "dois ou três telefonemas" para a casa do ministro
da Fazenda em Brasília, a assessoria afirmou que "esses eventuais
telefonemas foram provavelmente tentativas de contato que não
prosperaram".
Em entrevista coletiva concedida logo após as denúncias de Rogério Buratti, Palocci afirmou que
ninguém da prefeitura recebeu
R$ 50 mil mensais da empresa
Leão Leão para serem revertidos
ao PT entre 2001 e 2002.
Colaborou ROGÉRIO PAGNAN, da Folha Ribeirão
Texto Anterior: Operação salvamento: Dirceu vai até Juiz de Fora para ver Itamar Próximo Texto: Para Lula, quem acreditou que crise afetaria economia, "caiu do cavalo" Índice
|