São Paulo, terça-feira, 06 de setembro de 2005

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INVESTIGAÇÃO

Ex-prefeito reconhece conversa com filho como verdadeira, mas diz que não se referia à testemunha em processo contra ele

Maluf quis intimidar doleiro, mostra grampo

Rogério Cassimiro/Folha Imagem
O ex-prefeito paulistano Paulo Maluf concede entrevista em seu escritório na avenida Europa


LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

As conversas telefônicas entre o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf e o filho Flávio, interceptadas pela Polícia Federal, revelam uma tentativa de impedir o depoimento do doleiro Vivaldo Alves, conhecido como Birigüi, ao Ministério Público Federal.
O grampo registra pelo menos três diálogos e um encontro entre Flávio e Birigüi, apontado pela polícia como o operador da família Maluf no exterior.
Foi com base nessas conversas, gravadas entre 14 de junho e 20 de julho deste ano, que a PF pediu a prisão preventiva de pai e filho. Disse que os dois tentaram intimidar uma testemunha.
O depoimento do doleiro, que foi o tema de diversas conversas gravadas, ocorreu em 23 de junho. À Procuradoria e à PF Birigüi disse que, em 1998, por ordem de Flávio, transferiu US$ 5 milhões para o publicitário Duda Mendonça em uma conta no Citibank de Nova York.
Afirmou ainda que, a pedido de Flávio, operou três contas no exterior (Chanani, Ugly River e Madison Hill Ventures) e abriu uma quarta para Duda, a Eleven. Duda cuidou da campanha de Maluf ao governo do Estado naquele ano.
Ontem, Maluf confirmou que seu filho realmente reuniu-se com Birigüi, duas vezes, uma no Edifício Itália, outra num escritório na alameda Santos. Disse que isso ocorreu porque eles estavam sendo vítimas de uma tentativa de extorsão -tentativa esta que o ex-prefeito comunicou à Justiça Federal no dia 27 de julho, cerca de um mês depois do depoimento do doleiro. O ex-prefeito disse desconhecer Birigüi e as contas citadas por ele à Polícia Federal.
Complica a situação de Maluf, no entanto, o fato das remessas citadas pelo doleiro serem iguais às que foram denunciadas por uma testemunha, ouvida em 2003 pela Promotoria, no caso de desvio de dinheiro em obras públicas.
Os valores são idênticos ainda aos extratos bancários colhidos pelo Ministério Público, entre 12 a 15 de março, em Nova York, entregues pelo promotor distrital Adam Kaufmann. Os números batem inclusive em centavos.
A testemunha é Simeão Damasceno, que, na gestão de Maluf (1993-96), trabalhou para a construtora Mendes Júnior em obras investigadas pela Promotoria por eventual superfaturamento.
Um dos encontros entre Flávio e Birigüi foi filmado pela PF. Cinco minutos depois de deixar o local, Flávio ligou para o pai e disse que "a chance é 60 a 40". Depois, um dia antes do depoimento, Flávio voltou a telefonar para Birigüi, a quem chamou de "amigo", e pediu a que ele não se esquecesse da conversa que tiveram.
Num outro diálogo, pai e filho falaram de um "velhinho de Minas Gerais", que foi presidente do tribunal, como uma das possíveis pessoas que poderiam ajudá-los.

Ministro
Ontem, Maluf disse que o grampo é "nojento" pois registra conversas com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
"Há duas ou três conversas gravadas com o ministro Márcio Thomaz Bastos. Isso é indigno", disse Maluf. "É nojento, inadequado e ilegal expor minhas conversas com Márcio Thomaz Bastos. Ele é meu amigo."
A PF registrou dois recados deixados pelo ex-prefeito na caixa postal do celular do ministro, no dia 21 de junho (um às 8h42, outro às 19h19). Nas mensagens, Maluf disse ter urgência em falar com ele. A assessoria de Thomaz Bastos informou ontem que "em nenhum momento o sr. Paulo Maluf teve qualquer conversa ou fez qualquer solicitação a respeito de inquérito da Polícia Federal".
Segundo a assessoria, a orientação do ministro é que toda investigação "prossiga sem proteger nem perseguir ninguém". Assessores de Thomaz Bastos comentaram ainda que o pedido de prisão de Maluf, solicitado pela PF, mostra que não houve interferência política no inquérito.
Sobre o teor dos diálogos gravados, Maluf disse que são verdadeiros, mas que não se referem ao doleiro ou ao processo que tramita contra ele na 2ª Vara Federal.
O ex-prefeito criticou o delegado Protógenes Queiroz, que indiciou Maluf e o filho sob acusação de lavagem de dinheiro. "Quem deveria ser indiciado era o doleiro. Ele é réu confesso."
O ex-prefeito anunciou anteontem que deve deixar o PP, envolvido no escândalo do "mensalão". O seu destino pode ser o PTB do deputado Roberto Jefferson, que denunciou o suposto esquema.


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