São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2008

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Servidores da Abin dizem que Lacerda é vítima de complô

"O grampo é privado; essa conta de arapongagem não é nossa", afirma Nery Kluwe de Aguiar Filho, que representa os agentes

Ele diz que "os interessados" em espionar Gilmar Mendes são aqueles que desafiaram a autoridade jurisdicional na Operação Satiagraha da PF

CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A denúncia do suposto grampo contra o presidente do STF, Gilmar Mendes é resultado de um complô contra o delegado Paulo Lacerda. Essa é a opinião do presidente da Asbin (Associação de Servidores da Abin), Nery Kluwe de Aguiar Filho, que representa os agentes secretos: "Estamos vivendo um complô contra um alvo determinado que é o dr. Lacerda". Kluwe nega a participação de colegas no grampo. Para ele, "o grampo é privado": "Essa conta de arapongagem não é nossa!" Segundo ele, "os interessados" em espionar Mendes "são os mesmos que desafiaram a autoridade jurisdicional no âmbito da Satiagraha". Ele faz duras críticas ao uso que o GSI faz da Abin: "Quando reúnem-se três sindicalistas e dois líderes do MST para iniciar uma marcha, o GSI aciona a Abin".

 

FOLHA - A Abin é a principal suspeita do grampo. Qual é sua opinião?
NERY KLUWE DE AGUIAR FILHO
- Estamos vivendo um complô contra um alvo determinado, o dr. Paulo Lacerda, que quando dirigiu a polícia prendeu mais de 6.000 pessoas, principalmente criminosos de colarinho branco. Com ele a Abin iniciou um processo de estruturação.

FOLHA - Quem está por trás disso?
KLUWE
- Os interessados são os mesmos que desafiaram a autoridade jurisdicional no âmbito da Operação Satiagraha. A minha convicção hoje é de que esse grampo é privado ou clandestino. O grampo legal da Satiagraha encerrou-se e foi relatado muito antes da data desse grampo. Não há a mínima condição de ter sido oficial.

FOLHA - E a origem do grampo?
KLUWE
- Esses sistemas são auditáveis. Se foi por empresas telefônicas, é fácil saber. Se foi pelo sistema da PF, o Guardião, também. Mas se for maleta fica difícil. O Lacerda sempre disse para fazermos o que a lei nos permite. Essa questão das interceptações virou um descontrole total. Na PF virou moda valer-se do grampo para constituir prova, está perdendo sua capacidade investigativa. É preciso ressaltar que, no caso da Abin, qualquer ação deve ser autorizada e registrada. Quando saímos para conversar com uma fonte, temos que fazer relatório disso. Hoje, 80% da produção de informação da Abin provém de fontes humanas.

FOLHA - Como vocês receberam as críticas do ministro Nelson Jobim?
KLUWE
- Ficamos estupefatos. Nós temos convicção de que essa prática não pode ser atribuída a nós. Há uma resistência no meio militar em relação à Abin. Eles tem hegemonia na área de informação interna. Para nós, de que valeria ouvir o ministro do Supremo? Nada. O clima aqui dentro é de indignação, mas de tranqüilidade porque essa arapongagem é própria de órgãos de regimes de exceção, não é da nossa alçada.

FOLHA - A Abin é mal utilizada?
KLUWE
- A Abin tem que aprender a lição e sair da atividade de inteligência interna, que é a demanda principal do GSI. Quando reúnem-se três sindicalistas, dois líderes do MST para iniciar uma marcha, o GSI aciona a Abin para acompanhar isso. O GSI tem essa demanda de segurança interna, de segurança pública, de defesa, ambiental e militar. Os serviços modernos atuam na inteligência externa, na contra-inteligência, na proteção das autoridades e no contra-terrorismo. A solução é nos libertar dessas demandinhas internas. Só com a inteligência externa, ninguém poderá nos culpar. Não há mudança porque o pessoal do SNI ainda está na direção. Por isso 70% de nossas atividades são internas. Somos obrigados até a procurar boi no pasto e a vigiar invasão de estudante em reitoria.


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