São Paulo, segunda, 6 de outubro de 1997.



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Fala não atinge só o Brasil, diz porta-voz

JOÃO BATISTA NATALI
enviado especial ao Rio

O porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, disse ontem considerar improcedente a afirmação de que o papa "interferiu" em temas da agenda política brasileira, ao insistir reiteradamente em sua oposição contra o aborto.
Em primeiro lugar, disse o porta-voz, João Paulo 2º retomou literalmente as posições doutrinárias da igreja, conforme elas foram expressas pelos documentos finais do Concílio Vaticano 2º (anos 60).
Em seguida, acrescentou, em se tratando do 2º Encontro Mundial do Papa com as Famílias, ele se opôs ao aborto em qualquer lugar do mundo, sem preocupação exclusiva com o Brasil.
A terceira visita de João Paulo 2º ao Brasil coincidiu com a tramitação no Congresso de projeto que regulamenta o aborto na rede pública de saúde nos casos de estupro ou risco de vida para a mãe.
Em seu discurso no Maracanã, no sábado, o papa classificou o aborto de "abominável" e de "vergonha para a humanidade".
A Folha indagou a Navarro-Valls por que o papa mencionou as desigualdades sociais no Brasil, mas não abriu em sua agenda espaço para receber grupos de dentro da igreja -como a Comissão Pastoral da Terra- que se dedicam precisamente a essas questões.
Ele respondeu que o papa "confia o bastante" nessas pastorais para precisar orientá-las. Acredita no trabalho que desenvolvem e na eficácia das diretrizes que os bispos brasileiros lhes transmitem.
O porta-voz disse que a ênfase de João Paulo 2º nos problemas da família toma por base o aumento do consumo de drogas, a criminalidade infanto-juvenil e até o suicídio entre os mais jovens.
"Os governos tendem a considerar que se trata de um problema social. Mas o que está em jogo é a crise da família, que precisa ser reforçada em seus valores para que as coisas tomem novos rumos", afirmou o porta-voz.
No seu discurso no Maracanã, João Paulo 2º conclamou "os que trabalham na edificação de uma nova sociedade" a defender as famílias, "protegê-las com leis justas que combatam a miséria e o açoite do desemprego".



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