São Paulo, quinta, 6 de novembro de 1997.




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INVESTIGAÇÃO
Empresa é suspeita de 'esquentar' dinheiro de campanhas
Justiça quebra sigilo do Grupo Monte Cristo

LUIS HENRIQUE AMARAL
da Reportagem Local

O juiz Cassem Mazloun, da 1ª Vara Criminal da Justiça Federal em São Paulo, determinou ontem a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico do empresário Samir Assad e de suas empresas, reunidas no Grupo Monte Cristo.
O pedido de quebra de sigilo foi encaminhado anteontem ao juiz pelo procurador da República Ângelo Roberto Ilha da Silva, que atua no caso. O procurador endossou solicitação de quebra de sigilo feito pela Polícia Federal.
A PF investiga a possibilidade de o Monte Cristo ter emitido R$ 18 milhões em notas fiscais falsas para grandes empresas justificarem doações irregulares para campanhas eleitorais em São Paulo.
A investigação da PF começou quando ela encontrou notas fiscais falsas no valor de alguns milhões de reais na sede a Izar Artes Gráficas, que fica na Vila Mariana (zona sul da cidade).
Segundo depoimento à PF do dono da gráfica, Celso Ishiy, ele produziu as notas falsas por encomenda do Grupo Monte Cristo.
As notas frias do Monte Cristo saíam em nome de empresas como a construtora OAS e a Vega Sopave, que atua no setor de limpeza urbana, e a agência de publicidade Propeg. As duas primeiras prestam serviço para a Prefeitura de São Paulo.
A PF vê muitas semelhanças entre o caso Monte Cristo e operações feitas pela Paubrasil nas campanhas de Paulo Maluf em 90 e 92. A Paubrasil usava notas falsas relativas a serviços que não foram efetivamente prestados para dar aspecto legal a doações de empresas para essas campanhas.
Segundo depoimentos de dois funcionários do Monte Cristo, as empresas do grupo emitiam notas fiscais "frias" que serviam posteriormente para "lavagem" de dinheiro. "Lavagem" é o nome dado à operação que serve para legalizar dinheiro considerado ilegal.
A Folha apurou que a PF trabalha com fortes indícios de envolvimento do esquema malufista com o caso Monte Cristo.

Precatórios
Há suspeita também que a operação servia para "esquentar" dinheiro do esquema irregular de emissão de precatórios.
Essa suspeita é reforçada pelo fato de que as notas frias emitidas em nome da OAS e da Vega Sopave eram solicitadas por Victor Hugo Castanho, ex-colega de trabalho e amigo de Wagner Baptista Ramos, apontado como chefe do esquema dos precatórios.
Segundo rastreamento do Banco Central feito para a CPI dos Precatórios, Castanho recebeu R$ 100 mil do esquema de emissão irregular de títulos de Santa Catarina, organizado por Wagner Ramos.
Sandra Maria Branco Malago, que trabalhava com emissão de notas no Monte Cristo, disse à PF ter visto Hugo Castanho na empresa diversas vezes. Depois, afirmou, soube que se tratava de "um funcionário particular a mando de Wagner Ramos".

Outro lado
Ontem, o advogado de Samir Assad, Paulo Esteves, afirmou que a quebra do sigilo bancário "é uma forma de se apurar se existem contas não corretas" na contabilidade das empresas. "Se houver, elas serão sanadas", disse.
Questionado se as notas fiscais frias encontradas na sede do Grupo Monte Cristo teriam sido usadas para "esquentar" dinheiro de campanhas eleitorais, o advogado afirmou: "Seria temerário dizer que não tem ligação. Vamos aguardas as investigações".
A OAS afirmou, por meio de seu advogado, Márcio Thomaz Bastos, que as notas fiscais emitidas pelo Monte Cristo se referem a serviços efetivamente prestados de publicidade em eventos realizados pelo próprio Monte Cristo.
A assessoria de imprensa do ex-prefeito Paulo Maluf nega qualquer envolvimento dele com o Grupo Monte Cristo.
Segundo o assessor de imprensa de Maluf, Adilson Laranjeira, o ex-prefeito "não tem e nunca teve nenhuma ligação com o Grupo Monte Cristo".



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