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INVESTIGAÇÃO
Empresa é suspeita de 'esquentar' dinheiro de campanhas
Justiça quebra sigilo do Grupo Monte Cristo
LUIS HENRIQUE AMARAL
da Reportagem Local
O juiz Cassem Mazloun, da 1ª
Vara Criminal da Justiça Federal
em São Paulo, determinou ontem
a quebra do sigilo bancário, fiscal e
telefônico do empresário Samir
Assad e de suas empresas, reunidas no Grupo Monte Cristo.
O pedido de quebra de sigilo foi
encaminhado anteontem ao juiz
pelo procurador da República Ângelo Roberto Ilha da Silva, que
atua no caso. O procurador endossou solicitação de quebra de sigilo
feito pela Polícia Federal.
A PF investiga a possibilidade de
o Monte Cristo ter emitido R$ 18
milhões em notas fiscais falsas para grandes empresas justificarem
doações irregulares para campanhas eleitorais em São Paulo.
A investigação da PF começou
quando ela encontrou notas fiscais
falsas no valor de alguns milhões
de reais na sede a Izar Artes Gráficas, que fica na Vila Mariana (zona
sul da cidade).
Segundo depoimento à PF do
dono da gráfica, Celso Ishiy, ele
produziu as notas falsas por encomenda do Grupo Monte Cristo.
As notas frias do Monte Cristo
saíam em nome de empresas como
a construtora OAS e a Vega Sopave, que atua no setor de limpeza
urbana, e a agência de publicidade
Propeg. As duas primeiras prestam serviço para a Prefeitura de
São Paulo.
A PF vê muitas semelhanças entre o caso Monte Cristo e operações feitas pela Paubrasil nas campanhas de Paulo Maluf em 90 e 92.
A Paubrasil usava notas falsas relativas a serviços que não foram efetivamente prestados para dar aspecto legal a doações de empresas
para essas campanhas.
Segundo depoimentos de dois
funcionários do Monte Cristo, as
empresas do grupo emitiam notas
fiscais "frias" que serviam posteriormente para "lavagem" de dinheiro. "Lavagem" é o nome dado
à operação que serve para legalizar
dinheiro considerado ilegal.
A Folha apurou que a PF trabalha com fortes indícios de envolvimento do esquema malufista com
o caso Monte Cristo.
Precatórios
Há suspeita também que a operação servia para "esquentar" dinheiro do esquema irregular de
emissão de precatórios.
Essa suspeita é reforçada pelo fato de que as notas frias emitidas
em nome da OAS e da Vega Sopave
eram solicitadas por Victor Hugo
Castanho, ex-colega de trabalho e
amigo de Wagner Baptista Ramos,
apontado como chefe do esquema
dos precatórios.
Segundo rastreamento do Banco
Central feito para a CPI dos Precatórios, Castanho recebeu R$ 100
mil do esquema de emissão irregular de títulos de Santa Catarina, organizado por Wagner Ramos.
Sandra Maria Branco Malago,
que trabalhava com emissão de
notas no Monte Cristo, disse à PF
ter visto Hugo Castanho na empresa diversas vezes. Depois, afirmou, soube que se tratava de "um
funcionário particular a mando de
Wagner Ramos".
Outro lado
Ontem, o advogado de Samir Assad, Paulo Esteves, afirmou que a
quebra do sigilo bancário "é uma
forma de se apurar se existem contas não corretas" na contabilidade
das empresas. "Se houver, elas serão sanadas", disse.
Questionado se as notas fiscais
frias encontradas na sede do Grupo Monte Cristo teriam sido usadas para "esquentar" dinheiro de
campanhas eleitorais, o advogado
afirmou: "Seria temerário dizer
que não tem ligação. Vamos
aguardas as investigações".
A OAS afirmou, por meio de seu
advogado, Márcio Thomaz Bastos, que as notas fiscais emitidas
pelo Monte Cristo se referem a serviços efetivamente prestados de
publicidade em eventos realizados
pelo próprio Monte Cristo.
A assessoria de imprensa do
ex-prefeito Paulo Maluf nega
qualquer envolvimento dele com
o Grupo Monte Cristo.
Segundo o assessor de imprensa
de Maluf, Adilson Laranjeira, o
ex-prefeito "não tem e nunca teve
nenhuma ligação com o Grupo
Monte Cristo".
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