São Paulo, sexta-feira, 06 de dezembro de 2002

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ANÁLISE

Os escudeiros de Lula: estilos e ruídos

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na relação entre os dois homens fortes do futuro governo de Lula, José Dirceu e Antônio Palocci Filho, há mais ruído por conta de estilos diferentes do que uma briga por poder.
O espaço de cada um já foi decidido pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Dirceu, presidente do PT, chefiará a Casa Civil. E será o número dois na articulação política do governo. Lula será o número um, porque gosta da área e usa Dirceu como seu principal negociador com o PT, aliados, FHC e oposição. Palocci, chefe da equipe de transição, será o ministro da Fazenda. Dará as cartas na economia, mas, como tem feito, não tomará decisão importante sem consultar Lula.
Por que então Dirceu e Palocci parecem colidir quando o assunto é uma medida provisória para beneficiar o governador de Minas, Itamar Franco, ou a data do anúncio dos ministros por Lula?
Dirceu, reconhecido como um grande articulador político, tem um estilo mais duro, centralizador, frequentemente impaciente e mal-humorado. E já é gato escaldado por causa da versão de que seria um superministro, o que desagradou a Lula.
Já Palocci, apesar de duro nas negociações de bastidor, como no veto à edição da MP Itamar na semana passada, está sempre de bom humor e caiu nas graças da imprensa devido ao estilo brincalhão e bem-humorado.
Mais: a boa interlocução que conquistou junto aos agentes econômicos na campanha e depois da eleição deixou Lula satisfeito. Lula, que adora metáforas futebolísticas, diz que o médico Palocci ganhou a posição de chefe da economia.
Para não melindrar Lula, José Dirceu, por exemplo, repetiu à exaustão que a data do anúncio do ministério era assunto do presidente eleito.
Palocci, por sua vez, limitou-se a repetir o que Lula dissera antes de viajar para a Argentina, afirmando que poderia anunciar o ministério a partir de quinta-feira (ontem), o que não aconteceu.
Dirceu também parou de falar de economia após sua declaração de que torcia para o governo Fernando Henrique Cardoso não aumentar os juros ter contribuído para o dólar subir.
Em relação à MP Itamar, Palocci comportou-se como o policial malvado, em virtude do difícil cenário econômico para 2003. Dirceu atuou como o policial bonzinho, um bombeiro político. Esse movimento foi combinado.
Recentemente, houve apenas um momento de tensão maior entre Dirceu e Palocci. Foi logo após a eleição, quando o presidente do PT estava cotado para ser o chefe da equipe de transição.
No entanto, Lula preferiu indicar Palocci devido ao início de disputas por espaço entre as estrelas petistas e à difusão incômoda para ele da versão de que Dirceu mandaria em meio governo.
O presidente eleito deu um caráter técnico à equipe de transição, tirando espaço dos caciques petistas, e nomeou Palocci, num gesto claro de não gostara da versão que dava Dirceu como primeiro-ministro.
Na época, o presidente do PT se chateou. Hoje, isso já passou, dizem seus amigos.


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