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ANÁLISE
Os escudeiros de Lula: estilos e ruídos
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na relação entre os dois
homens fortes do futuro governo de Lula, José Dirceu e Antônio Palocci Filho, há mais ruído
por conta de estilos diferentes do
que uma briga por poder.
O espaço de cada um já foi decidido pelo presidente eleito, Luiz
Inácio Lula da Silva. Dirceu, presidente do PT, chefiará a Casa Civil.
E será o número dois na articulação política do governo. Lula será
o número um, porque gosta da
área e usa Dirceu como seu principal negociador com o PT, aliados, FHC e oposição. Palocci, chefe da equipe de transição, será o
ministro da Fazenda. Dará as cartas na economia, mas, como tem
feito, não tomará decisão importante sem consultar Lula.
Por que então Dirceu e Palocci
parecem colidir quando o assunto
é uma medida provisória para beneficiar o governador de Minas,
Itamar Franco, ou a data do anúncio dos ministros por Lula?
Dirceu, reconhecido como um
grande articulador político, tem
um estilo mais duro, centralizador, frequentemente impaciente e
mal-humorado. E já é gato escaldado por causa da versão de que
seria um superministro, o que desagradou a Lula.
Já Palocci, apesar de duro nas
negociações de bastidor, como no
veto à edição da MP Itamar na semana passada, está sempre de
bom humor e caiu nas graças da
imprensa devido ao estilo brincalhão e bem-humorado.
Mais: a boa interlocução que
conquistou junto aos agentes econômicos na campanha e depois
da eleição deixou Lula satisfeito.
Lula, que adora metáforas futebolísticas, diz que o médico Palocci
ganhou a posição de chefe da economia.
Para não melindrar Lula, José
Dirceu, por exemplo, repetiu à
exaustão que a data do anúncio
do ministério era assunto do presidente eleito.
Palocci, por sua vez, limitou-se a
repetir o que Lula dissera antes de
viajar para a Argentina, afirmando que poderia anunciar o ministério a partir de quinta-feira (ontem), o que não aconteceu.
Dirceu também parou de falar
de economia após sua declaração
de que torcia para o governo Fernando Henrique Cardoso não aumentar os juros ter contribuído
para o dólar subir.
Em relação à MP Itamar, Palocci comportou-se como o policial
malvado, em virtude do difícil cenário econômico para 2003. Dirceu atuou como o policial bonzinho, um bombeiro político. Esse
movimento foi combinado.
Recentemente, houve apenas
um momento de tensão maior
entre Dirceu e Palocci. Foi logo
após a eleição, quando o presidente do PT estava cotado para
ser o chefe da equipe de transição.
No entanto, Lula preferiu indicar Palocci devido ao início de
disputas por espaço entre as estrelas petistas e à difusão incômoda
para ele da versão de que Dirceu
mandaria em meio governo.
O presidente eleito deu um caráter técnico à equipe de transição, tirando espaço dos caciques
petistas, e nomeou Palocci, num
gesto claro de não gostara da versão que dava Dirceu como primeiro-ministro.
Na época, o presidente do PT se
chateou. Hoje, isso já passou, dizem seus amigos.
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