São Paulo, sexta-feira, 06 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRANSIÇÃO

Falta de poder do BC torna cargo menos atraente

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

A falta de autonomia formal do Banco Central é um dos fatores que têm dificultado o governo do PT a encontrar um nome para a presidência do BC.
A afirmação é do economista Gustavo Loyola, ex-presidente do BC e atualmente consultor da "Tendências". Em texto enviado aos seus clientes, ele diz que "na ausência formal e na falta de mandatos fixos, a probabilidade de se ter um nome para o BC aumenta na razão direta das garantias que os líderes políticos principais do PT puderem lhe dar para o exercício do cargo em condições objetivamente difíceis".
De acordo com Loyola, "a dúvida é se essas garantias poderão ser dadas por um partido que somente recentemente acordou para a importância da credibilidade em política econômica, e no qual ainda são fortes as posições históricas que se caracterizam por um viés de oposição ao mercado financeiro".
Segundo a Folha apurou, a garantia de autonomia do BC foi a principal exigência feita pelo economista Pedro Bodin, presidente do Icatu, para aceitar o convite feito nesta semana pelas principais lideranças do PT para presidir o BC.
Bodin tem sido bastante pressionado por banqueiros a aceitar o convite e, apesar de sua relutância, ainda não deu a resposta definitiva ao PT. Ele quer garantias de autonomia operacional do BC para assumir o cargo.
O ex-BC Gustavo Loyola, em seu artigo na "Tendências", diz também que o novo presidente do BC deve ser mesmo um peixe fora d'água do PT. Ou seja, de fora dos quadros do partido.
Diante disso, "suas dificuldades nas relações intragoverno tendem a ser grandes, ainda mais se considerarmos o fato de que a tradição petista é fortemente preconceituosa em relação ao BC, ao qual normalmente é atribuída uma relação "incestuosa" com as instituições financeiras e uma inclinação sadomasoquista que o leva a manter os juros desnecessariamente elevados".
Loyola lembra que, na mitologia da esquerda brasileira, o BC é o "templo do mal", a "caixa-preta", logo, "há uma boa chance de a direção do BC ser eleita como bode expiatório para as eventuais dificuldades que poderão ser enfrentadas no governo petista".
Dessa forma, Loyola diz que, mesmo que os líderes do PT, como José Dirceu, Antônio Palocci Filho e Aloizio Mercadante, não compartilhem dessa visão distorcida do Banco Central, isso não significa que o futuro presidente do BC possa dispensar a blindagem política proporcionada pelo ministro da Fazenda e pelo presidente da República.


Texto Anterior: Análise: Os escudeiros de Lula: estilos e ruídos
Próximo Texto: Paulistas e PT em excesso dificultam acerto da equipe
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.