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JANIO DE FREITAS
Uma negação da vitória
Em matéria ética não há concessões que se justifiquem. A
providência do PT, admitindo na
Câmara o foro privilegiado de
julgamento para governantes e
ex-governantes, em troca de mais
alguma verba no Orçamento de
2003, trai uma das mais fortes razões da maioria eleitoral para fazer de Luiz Inácio Lula da Silva o
vitorioso: a moralização da vida
política e administrativa.
O pedido levado pelo líder da
bancada petista, deputado João
Paulo Cunha, às bancadas do
PDT, do PL e do PPS, para retirada de assinaturas opostas ao foro
privilegiado, atendeu a outro pedido, feito pelos líderes do PSDB e
do PMDB. Mas um esclarecimento continua em falta: o deputado
João Paulo agiu por conta própria
ou se submeteu a ordens, e, nesse
caso, de quem?
É sabido e divulgado o múltiplo
esforço de Fernando Henrique
Cardoso para obter que a legislação e a própria Constituição sejam retorcidas de modo a lhe assegurar, como aos seus ministros
e outros do governo, que os processos em que já são ou venham a
ser réus só possam ser julgados
nos tribunais mais altos. Não é
uma ambição que honre esses tribunais, sobretudo o Supremo Tribunal Federal, onde a fidelidade
de um grupo de ministros às posições governistas os faz chamados
de bancada do governo no STF.
Nesse tribunal, a propósito, já
conta com cinco votos uma das
iniciativas para conceder o foro
privilegiado, apesar de ali mesmo
haver sido negada, no governo
Collor, a autoridade do STF para
uma medida equivalente. Outra
providência do governo na mesma direção foi aprovada anteontem pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado: foi a inclusão, na Lei da Mordaça que
pretende silenciar os procuradores da República, de outra via para aprovar o foro privilegiado. A
providência na Câmara, com a
sujeição do PT à barganha anti-ética, completa o circuito de iniciativas dos governistas para tentar todas as possibilidades de dar
a Fernando Henrique o privilégio
negado pela Constituição.
O PT deve explicações ao eleitorado de Luiz Inácio Lula da Silva,
mas, sobretudo, deve a correção
da sua atitude, antes que se reproduza.
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