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CONGRESSO
Para presidente do STF, a Lei da Mordaça, projeto em discussão no Senado, lembra "a época do totalitarismo"
"Mordaça" beira agressão, diz Marco Aurélio
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), ministro Marco Aurélio de Mello, criticou a
chamada Lei da Mordaça, dizendo que o projeto em discussão no
Senado "beira a agressão" e que é
uma iniciativa que lembra "a época de totalitarismo, do qual não
temos a menor saudade".
A Lei da Mordaça é a norma legal pela qual juízes, membros do
Ministério Público e autoridades
policiais são proibidos de dar informações sobre investigações e
processos em andamento sob pena de serem acusados de violar o
sigilo, a intimidade, a imagem e a
honra das pessoas.
Um projeto de lei que contém a
norma foi aprovado anteontem
pela Comissão de Constituição e
Justiça do Senado, após ser incluído na pauta na última hora, e está
para ser votado pelo plenário.
Marco Aurélio fez uma analogia
entre esse projeto e a dispensa de
ordem judicial para que a Receita
Federal tenha acesso à movimentação bancária de pessoas e empresas suspeitas de sonegação, dizendo que ambos são instrumentos autoritários. "Assusta-me o
quadro vivido", disse.
Para o ministro, a legislação
atual já contém instrumentos que
permitem a punição dos agentes
públicos que cometem excessos.
Ele lamentou "a mania de querer consertar o Brasil com leis
proibitivas", defendeu a criação
do Conselho Nacional da Justiça,
prevista na reforma do Judiciário
para fiscalizar os juízes, e negou
que as corregedorias dos tribunais sejam corporativas na apuração de atos de seus membros.
Foro privilegiado
A Associação dos Magistrados
Brasileiros e a Associação dos Juízes Federais do Brasil criticaram o
dispositivo do projeto de lei da
mordaça que cria o foro privilegiado das autoridades nas ações
de improbidade administrativa.
Esses processos hoje tramitam
na primeira instância, e a proteção do foro está restrita às ações
penais e por crime de responsabilidade. O governo também tenta
ampliar o foro por meio de um
projeto de lei na Câmara e um recurso no STF. Lá também está sob
exame a preservação do foro após
a autoridade deixar o cargo.
Segundo nota divulgada pela
AMB, "a ampliação do foro privilegiado representaria significativo
retrocesso institucional, eliminando, na prática, importante
instrumento de controle judicial
da administração pública à disposição da cidadania."
A nota lembra que, recentemente, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado rejeitou
proposta semelhante que estendia o foro privilegiado às ações
por improbidade administrativa.
O presidente da Ajufe, Paulo
Sérgio Domingues, e o presidente
da Conamp (Associação Nacional
dos Membros do Ministério Público), Marfan Martins Vieira,
disseram que a mordaça irá contrariar o princípio constitucional
da publicidade dos atos oficiais.
"A Lei da Mordaça, se passar como está, implicará o segredo de
justiça a praticamente todos os
processos", disse Domingues. "É
uma inversão do princípio, pois
torna a publicidade uma exceção
e o sigilo a regra", disse Vieira.
Colaborou free-lance para a Folha
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