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Programa deverá começar em
Minas e no Nordeste, diz Frei Betto
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Todos os ministérios do governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva participarão do
Fome Zero. "Por isso é preciso ter
ministros que tenham sensibilidade social", diz o coordenador
de mobilização do programa,
Carlos Alberto Libânio Christo,
57, o Frei Betto.
O religioso espera que os milhares de servidores federais convertam-se em voluntários do programa, que, além de distribuir alimentos, pretende colocar os beneficiários em salas de aula.
O programa, previsto para ser o
"carro-chefe" da administração
petista, deverá ser iniciado no sertão nordestino e no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, onde
o governador eleito tucano, Aécio
Neves, já acena com parceria.
Folha - No dia 1.º de janeiro, o Fome Zero passa a ser política pública
do governo federal. Como vai funcionar?
Frei Betto - Todos os ministérios, todas as empresas públicas,
como Petrobras, BNDES, todos os
setores do governo federal terão
de atuar no Fome Zero. O Ministério dos Transportes vai continuar fazendo estradas, mas vai
também se engajar no Fome Zero.
Folha - Haverá departamentos
do Fome Zero dentro dos ministérios e demais órgãos?
Frei Betto - A maneira [de participação] vamos discutir com cada
órgão. Por exemplo, na Amazônia, onde é muito forte a presença
das Forças Armadas, podemos
usá-las para captação, transporte
e estocagem de alimentos. Podemos treinar um grupo do Ministério dos Transportes para ser instrutor de educação cidadã. Podemos ter, por exemplo, no Ministério do Meio Ambiente, pessoas
que possam ensinar aos beneficiados determinadas habilidades.
Folha - Além de dar alimentos,
qual é o objetivo do Fome Zero?
Frei Betto - Fazer com que o faminto se torne cidadão. Ter alimento é um direito que o governo
vai assegurar, mas vai exigir um
retorno. Ele [o beneficiário] tem
de entrar na escola e fazer um curso semi-profissionalizante, ou
profissionalizante. Não queremos
criar dependência. Isso significa
promover a inclusão social.
Folha - Não é complicado fiscalizar e coordenar um projeto com
tantos braços [distribuição de alimentos, educação, profissionalização] e tocado em parcerias com
ONGs?
Frei Betto - Complicações existirão, mas estamos bolando o sistema mais transparente e eficaz
possível. O controle para evitar
corrupção será rigoroso.
Folha - Onde arrumar professor e
sala de aula para todo mundo?
Frei Betto - Vamos arrumar voluntários de todos os setores do
governo federal e dos municípios.
Folha - Como certificar os beneficiários que estudarem com voluntários para que eles ingressem no
mercado de trabalho?
Frei Betto- Esses detalhes ainda
não podemos precisar. A equipe
de transição está levantando essas
informações. A máquina [administrativa] é muito mais poderosa, complexa e tem muitos "escaninhos". Estamos abismados,
perplexos com a complexidade
dessa máquina, com o poder e ao
mesmo tempo com uma certa letargia diante do que potencialmente ela é capaz. Existia uma
cultura nesse país de que a questão social é derivativa de primeira-dama.
Folha - Mas isso já acabou há algum tempo.
Frei Betto - Há tempos ninguém
prioriza a questão social como
ação de governo. A dona Ruth
[Cardoso, primeira-dama" fez um
trabalho sério, mas limitado diante das possibilidades do governo.
Folha - Quem serão os primeiros
beneficiários do programa?
Frei Betto - O governo enfrentará o problema da seca no Nordeste. Então possivelmente o Fome
Zero terá de convergir para os flagelados. O futuro governador de
Minas Gerais, Aécio Neves
(PSDB), já sinalizou que gostaria
de uma atuação nossa no Vale do
Jequitinhonha. Se pegarmos regiões carentes e tivermos um apelo das autoridades locais, isso facilita mais as parcerias do que se
implantarmos o projeto em um
Estado onde o governo não demonstra sensibilidade.
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