São Paulo, sexta-feira, 06 de dezembro de 2002

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Programa deverá começar em Minas e no Nordeste, diz Frei Betto

GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Todos os ministérios do governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva participarão do Fome Zero. "Por isso é preciso ter ministros que tenham sensibilidade social", diz o coordenador de mobilização do programa, Carlos Alberto Libânio Christo, 57, o Frei Betto.
O religioso espera que os milhares de servidores federais convertam-se em voluntários do programa, que, além de distribuir alimentos, pretende colocar os beneficiários em salas de aula.
O programa, previsto para ser o "carro-chefe" da administração petista, deverá ser iniciado no sertão nordestino e no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, onde o governador eleito tucano, Aécio Neves, já acena com parceria.
 

Folha - No dia 1.º de janeiro, o Fome Zero passa a ser política pública do governo federal. Como vai funcionar?
Frei Betto
- Todos os ministérios, todas as empresas públicas, como Petrobras, BNDES, todos os setores do governo federal terão de atuar no Fome Zero. O Ministério dos Transportes vai continuar fazendo estradas, mas vai também se engajar no Fome Zero.

Folha - Haverá departamentos do Fome Zero dentro dos ministérios e demais órgãos?
Frei Betto
- A maneira [de participação] vamos discutir com cada órgão. Por exemplo, na Amazônia, onde é muito forte a presença das Forças Armadas, podemos usá-las para captação, transporte e estocagem de alimentos. Podemos treinar um grupo do Ministério dos Transportes para ser instrutor de educação cidadã. Podemos ter, por exemplo, no Ministério do Meio Ambiente, pessoas que possam ensinar aos beneficiados determinadas habilidades.

Folha - Além de dar alimentos, qual é o objetivo do Fome Zero?
Frei Betto
- Fazer com que o faminto se torne cidadão. Ter alimento é um direito que o governo vai assegurar, mas vai exigir um retorno. Ele [o beneficiário] tem de entrar na escola e fazer um curso semi-profissionalizante, ou profissionalizante. Não queremos criar dependência. Isso significa promover a inclusão social.

Folha - Não é complicado fiscalizar e coordenar um projeto com tantos braços [distribuição de alimentos, educação, profissionalização] e tocado em parcerias com ONGs?
Frei Betto
- Complicações existirão, mas estamos bolando o sistema mais transparente e eficaz possível. O controle para evitar corrupção será rigoroso.

Folha - Onde arrumar professor e sala de aula para todo mundo?
Frei Betto
- Vamos arrumar voluntários de todos os setores do governo federal e dos municípios.

Folha - Como certificar os beneficiários que estudarem com voluntários para que eles ingressem no mercado de trabalho?
Frei Betto
- Esses detalhes ainda não podemos precisar. A equipe de transição está levantando essas informações. A máquina [administrativa] é muito mais poderosa, complexa e tem muitos "escaninhos". Estamos abismados, perplexos com a complexidade dessa máquina, com o poder e ao mesmo tempo com uma certa letargia diante do que potencialmente ela é capaz. Existia uma cultura nesse país de que a questão social é derivativa de primeira-dama.

Folha - Mas isso já acabou há algum tempo.
Frei Betto
- Há tempos ninguém prioriza a questão social como ação de governo. A dona Ruth [Cardoso, primeira-dama" fez um trabalho sério, mas limitado diante das possibilidades do governo.

Folha - Quem serão os primeiros beneficiários do programa?
Frei Betto
- O governo enfrentará o problema da seca no Nordeste. Então possivelmente o Fome Zero terá de convergir para os flagelados. O futuro governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), já sinalizou que gostaria de uma atuação nossa no Vale do Jequitinhonha. Se pegarmos regiões carentes e tivermos um apelo das autoridades locais, isso facilita mais as parcerias do que se implantarmos o projeto em um Estado onde o governo não demonstra sensibilidade.


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