UOL

São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIAGEM AO ORIENTE

Presidente ameniza tom de discurso sobre assuntos polêmicos

No Líbano, Lula defende uma nova "geografia comercial"

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A BEIRUTE

Depois de passar o início de sua viagem aos países árabes fazendo discursos e assinando comunicados com ênfase em posições favoráveis à causa árabe e palestina, ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu preferência a temas comerciais. Em Beirute, o brasileiro falou em mudar "a geografia comercial do mundo".
O presidente voltou também a criticar a forma como países ricos protegem suas economias. "O livre comércio não pode ser apenas a possibilidade de nós comprarmos o que os ricos produzem e não conseguirmos introduzir os nossos produtos nos seus mercados", declarou a empresários libaneses e brasileiros ontem de manhã, em Beirute, no Líbano.
"Está na hora de nós mudarmos a geografia comercial do mundo. Se, sozinhos, nenhum de nós pode competir com os países ricos, juntos nós teremos muita força para competir com igualdade e fazer com que os países ricos flexibilizem suas regras, para que nós possamos competir em igualdade de condições", disse Lula.
O discurso para empresários no Líbano é muito semelhante ao realizado na Síria para o mesmo tipo de público. Repetiram-se expressões como "porta de entrada" ao se referir ao papel que espera do Líbano para a introdução de produtos brasileiros no mundo árabe. Em troca, Lula diz que o Brasil fará o mesmo em relação à América do Sul: servirá de entrada para produtos árabes.
Sobre as causas árabes, o presidente falou menos sobre desocupação do Iraque e preferiu dizer que apóia "as iniciativas em curso para reaproximar os povos do Oriente Médio por meio do diálogo e do entendimento". Sobre Israel, a quem havia criticado devido à ocupação de territórios palestinos e das colinas de Golã (Síria), também foi diferente a fala.

Comércio
O forte do dia foi mesmo o tema comercial. Segundo Lula, "mudar a geografia do comércio no mundo significa a América do Sul olhar para o mundo árabe, não apenas para os conflitos que a imprensa ou a televisão dos nossos países mostram, mas vendo a possibilidade da relação política, da relação cultural, da relação econômica, com empresas dos países árabes investindo na América do Sul e no Brasil, e empresas da América do Sul e do Brasil investindo no mundo árabe".
O presidente arriscou dar uma aula de comércio à sua platéia de empresários libaneses: "O bom comerciante não é aquele que quer levar vantagem em tudo, não é aquele que apenas quer vender e não quer comprar. O bom comerciante é aquele que, depois do negócio, sai feliz, mas o seu interlocutor sai feliz também, porque fez um grande negócio".
Havia no seminário da manhã cerca de 250 empresários libaneses. Antes do evento, inscreveram-se 63 empresários do Brasil. Não foi divulgado o número exato de participantes.
Ainda ao falar sobre os contatos que devem existir entre empresários brasileiros e libaneses -há cerca de 7 milhões de descendentes de libaneses no Brasil-, Lula fez um apelo: "Queira Deus que muitos dos empresários brasileiros aprendam com os empresários libaneses a arte de negociar".
Para aproximar os dois países, Lula falou da "importância da abertura de uma linha marítima direta e a abertura de vôos diretos entre Beirute e São Paulo" -sem especificar datas.
Hoje o presidente passa a manhã visitando a histórica Biblos, no Líbano, tida como o berço da comunicação escrita. Às 13h (9h em Brasília), ele embarca para a cidade de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, o terceiro país que visitará neste giro internacional. Por fim, irá ao Egito e à Líbia.


Os repórteres FERNANDO RODRIGUES e ALAN MARQUES viajam no avião do governo nos deslocamentos do giro internacional do presidente pelos países árabes por falta de opção de vôos comerciais para esta cobertura jornalística

Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Descontraído, presidente diz que libaneses e brasileiros são "brimos"
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.