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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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CASO SANTO ANDRÉ

Ministro diz que denunciados já estão sendo julgados, por crime comum; Suplicy não descarta motivação política

Para Dirceu, nova denúncia é "estranha"

JULIA DUAILIBI
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT reagiu de maneiras diferentes à denúncia do Ministério Público de Santo André que coloca o empresário Sérgio Gomes da Silva como um dos mandantes do assassinato do prefeito Celso Daniel, ocorrido em janeiro de 2002.
Para o ministro José Dirceu (Casa Civil), presidente do partido na época do assassinato, a denúncia é "um tanto quanto estranha".
O deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) disse permanecer "convicto" de que
O senador Eduardo Suplicy (SP) defendeu a continuação das investigações e disse não descartar a hipótese de que Daniel "tenha colocado uma objeção fortíssima" contra possíveis esquemas de corrupção em Santo André.
"Os denunciados estão sendo julgados. Então nós temos uma situação um tanto quanto estranha, acredito", disse o ministro.
Dirceu referia-se aos integrantes da quadrilha apontada pela Polícia Civil como autores do assassinato, que teria sido crime comum. A quadrilha foi denunciada por promotores de Itapecerica da Serra (na Grande São Paulo), responsáveis pela região onde o corpo de Daniel foi encontrado.
Na denúncia de ontem, promotores de Santo André dizem que há envolvimento de Gomes da Silva, que estava com Daniel quando ele foi sequestrado, com o crime.
O assassinato teria conexão com um suposto esquema de corrupção na Prefeitura de Santo André, pelo qual seria cobrada propina de empresários do setor de transporte público. O irmão de Daniel, João Francisco, chegou a dizer que parte do dinheiro iria para campanhas eleitorais do PT.
Além de dizer não que pode ser descartada a hipótese de Daniel ter "colocado uma objeção fortíssima" ao suposto esquema de desvio de verba, Suplicy afirmou que a sigla é um dos principais interessados na solução do caso.
"O PT é o primeiro partido que tem interesse em que esses fatos sejam revelados", disse o senador ontem durante evento na Câmara Municipal de São Paulo.
Suplicy demonstrou confiar no trabalho da Promotoria: "Imagino que os promotores devam ter feito uma investigação a fundo".
Dirceu foi mais cauteloso. Disse que o Ministério Público tem "o direito de pedir a reabertura do caso", mas que era importante "lembrar que houve violência e ilegalidade" em outras investigações. Ele referia-se à participação da Polícia Federal, que conseguiu autorização da Justiça para fazer escutas telefônicas, inclusive de integrantes do PT, entre eles Dirceu. Para fazer os grampos, a PF argumentou que investigava denúncias contra o narcotráfico.
"Nós somos vítimas", disse num evento em Campinas sobre a malha ferroviária local.

Provas e indícios
Ao ser contestado sobre o que achava "estranho", o ministro disse não ter feito a declaração. Como ela havia sido gravada, ele afirmou mais tarde: "Agora estão dizendo o contrário [os promotores]. Que não são esses autores, que podem ser outros autores".
Dirceu foi questionado também sobre uma possível ligação entre a quadrilha e Gomes da Silva. "Vocês [jornalistas] estão dizendo isso. Eles não falaram isso nem uma vez." Segundo o ministro, "se o Ministério Público quer reabrir as investigações, tem de apresentar para o Poder Judiciário seus indícios e suas provas".
O caso foi reaberto, a pedido da família de Daniel, em agosto de 2002. Gomes da Silva, amigo do prefeito, passou a ser investigado.


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