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OPERAÇÃO ANACONDA
De 99 a 2002, também teriam girado no caixa de suposta quadrilha R$ 873 mil; juiz teria movimentado US$ 69 mil
Grupo movimentou US$ 938 mil, diz PF
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Com base em anotações e papéis encontrados no escritório do
advogado Affonso Passarelli Filho, em São Paulo, os policiais federais da Operação Anaconda
concluíram que a suposta quadrilha que teria ramificações na Justiça Federal movimentou, de 1999
a 2002, pelo menos US$ 938 mil
-ou R$ 2,754 milhões, ao câmbio de ontem - e outros R$ 873
mil em valores da época.
O último relatório parcial da Diretoria de Inteligência da Polícia
Federal, do dia 21 de novembro,
incluiu uma tabela feita pela polícia com base nas apreensões. A tabela aponta que o juiz federal da
4ª Vara Criminal de São Paulo,
João Carlos da Rocha Mattos, teria movimentado US$ 68,8 mil e
R$ 18,3 mil entre 26 de junho de
2000 e 21 de maio de 2002.
O delegado da Polícia Federal
José Augusto Bellini aparece com
uma retirada total de US$ 115,9
mil e R$ 23 mil de 13 de dezembro
de 2001 a 18 de junho de 2002 (há
dois lançamentos sem data). Rocha Mattos, Bellini, Passarelli e
outras cinco pessoas foram presas
sob a acusação de participar de
uma quadrilha.
Entre os citados no "livro-caixa" há uma pessoa identificada
apenas como "Bittar", até agora
um completo desconhecido nos
registros oficiais da operação. É a
única citação a ele no relatório da
PF, que tem 228 páginas com textos, fotografias e diagramas.
"Bittar" teria retirado ao todo
US$ 30 mil nos dias 13 de dezembro de 2001 e 22 de fevereiro do
ano seguinte e contribuído com
US$ 70 mil para o caixa no dia 25
de abril de 2002.
Outras pessoas que teriam injetado dinheiro no escritório também não estão formalmente identificadas: "Jairo" teria dado R$ 164
mil, "AMC", dado US$ 80 mil e
retirado R$ 10 mil e "Pandol/Hugo" teriam contribuído com R$
150 mil no dia 28 de julho de 2000.
"No escritório de Affonso Passarelli ficou evidenciado que o local é um dos centros de operações
da organização, uma vez que ali
atua [o agente da PF] César Herman, cuja função de advogado
não abandonou, apesar do seu retorno aos quadros do DPF [Departamento de Polícia Federal],
além do [delegado federal aposentado] Jorge Luiz Bezerra da
Silva e [idem] Luiz Zubcov, bem
como ali se efetuam e se recebem
pagamentos de João Carlos da
Rocha Mattos, Bellini, [os empresários] Sérgio Chiamarelli, Wagner Rocha, entre outros, tudo minuciosamente anotado no livro-caixa do escritório de Affonso
Passarelli", diz o relatório assinado pelos delegados federais Élzio
Vicente da Silva e Emanuel Henrique Balduíno de Oliveira.
Clientes
A Folha apurou que entre os supostos alimentadores do caixa
(identificados com a rubrica "C",
de crédito) estão clientes regulares do escritório de Passarelli, que
tem inscrição na OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil) de São
Paulo e atuava em cerca de 130
processos judiciais e administrativos e inquéritos policiais relacionados a pessoas físicas e jurídicas,
segundo uma relação apreendida
pela própria polícia no escritório.
Passarelli foi sócio do agente federal César Herman Rodriguez,
cuja carteira original de advogado
foi expedida pela seção da OAB
do Estado do Acre, e dirigia o escritório com a advogada Maria
Regina Marra Guimil (defensora
de Rodriguez no decorrer da Operação Anaconda).
Um dos clientes do escritório é o
empresário Sérgio Chiamarelli,
da corretora de valores Split, investigada no escândalo dos precatórios e alvo de processos criminais na Justiça Federal de São
Paulo. Chiamarelli foi absolvido
por uma decisão de Rocha Mattos, em processo que corria na 4ª
Vara Criminal.
No "livro-caixa" de Passarelli,
Chiamarelli aparece contribuindo
com apenas R$ 1.000 mensais,
num total de R$ 23 mil de julho de
2000 a maio de 2002.
Outro cliente de Passarelli é a
São Paulo Express, uma empresa
de importação e exportação, que
teria pago R$ 83,5 mil ao escritório de advocacia. Um representante da empresa disse ontem à
Folha que todos os pagamentos
se referiam a custas processuais,
estão documentados com recibos,
e que a empresa não recebeu "nenhuma vantagem" na Justiça, onde há processo em andamento.
Na tabela elaborada pela PF
aparece a sigla "AAC", atribuída
ao subprocurador da República
em Brasília Antônio Augusto César, que teria movimentado US$
15 mil e R$ 13,12 mil, e o nome do
empresário Wagner Rocha, o
"Peru", com US$ 6.000.
A PF também incluiu no livro-caixa um pagamento de US$ 30
mil da empresa Lavicen, investigada pelo Ministério Público Federal e Estadual por suposto envolvimento na lavagem de dinheiro de R$ 100 milhões que teriam
sido desviados da construção do
túnel Ayrton Senna na gestão do
prefeito Paulo Maluf (1993-1996).
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