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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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OPERAÇÃO ANACONDA

De 99 a 2002, também teriam girado no caixa de suposta quadrilha R$ 873 mil; juiz teria movimentado US$ 69 mil

Grupo movimentou US$ 938 mil, diz PF

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Com base em anotações e papéis encontrados no escritório do advogado Affonso Passarelli Filho, em São Paulo, os policiais federais da Operação Anaconda concluíram que a suposta quadrilha que teria ramificações na Justiça Federal movimentou, de 1999 a 2002, pelo menos US$ 938 mil -ou R$ 2,754 milhões, ao câmbio de ontem - e outros R$ 873 mil em valores da época.
O último relatório parcial da Diretoria de Inteligência da Polícia Federal, do dia 21 de novembro, incluiu uma tabela feita pela polícia com base nas apreensões. A tabela aponta que o juiz federal da 4ª Vara Criminal de São Paulo, João Carlos da Rocha Mattos, teria movimentado US$ 68,8 mil e R$ 18,3 mil entre 26 de junho de 2000 e 21 de maio de 2002.
O delegado da Polícia Federal José Augusto Bellini aparece com uma retirada total de US$ 115,9 mil e R$ 23 mil de 13 de dezembro de 2001 a 18 de junho de 2002 (há dois lançamentos sem data). Rocha Mattos, Bellini, Passarelli e outras cinco pessoas foram presas sob a acusação de participar de uma quadrilha.
Entre os citados no "livro-caixa" há uma pessoa identificada apenas como "Bittar", até agora um completo desconhecido nos registros oficiais da operação. É a única citação a ele no relatório da PF, que tem 228 páginas com textos, fotografias e diagramas.
"Bittar" teria retirado ao todo US$ 30 mil nos dias 13 de dezembro de 2001 e 22 de fevereiro do ano seguinte e contribuído com US$ 70 mil para o caixa no dia 25 de abril de 2002.
Outras pessoas que teriam injetado dinheiro no escritório também não estão formalmente identificadas: "Jairo" teria dado R$ 164 mil, "AMC", dado US$ 80 mil e retirado R$ 10 mil e "Pandol/Hugo" teriam contribuído com R$ 150 mil no dia 28 de julho de 2000.
"No escritório de Affonso Passarelli ficou evidenciado que o local é um dos centros de operações da organização, uma vez que ali atua [o agente da PF] César Herman, cuja função de advogado não abandonou, apesar do seu retorno aos quadros do DPF [Departamento de Polícia Federal], além do [delegado federal aposentado] Jorge Luiz Bezerra da Silva e [idem] Luiz Zubcov, bem como ali se efetuam e se recebem pagamentos de João Carlos da Rocha Mattos, Bellini, [os empresários] Sérgio Chiamarelli, Wagner Rocha, entre outros, tudo minuciosamente anotado no livro-caixa do escritório de Affonso Passarelli", diz o relatório assinado pelos delegados federais Élzio Vicente da Silva e Emanuel Henrique Balduíno de Oliveira.

Clientes
A Folha apurou que entre os supostos alimentadores do caixa (identificados com a rubrica "C", de crédito) estão clientes regulares do escritório de Passarelli, que tem inscrição na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo e atuava em cerca de 130 processos judiciais e administrativos e inquéritos policiais relacionados a pessoas físicas e jurídicas, segundo uma relação apreendida pela própria polícia no escritório.
Passarelli foi sócio do agente federal César Herman Rodriguez, cuja carteira original de advogado foi expedida pela seção da OAB do Estado do Acre, e dirigia o escritório com a advogada Maria Regina Marra Guimil (defensora de Rodriguez no decorrer da Operação Anaconda).
Um dos clientes do escritório é o empresário Sérgio Chiamarelli, da corretora de valores Split, investigada no escândalo dos precatórios e alvo de processos criminais na Justiça Federal de São Paulo. Chiamarelli foi absolvido por uma decisão de Rocha Mattos, em processo que corria na 4ª Vara Criminal.
No "livro-caixa" de Passarelli, Chiamarelli aparece contribuindo com apenas R$ 1.000 mensais, num total de R$ 23 mil de julho de 2000 a maio de 2002.
Outro cliente de Passarelli é a São Paulo Express, uma empresa de importação e exportação, que teria pago R$ 83,5 mil ao escritório de advocacia. Um representante da empresa disse ontem à Folha que todos os pagamentos se referiam a custas processuais, estão documentados com recibos, e que a empresa não recebeu "nenhuma vantagem" na Justiça, onde há processo em andamento.
Na tabela elaborada pela PF aparece a sigla "AAC", atribuída ao subprocurador da República em Brasília Antônio Augusto César, que teria movimentado US$ 15 mil e R$ 13,12 mil, e o nome do empresário Wagner Rocha, o "Peru", com US$ 6.000.
A PF também incluiu no livro-caixa um pagamento de US$ 30 mil da empresa Lavicen, investigada pelo Ministério Público Federal e Estadual por suposto envolvimento na lavagem de dinheiro de R$ 100 milhões que teriam sido desviados da construção do túnel Ayrton Senna na gestão do prefeito Paulo Maluf (1993-1996).


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