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RORAIMA
Polícia suspeita que ex-integrantes do governo Flamarion Portela teriam recebido salários de servidores "fantasmas"
Fraudador recebia até restituição do IR
JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BOA VISTA
Dois ex-integrantes do governo
Flamarion Portela (PT) e um deputado estadual de Roraima são
investigados por suspeita de terem feito declarações de Imposto
de Renda e recebido a restituição
do imposto em nome de funcionários "fantasmas", de acordo
com a força-tarefa que investiga o
"escândalo dos gafanhotos".
As três autoridades também receberiam parte do salário desses
funcionários, conhecidos como
"gafanhotos" (uma vez que "comiam" a folha de pagamentos).
De acordo com as investigações
da força-tarefa, os "gafanhotos",
cerca de 5.500, passavam procurações para cerca de 60 pessoas
que agiam em nome de 30 autoridades -entre ex-deputados,
atuais parlamentares e outros.
Os procuradores receberiam os
salários (de R$ 400 a R$ 4.000) do
governo, que eram pagos por
uma empresa privada, e repassariam de R$ 100 a R$ 400 ao "gafanhoto". O restante seria entregue
às autoridades que conseguiam
colocar os nomes dos "fantasmas" na lista de servidores estaduais numa tabela especial.
Em depoimentos à força-tarefa
(da Polícia Federal e dos Ministérios Públicos Federal e Estadual)
aos quais a Agência Folha teve
acesso, "gafanhotos" declararam
ter ficado "surpresos" quando
tentaram fazer as declarações de
isento do Imposto de Renda ou
quando tentaram recadastrar o
CPF (Cadastro de Pessoas Físicas). Eles descobriram que os procedimentos legais já haviam sido
realizados e que inclusive existiam valores do Imposto de Renda a serem restituídos.
Ex-deputados
Os depoentes seriam ligados, de
acordo com a força-tarefa, ao ex-diretor da Polícia Judiciária do Estado Ângelo Paiva, que está preso,
e à ex-secretária da Articulação
Municipal Vera Regina, ambos
também ex-deputados e exonerados na semana passada, e ao atual
parlamentar Jalser Renier (PFL).
O que a perícia da Polícia Federal levantou, com base em documentos fornecidos pelo próprio
governo ou apreendidos durante
as investigações, é que sobre os
vencimentos dos gafanhotos não
havia incidência de tributos ou
mesmo de contribuições, o que,
por si só, anularia qualquer operação com a Receita Federal.
O que ainda não se sabe é como
era deduzido o valor que teria sido pago para a Receita Federal e
como o dinheiro da restituição do
Imposto de Renda teria ido parar
nos bolsos dos envolvidos.
"Gafanhotos"
A doméstica Raimunda Batista
Filho, 38, mãe de três filhos pequenos, afirma em depoimento
que descobriu que seu nome havia sido usado duas vezes: uma,
quando ela soube que era funcionária do Estado, recebendo R$
2.000; a segunda vez, quando ela
foi fazer sua declaração de isenta
do IR e soube que o procedimento de declaração do imposto já havia sido realizado.
"Eu recebia R$ 100 por mês, mas
pensava que era porque eu tinha
trabalhado na campanha da Vera
Regina. Levei um susto quando a
filha de um vizinha, que foi fazer
fazer o negócio com o meu CPF
[declaração de isenta] me falou
que tudo já tinha sido feito e que
tinha até dinheiro pra receber",
declarou a doméstica à Agência
Folha. Ela afirma que não sabe
onde foi parar o dinheiro.
A depoente Maria Zilda Correia, que seria "gafanhoto" do deputado Jalser Renier (PFL), declarou que teve sua declaração de
imposto feita por uma pessoa ligada ao parlamentar e que "descobriu" que tinha direito a receber R$ 1.000.
Outra que teria tido seu nome
usado duplamente é a costureira
Maria do Amparo de Oliveira, 40,
que também prestou depoimento. "Imagina que morando nesta
casa [ainda em construção em um
bairro pobre de Boa Vista, capital
do Estado] eu tivesse dinheiro para receber do governo [a restituição do Imposto de Renda]", afirmou à Agência Folha.
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