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23 ministros deram referendo ao AI-5
da Reportagem Local
Havia constrangidos e despudorados na reunião de 23 ministros e
oficiais que referendou o AI-5 no
Palácio das Laranjeiras, no Rio.
José de Magalhães Pinto, ministro das Relações Exteriores, era um
dos violentados. Dizia que nem
quando ajudou a depor o presidente João Goulart em 1964 sentia-se tão constrangido. Sabia que o
AI-5 criava uma ditadura.
Despudorado era o brigadeiro
Carlos Huet Sampaio, chefe do Estado Maior da Aeronáutica. Para
ele, o movimento de 1964 teve um
"início melancólico" ao se preocupar com a Constituição.
Venceram os despudorados. Jarbas Passarinho, numa frase histórica, apontou a saída aos constrangidos: "Sei que a vossa excelência
repugna, como a mim, enveredar
pelo caminho da ditadura. Mas às
favas todos os escrúpulos de consciência", disse na reunião.
Havia uma profunda divisão no
governo. Com o crescimento da
oposição estudantil, cuja expressão mais famosa foi a "Passeata
dos Cem Mil", no Rio, e a guerrilha, a linha-dura ganhou força.
A disputa veio à tona em setembro de 1968. O deputado carioca
Marcio Moreira Alves, do MDB,
partido de oposição, fez um discurso na Câmara em que chamava
as Forças Armadas de "valhacouto
(refúgio) de torturadores" e fazia
uma gozação: propunha que as
mulheres rejeitassem os militares,
fizessem uma greve de sexo, como
em "Lisístrata", de Aristófanes.
Os militares ficaram enfurecidos
e queriam processar Alves no Supremo Tribunal Federal -quebra
da imunidade parlamentar.
"O discurso não tinha a menor
importância. A principal razão de
terem usado o discurso foi o fato
de ter sido pronunciado na Câmara. Eles queriam fechar o Congresso desde junho", diz Alves, hoje
colunista do jornal "O Globo".
O governo enviou à Câmara um
pedido de licença para que o deputado fosse processado e, a 12 de dezembro, foi derrotado. Apesar de
ter a maioria dos deputados, o pedido teve 216 votos contra e 141 a
favor. Até deputados governistas,
da Arena, votaram contra.
"Eles vão ter a resposta", teria dito Costa e Silva ao general Jayme
Portella, chefe do Gabinete Militar.
Não foram só os
deputados que viram a resposta. Naquele
mesmo dia 12
de dezembro, o general Portella
censurou a
imprensa
para evitar
repercussão
da derrota.
A linha-dura
conspirou a noite toda, como
contou à Folha
Rondon Pacheco, chefe da Casa
Civil do governo.
Pacheco lembra que Emílio Garrastazu Médici, chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações) em
1968 e futuro presidente, disse-lhe:
"O Costa e Silva só não foi deposto
naquela noite porque era ele, porque tinha autoridade". O general
Muniz Aragão era um desses conspiradores. Criticava a tolerância de
Costa e Silva à corrupção.
Aí as interpretações sobre as intenções de Costa e Silva divergem.
Delfim, Passarinho, Pacheco e Arzua dizem que o presidente manteria o regime de exceção até setembro de 1969, quando outorgaria
outra Constituição, reabriria o
Congresso e acabaria com o AI-5.
"Aquilo (AI-5) não era para implantar uma ditadura, era uma coisa de curtíssimo prazo", afirma
Delfim. "Se o Costa e Silva não tivesse tido o derrame, em 7 de setembro de 1969, ele teria promulgado a Constituição."
O presidente Ernesto Geisel tinha visão oposta. Em conversa
com Jô Soares, Geisel contou que
havia sugerido a Castelo Branco, o
primeiro presidente do regime militar, afastar Costa e Silva do poder.
"O senhor não se iluda. Na primeira dificuldade que tiver, ele vira ditador", avisou. A história daria razão a Geisel.
(MCC)
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