da Sucursal de Brasília

A extinção inesperada do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), em meio à MP (medida provisória) que reestruturou o governo federal no dia 1º de janeiro, pode levar a bancada nordestina a dificultar a aprovação do ajuste fiscal na Câmara.
Os deputados não se conformam em perder uma das maiores fontes de cargos e de verbas da região. O Dnocs existe há 89 anos, tem 2.356 funcionários espalhados por nove Estados e mais de 300 municípios e vem administrando verbas anuais de cerca de R$ 500 milhões.
"Há uma irritação e uma apreensão dos parlamentares do Nordeste com essa atitude do governo, até porque estamos no auge de uma grande seca", disse o senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE). "E isso tudo pode se refletir nas próximas votações na Câmara."
Os parlamentares nordestinos e mesmo a diretoria do órgão só souberam da extinção na última segunda-feira. "Chegamos para trabalhar e havia a notícia da extinção. Foi uma surpresa desagradável", disse à Folha Guilherme Evelin, diretor-interino do órgão, cuja sede fica em Fortaleza. A Folha apurou que a decisão de incluir o Dnocs na lista dos órgãos extintos foi do próprio presidente Fernando Henrique Cardoso, tomada 48 horas antes da edição da MP que reestruturou o governo.
A idéia do presidente é tentar dinamizar o setor. Há uma corrente no governo que aponta o Dnocs como uma das causas da "perenização da indústria da seca" -tanto que desde o governo Collor há tentativas de extingui-lo.
O líder do PFL na Câmara, deputado Inocêncio Oliveira (PE), protagonizou em 1994 um dos maiores escândalos envolvendo o Dnocs, quando conseguiu que o órgão buscasse água em seis propriedades suas, perfurando 22 poços -embora tivesse pago por eles, contrariou portaria que priorizava ações em áreas públicas.
A diretoria do Dnocs está loteada entre os partidos. A diretoria-geral, por exemplo, é do PFL-PI. (WILLIAM FRANÇA)



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