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CELSO PINTO
Um subsídio bilionário
O que alguns governadores chamam de acordo draconiano e impagável para as dívidas estaduais, feito com Brasília, é um
acerto que implica um subsídio colossal a ser pago pelos contribuintes.
Um banco calcula que o subsídio
implícito apenas no acordo com
São Paulo equivale a cerca de 43%
do valor da dívida renegociada, de
R$ 50,4 bilhões. Quer dizer, R$ 21,6
bilhões, se trazido a valor de hoje.
Como a dívida paulista representa quase a metade da dívida total a ser renegociada com os Estados, e as condições são mais ou menos uniformes, o subsídio implícito
na renegociação total pode equivaler a mais de R$ 40 bilhões, a valor presente.
O que isso quer dizer? Que, se o
governo quisesse liquidar de uma
vez a dívida renegociada por 30
anos, considerando os juros que os
Estados pagarão neste período e a
estimativa de quanto o governo federal pagará, o subsídio chegaria a
43% do total.
Isso não significa que seja simples para os Estados pagar suas dívidas. Mostra, contudo, que a renegociação já representa, graças
às taxas de juros astronômicas,
um extraordinário subsídio fiscal.
A ser pago por todos, inclusive pelos contribuintes dos Estados que
fizeram, com sacrifício, seu ajuste
fiscal.
Existem várias maneiras de
olhar os subsídios implícitos na
negociação. Um deles vem da diferença entre o valor da dívida considerada no acordo e seu valor
quando ele entrou em vigor. No
caso de São Paulo, por exemplo, a
dívida considerada foi a de março
de 97, de R$ 46,6 bilhões, mas o
acordo só valeu a partir de novembro de 97, quando a dívida já era
de R$ 50,4 bilhões.
Essa diferença de R$ 3,8 bilhões
foi um subsídio de partida. No total dos Estados, este subsídio de
partida chegou a R$ 13 bilhões, como mostrou a Folha ontem.
Esta, contudo, é apenas a ponta
do iceberg dos subsídios. Os Estados pagam juros de 6% acima da
inflação, enquanto o governo federal pagou, ano passado, 27,6% acima da inflação pelos seus papéis.
Essa diferença de custos significou que, de novembro de 97 até o
início deste ano, o governo federal
já acumulou um subsídio efetivo
de R$ 15 bilhões, ou 30% do total
da dívida paulista de R$ 50,4 bilhões, nos cálculos do banco.
Esse é o estrago já feito pela vida
real. Para imaginar qual será o estrago total, se o acordo for cumprido à risca nos 30 anos, é preciso
projetar qual será o juro pago pelo
governo federal no período. Além
disso, é necessário considerar duas
coisas: que São Paulo amortizou
R$ 6,2 bilhões em 98 e que amortizará uma pequena parcela a cada
mês, num esquema tipo "tabela
price".
Esse banco projetou juros reais
de 20,7% para a dívida federal este
ano; 15,7% para 2.000; 12% para
2.0001; 9,4% para 2.003 e 6,9% daí
por diante. Uma projeção conservadora.
Usando esses juros, dá para calcular, ano a ano, quanto falta São
Paulo pagar pela dívida e quanto
o governo federal terá de pagar para refinanciá-la. No final dos 30
anos, São Paulo teria pago toda
sua dívida, enquanto Brasília teria acumulado uma dívida de R$
222 bilhões, fruto dos papéis que
teria de emitir, ao longo de 30
anos, para cobrir o subsídio implícito dos juros.
Para bancar a renegociação das
dívidas estaduais, o governo federal terá de se endividar tanto mais
quanto mais alto for o juro que ele
pagará nos próximos anos. Se quisesse liquidar toda essa conta já,
considerando o custo futuro da renegociação para ele e para os Estados, o governo federal teria de desembolsar algo próximo a todo o
buraco estimado da Previdência,
pública e privada, em 98, de R$ 42
bilhões.
Para alguns Estados, como os
gastos com pessoal chegam a 80%
ou 90% da receita líquida, pagar
outros 13% da receita para honrar
a renegociação da dívida junto a
Brasília exigiria cortes drásticos e
difíceis. O mais fácil é tentar, mais
uma vez, repassar a conta para
Brasília, mas a conta, como se viu,
já é enorme.
No caso de Minas, se Brasília
quiser, não haverá prejuízo. O que
Minas teria a pagar, este ano, calcula o banco, é algo parecido (R$ 1
bilhão) ao que teria a receber em
repasses federais. Como o acordo
permite que Brasília retenha repasses dos Estados caloteiros, basta ter vontade política. A conferir.
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