São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

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Decisão surpreende até a base governista

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O anúncio feito pelo governo federal de que vai cortar R$ 3 bilhões de emendas parlamentares -de um total de R$ 5,5 bilhões- deixou até mesmo deputados da base aliada surpresos e promete gerar confusão e polêmica entre o Executivo e o Legislativo.
O dinheiro das emendas é destinado às obras nos municípios de origem dos parlamentares. Os deputados esperavam contar com essa verba neste ano eleitoral.
O presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), aliado do governo, disse que vai conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um dos seus argumentos é o de que a base aliada se sacrificou em 2003 para aprovar as reformas da Previdência e tributária.
"Temos que conversar com o presidente, pedir que ele não sacrifique muito a base parlamentar, que foi muito correta com ele. Se não fica só o mal que você fez, não tem o bem. As reformas são necessárias, mas são muito restritivas e sacrificam as pessoas. Em troca você tem as obras para a população, são coisas da política."
O líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), já espera a reação dos parlamentares e acredita que o governo vai acabar negociando. "Vai gerar reação, ninguém vai bater palma para isso. É forte, vai gerar pressão e, conseqüentemente, forçar negociação. A grande maioria dos parlamentares faz das emendas um instrumento de atendimento das demandas em seus espaços."
Para um dos vice-líderes do PSDB, Custódio Mattos (MG), o governo encontrou uma forma de disfarçar o corte de investimentos. "Cerca de 90% dos recursos das emendas são destinados para educação, saúde, saneamento. Para a opinião pública, no entanto, as emendas têm uma conotação ruim, fisiológica", disse ele.
Segundo Mattos, o enxugamento desses recursos vai acentuar a discrepância entre oposição e aliados. "As emendas serão concentradas nos amigos e vão ser um fator de coação dessa maioria artificial montada no Congresso [pelo governo]. Eles ganham duplamente porque liberam as suas [emendas] e bloqueiam as que não estão na mão do governo, inferiorizando a oposição nas disputas municipais", afirmou.
O líder do PFL, José Carlos Aleluia (BA), ironizou a base aliada ao governo. "A repercussão não é boa, mas a bancada do governo tem sido tão dócil, tem agido inclusive sem refletir, que essa medida pode diluir a bancada do governo, mas nem tanto. Eles têm aprovado até coisas inconstitucionais e contra os interesses da população", disse Aleluia.


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