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Decisão surpreende
até a base governista
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O anúncio feito pelo governo federal de que vai cortar R$ 3 bilhões de emendas parlamentares
-de um total de R$ 5,5 bilhões-
deixou até mesmo deputados da
base aliada surpresos e promete
gerar confusão e polêmica entre o
Executivo e o Legislativo.
O dinheiro das emendas é destinado às obras nos municípios de
origem dos parlamentares. Os deputados esperavam contar com
essa verba neste ano eleitoral.
O presidente do PTB, Roberto
Jefferson (RJ), aliado do governo,
disse que vai conversar com o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um dos seus argumentos é o
de que a base aliada se sacrificou
em 2003 para aprovar as reformas
da Previdência e tributária.
"Temos que conversar com o
presidente, pedir que ele não sacrifique muito a base parlamentar, que foi muito correta com ele.
Se não fica só o mal que você fez,
não tem o bem. As reformas são
necessárias, mas são muito restritivas e sacrificam as pessoas. Em
troca você tem as obras para a população, são coisas da política."
O líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), já espera a reação dos parlamentares e acredita
que o governo vai acabar negociando. "Vai gerar reação, ninguém vai bater palma para isso. É
forte, vai gerar pressão e, conseqüentemente, forçar negociação.
A grande maioria dos parlamentares faz das emendas um instrumento de atendimento das demandas em seus espaços."
Para um dos vice-líderes do
PSDB, Custódio Mattos (MG), o
governo encontrou uma forma de
disfarçar o corte de investimentos. "Cerca de 90% dos recursos
das emendas são destinados para
educação, saúde, saneamento.
Para a opinião pública, no entanto, as emendas têm uma conotação ruim, fisiológica", disse ele.
Segundo Mattos, o enxugamento desses recursos vai acentuar a
discrepância entre oposição e
aliados. "As emendas serão concentradas nos amigos e vão ser
um fator de coação dessa maioria
artificial montada no Congresso
[pelo governo]. Eles ganham duplamente porque liberam as suas
[emendas] e bloqueiam as que
não estão na mão do governo, inferiorizando a oposição nas disputas municipais", afirmou.
O líder do PFL, José Carlos Aleluia (BA), ironizou a base aliada
ao governo. "A repercussão não é
boa, mas a bancada do governo
tem sido tão dócil, tem agido inclusive sem refletir, que essa medida pode diluir a bancada do governo, mas nem tanto. Eles têm
aprovado até coisas inconstitucionais e contra os interesses da
população", disse Aleluia.
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