|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AJUSTE PETISTA
Custeio e emendas parlamentares terão bloqueio de R$ 3 bi cada um
Governo amplia corte e vai reter R$ 6 bi do Orçamento
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na primeira reunião do ano entre o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e seus ministros, ontem
em Brasília, o governo anunciou
que irá reter (contingenciar) R$ 6
bilhões do Orçamento deste ano.
O número ficou acima dos R$ 4
bilhões que estavam sendo discutidos inicialmente.
Custeio -manutenção de prédios públicos e gastos com viagens, por exemplo- perderá R$
3 bilhões. As emendas apresentadas pelos parlamentares, cerca de
R$ 5,5 bilhões, terão contenção de
igual valor (54,5%), o que já está
gerando confusão e polêmica
com os deputados, inclusive os da
base aliada ao governo.
Os R$ 12 bilhões previstos para
financiar investimentos do Executivo serão preservados, segundo informou o governo. Isso, no
entanto, não significa que estarão
livres de cortes que possam ocorrer ao longo do ano.
O valor total do Orçamento é de
R$ 407 bilhões, dos quais R$ 38 bilhões são para custeio e R$ 12 bilhões de investimento. São nessas
duas rubricas que o governo tem
liberdade para promover cortes.
Depois do contingenciamento
anunciado ontem, sobraram R$
35 bi para pagar as despesas de
custeio da máquina pública.
O anúncio sobre os cortes nos
gastos do governo foi feito conjuntamente pelos ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e José
Dirceu (Casa Civil). Os dois falaram a jornalistas num intervalo
da reunião ministerial realizada
na Granja do Torto.
Na reunião só faltou José Viegas
(Defesa), que está em viagem. Os
líderes do governo na Câmara,
Miro Teixeira (sem partido-RJ), e
no Senado, Aloizio Mercadante
(PT-SP), também participaram.
A reunião, que começou às
15h30 e acabou por volta das 21h,
foi seguida de churrasco.
Palocci e Dirceu fizeram questão de transmitir três pontos durante a entrevista: a preservação
dos recursos para investimento, o
otimismo em torno da perspectiva de crescimento econômico e,
sobretudo, a coesão do governo.
Palocci e Dirceu travaram, na semana, uma disputa nos bastidores sobre a necessidade ou não de
cortar o Orçamento.
Palocci ressaltou pelo menos
duas vezes que Lula pediu que
fossem preservadas as despesas
de investimentos. No entanto ele
não disse se os R$ 3 bilhões que
serão cortados das emendas parlamentares referem-se a investimentos. A retenção dos recursos
(R$ 6 bilhões) será reavaliada daqui a dois meses.
O clima da reunião foi de otimismo. O presidente do Banco
Central, que abriu o encontro, fez
uma exposição sobre política econômica assegurando um crescimento de 3,5% do PIB (Produto
Interno Bruto, que é a soma das
riquezas do país) neste ano.
Justificativa
Palocci justificou o bloqueio dos
R$ 6 bilhões afirmando que os
congressistas trabalharam com
um crescimento do PIB de 4%
neste ano. Já o governo, disse o
ministro, trabalha com um crescimento de 3,5%.
A diferença de avaliação é que,
segundo Palocci, levou o governo
a tomar a decisão de ter "cautela"
em relação aos gastos. Em nenhum momento Palocci referiu-se à contenção dos recursos como
contingenciamento ou mesmo
corte. Chamou de "cautela".
A Folha apurou que Palocci desejava cortar R$ 8 bilhões -R$ 4
bilhões em custeio e outros R$ 4
bilhões em investimentos. Já Dirceu e o ministro Guido Mantega
(Planejamento) queriam evitar isso -não foi à toa que Palocci não
usou a palavra corte ontem.
Mas o ministro da Fazenda convenceu Lula a dar demonstração
ao mercado de compromisso
com a austeridade fiscal. O presidente, então, bancou um corte de
R$ 6 bilhões. No futuro poderá
chegar aos R$ 8 bilhões pretendidos por Palocci. O governo, porém, não vai assumir isso.
(GABRIELA ATHIAS, LEONARDO SOUZA,
EDUARDO SCOLESE E KENNEDY ALENCAR)
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Decisão surpreende até a base governista Índice
|