São Paulo, terça-feira, 07 de fevereiro de 2006

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ANÁLISE

Severino, Dirceu e a imagem dos parlamentares

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A inflexão da avaliação do Congresso coincide com alguns fatos. O primeiro deles foi a saída de Severino Cavalcanti (PP-PE), que renunciou ao mandato e à presidência da Câmara em setembro para não ser cassado. Entrou em seu lugar um deputado discreto: Aldo Rebelo (PC do B-SP).
O segundo fato, a cassação do mais poderoso dos cassáveis, o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), em 1º de dezembro. Foi a punição de maior repercussão no Congresso (no caso, na Câmara) após explodir o "mensalão".
No início do ano, a convocação extraordinária poderia ter causado apenas mais desgaste. Até causou, mas os parlamentares souberam dar uma resposta. Muitos recusaram o dinheiro extra pelos poucos dias de trabalho em janeiro. Além disso, foi votada uma medida que acaba com a remuneração extemporânea, além de reduzir o período de férias congressuais de 90 para 55 dias por ano.
Desde o início do caso do "mensalão", os congressistas ocupam grande parte do noticiário. Nos últimos meses, porém, souberam produzir decisões para lustrar um pouco a imagem da instituição.
Há apenas pouco mais de quatro meses como presidente da Câmara, Aldo enxerga também como positiva a aprovação da chamada MP do Bem, que reduziu vários impostos, entre outras medidas. "A Câmara melhorará sempre o nível de sua aprovação quando incluir na sua agenda temas de interesse da população. No caso do recesso e da convocação extraordinária, soubemos responder às críticas sem atalhos: cortamos o período de recesso e o pagamento de salários extras."
Há também um fator correlato na aprovação do Congresso: a melhora na avaliação do governo federal, que caminha ao lado de senadores e de deputados.
O "mensalão" estava ligado tanto ao Executivo como ao Legislativo. Como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve uma melhora na sua avaliação, o eleitor deve também ter concluído que o Congresso não é tão ruim assim.
Outra indicação que a pesquisa Datafolha parece emitir é sobre a satisfação que os brasileiros têm quando o Congresso corta em sua própria carne. Já foram cassados Dirceu e Roberto Jefferson. As férias dos parlamentares foram cortadas. Os próximos passos são as votações, na Câmara, dos outros processos de cassação. A cada deputado ou senador cassado, o Congresso melhora sua imagem.
A pesquisa Datafolha poderá ser lida de duas formas pelos deputados. Como a imagem já está menos pior, estão desobrigados de cassar mais colegas. Ou justamente o oposto: é melhor mandar mais gente para casa para tentar melhorar ainda mais a avaliação.


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