São Paulo, terça-feira, 07 de fevereiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GOLPE

Segundo polícia, quadrilha oferecia a empresários lucro de 300% ao contribuir para "campanha", mas pagava com cédulas falsas

PF desmonta grupo de caixa dois fictício

Lindomar Cruz/ABr
Malas com dinheiro falso, arma, munição e jóias apreendidos pela operação da Polícia Federal


ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal apreendeu ontem, em 13 locais diferentes, em São Paulo, em Minas Gerais e no Distrito Federal, carros, jóias, armas, dinheiro falso, notas de reais, dólares e euros verdadeiras pertencentes a uma quadrilha que aplicava golpes em empresários dispostos a "comprar" caixa dois de campanhas políticas.
O chamariz para as vítimas estava no lucro. Os falsários ofereciam aos empresários a oportunidade de ganhar R$ 3 para cada R$ 1 investido. Mas, na hora de fechar o negócio, a mala só tinha notas verdadeiras na primeira camada. Todo o restante era recheado com cédulas de papel, até com carimbo de "não tem valor".
O negócio, aparentemente imperdível, era reforçado com o argumento de que o dinheiro frio, recolhido em esquemas de caixa dois, estava em notas seqüenciadas e precisava ser distribuído. Daí oferecer uma taxa de retorno tão grande para a troca do dinheiro com os empresários.
Ao abordar a vítima, os irmãos Elias e Getúlio da Silva se apresentavam, com nomes falsos, como assessores de um senador ou deputado chamado Luiz Carlos Guimarães. A ficção encobria, na verdade, Antônio Silvério da Silva.
A quadrilha tinha outros cinco integrantes, que atuavam na confecção, no transporte e na distribuição das notas, bem como na rede de contato com as vítimas.
A PF indiciou os oito por formação de quadrilha e estelionato, crimes cujas penas podem chegar a cinco anos de prisão, e pediu a prisão preventiva deles à Justiça, mas o grupo segue em liberdade.
Silvério não foi localizado pela PF ontem em Uberlândia, onde mora. Getúlio da Silva acabou sendo preso por porte ilegal de arma e desacato à autoridade. Elias da Silva também foi detido por posse ilegal de arma. A PF tomou o seu depoimento e o pôs em liberdade na tarde de ontem.
A PF trabalha com seis casos de fraude confirmada. Outros 23 estão sob investigação. "Precisamos que as vítimas entrem em contato conosco. Com essas pistas, vamos chegar a muitos outros casos", disse o delegado Wesley Almeida, chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários da Superintendência da PF em Brasília.
Almeida afirma ter indícios de que a quadrilha atuava no Distrito Federal e em pelo menos oito Estados: Goiás, Mato Grosso, Amapá, Rondônia, Roraima, Pará, Minas Gerais e São Paulo.
A Folha não conseguiu localizar nenhum dos acusados ontem.
Segundo a PF, integrantes do grupo já foram presos em 2003, também sob a acusação de estelionato. Conforme registrado pela PF, Antônio Silvério da Silva, o "político", teve sua primeira passagem pela polícia em 1963.
Em uma de suas investidas, segundo o delegado, Silvério se apresentou como um "exilado político", que fugiu durante a ditadura. No exterior, teria reunido uma fortuna, mas não poderia usar o dinheiro no país, pois ainda estaria sob investigação. Daí a necessidade de trocar dólares por reais. Na hora de pagar, cobria as notas de papel com dólares verdadeiros. Enquanto o empresário admirava o lucro superfaturado, o falsário fugia com o dinheiro.


Texto Anterior: Toda Mídia - Nelson de Sá: Em recuperação
Próximo Texto: Judiciário: Lula confirma desembargador paulista no STF
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.