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De volta, Genoino quer reforma política
Petista menciona crise do mensalão durante palestra em SP: "Não foi compra de voto, não foi quadrilha"
MALU DELGADO
EDITORA-ASSISTENTE DE BRASIL
O efusivo José Genoino que
circulava pelo Congresso ficou
perdido em algum canto da história da política nacional depois da crise do mensalão. Hoje, o deputado eleito José Genoino Neto (PT-SP), 60, é discreto ao emitir suas opiniões e
há meses evita a imprensa.
Numa sala com sofás e pufes
em tons de azul e lilás, uma platéia de apenas 22 pessoas na
Casa do Saber, em São Paulo,
descobre que Genoino não defende mais o voto facultativo,
prega contra o voto secreto de
parlamentares - "quem representa o cidadão tem que se expor e ser cobrado" -, e quer
uma reforma política que inclua voto em lista proporcional
(conforme o eleitorado nos Estados), dando aos filiados das
legendas, e não à direção partidária, o poder de definir os nomes que nela constarão.
Durante a palestra "Reforma
Política e Sistema Eleitoral"
-cuja inscrição custou R$ 100
por pessoa -, Genoino discorre
sobre os papéis do Senado e da
Câmara e explica porque é necessário ter maiorias qualificadas para se garantir a governabilidade.
Se a reforma política introduzir a votação por listas, afirma ele, a fidelidade partidária
será inevitável. A ligação do
candidato com o partido seria
umbilical, pois o eleitor deixará
de escolher um único nome,
uma personalidade política, e
fará sua opção de acordo com a
lista elaborada pelo partido.
Outra conseqüência da lista
seria baratear a eleição: "Você
não imagina o que é um cara ficar conhecido em São Paulo,
quantos santinhos, quantos lugares precisa visitar".
Então ficamos assim: com
lista proporcional (feita pelos
filiados), fidelidade e... financiamento público de campanha. E neste único momento
em que o petista, de forma marginal, menciona a mais grave
crise política do governo Lula.
Aliás, as palavras crise e mensalão não fazem parte do repertório do palestrante. Ele prefere
invocar a palavra "erro".
"Financiamento privado
com representação pública gera crise. O principal erro do
meu partido foi não ter feito,
em 2003, a reforma política. O
PT deveria ter feito campanha
pública pela reforma política
em 2003. Foi um erro nosso.
Não foi compra de voto, não foi
quadrilha. Não foi nada disso.
Foi financiamento."
Após uma hora de palestra,
há um rápido intervalo antes da
fase de debates. Genoino identifica a reportagem. É questionado sobre seu silêncio e a forma como evita a imprensa.
"É duro", diz. Fica alguns segundos calado. "Eu vivi os dois
lados da mídia. O da unanimidade e o da porrada. Só quero
falar de reforma política." E de
nada mais? Evitará a imprensa
durante todo o mandato? "Você está aqui me ouvindo", desconversa. Visivelmente ressabiado, ele retoma a segunda
etapa da palestra. Como se
houvesse um pacto de cavalheiros, ninguém fala de mensalão.
A única pergunta incômoda é
sobre o julgamento dos pares.
"Sempre defendi que o julgamento dos parlamentares fosse
feito por outro poder. Pelos
próprios pares gera todo tipo
de distorção", diz. O outro poder, acrescenta, é o Judiciário
- Supremo Tribunal Federal.
Noite chuvosa em São Paulo
e a palestra termina, após duas
horas de conversa política na
sala dos pufes da Casa do Saber
- um centro de debates, cursos
e palestras extra-acadêmicos.
Ainda ressabiado, Genoino
pergunta à reportagem se foi
claro. Conta que, depois de 20
anos de mandato (foi deputado
de 1983 a 2003, e agora tenta se
reerguer politicamente), continuará a morar no Hotel Torres.
"É um dos hotéis mais simples
de Brasília." Lacônico, não revela perspectivas do novo mandato: "Estou recomeçando".
Velhos hábitos permanecem.
Mas um novo Genoino chega,
de novo, à capital federal.
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