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JANIO DE FREITAS
O fator decisivo
A criação da CPI não é tão fácil; é a situação em que imprensa e TV têm potencial para ser o fator decisivo
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UFF , que alívio, voltamos a ter
Congresso em -vá lá- atividade. Escândalos só do governo Lula são uma persistência
monótona. Daí não se deduza que o
novo senador Lobão Filho deva
preocupar-se com a sindicância a
respeito dos laranjas e pepinos de
seus negócios, ontem mesmo prometida pelo corregedor do Senado,
Romeu Tuma. O corregedor não é
dado a incomodar colegas, nem no
caso de Renan Calheiros encontrou
alguma contribuição efetiva a oferecer às investigações.
Mas o Congresso dará, desde logo,
mais animação ao confronto pró e
contra uma CPI para o uso pessoal e
lucrativo dos cartões de crédito pagos com dinheiro público. De material de construção comprado por seguranças da Presidência (são interessantes essas coincidentes compras em lugares tão distantes como
o ABC paulista e Florianópolis) a
gastos de ministros, o que se soube
até agora é parcela ínfima do uso de
cartões. Mas são 11.510 no governo,
segundo o Ministério do Planejamento, dos quais cerca de um terço
em uso reconhecido, e dos demais
não há notícia. Além disso, os usos
suspeitos e os claramente ilegais não
foram inventados no ano passado,
nem de repente.
O trabalho da Controladoria Geral
da União, iniciado por Waldyr Pires
e depois conduzido por Jorge Hage,
é mais do que eficiente: tem sido
merecedor de toda a confiança. A
continuidade da investigação lhe ficaria muito bem, até por ser o iniciador. Em óbvia comprovação do seu
conhecimento de desvios gritantes e
outros perigos, no entanto, Lula decidiu cercear a ação da Controladoria relativa aos cartões, sobretudo os da própria Presidência. Com isso, a
CPI que parecera excessiva, jogada
de oposição, torna-se o recurso adequado para resguardar um direito
simples da população: saber o grau
de (i)moralidade no uso pessoal,
dentro do governo, do dinheiro arrecadado ao público.
A criação da CPI não é tão fácil,
porém. A coleta das adesões necessárias não representa maior problema no Senado. Na Câmara, onde a
maioria elástica está sempre em liquidação de inverno ou de verão, o
governo tem condições de resistência forte. É a situação em que imprensa e TV têm o potencial para ser
o fator decisivo. Como aconteceu
nas CPIs do mensalão, dos sanguessugas, dos bingos e em todas as demais investigações que, bem resultantes ou não, nasceram contra os
esforços do governo e as manobras
do PT, da parte negociante do
PMDB, do PTB e de uns quantos insignificantes.
A CPI dos cartões seria bem-vinda.
PAC do aumento
Já que a Controladoria Geral da
União foi citada, fiquemos nela. As
obras do chamado PAC das favelas,
que contam com dinheiro federal e
foram orçadas em R$ 860 milhões
para sua primeira fase, já aumentam R$ 41 milhões antes de começar. A alegação é que as áreas têm
acesso difícil, e engenheiros, temerosos da insegurança, forçariam a
contratação de outro pessoal.
As favelas não mudaram de lugar,
entre o levantamento para orçar as
obras e a alegação, agora, para aumentar-lhes o custo. O pessoal sem
temor, a ser contrato, ganhará o
que os temerosos deixarão de ganhar. E, de quebra, ainda houve nos
editais exigências injustificáveis,
das que costumam predeterminar
vencedores de licitações.
Más e boas
Além do acordo, noticiado por
Mônica Bergamo, para permuta de
programações entre a TV Record e
a sua TV Azteca (45% da audiência
no México), o magnata mexicano
Ricardo Salinas estuda algo maior:
a compra de 30% da emissora brasileira. Reforço para a ambição da
Record de confrontar a Globo.
Uma TV com alta audiência é importante, como apoio, para a rede
de lojas Elektra e o banco de empréstimos populares que Salinas
traz para o Brasil, de início em Recife e no Rio. Mas as más línguas e
algumas boas insinuam que a sugestão inicial do negócio é devida
ao apreço de Lula pela Globo.
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