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Reação à crise consolidou lua de mel com empresários
Atual presidente da Fiesp, Paulo Skaf diz que "o medo do PT não existe mais"
Em 1989, o então presidente
da mesma entidade afirmou
que 800 mil empresários
abandonariam o Brasil caso
Lula fosse eleito presidente
ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das transformações
mais notáveis do PT é a relação
com o empresariado. De ameaça à estabilidade econômica e
democrática, Lula passou à
condição de quase unanimidade, arrecadando prêmios do setor no Brasil, como "Operário
nº 1", e no exterior, como "Estadista do Ano", concedido pelo
Fórum Econômico Mundial.
"Tenho certeza de que o medo do PT não existe mais", afirma o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf,
que apoiou Lula em 2002.
De acordo com ele, o relacionamento do empresariado com
Lula e também com o PT é "excelente", "de carinho".
Nem sempre a relação com a
entidade foi amena. Em 1989,
seu então presidente Mário
Amato afirmou que a vitória de
Lula levaria 800 mil empresários a deixar o país. Em 1994,
outro presidente da principal
entidade industrial do Brasil,
Carlos Eduardo Moreira Ferreira, disse, sobre a candidatura
petista, que o país corria o risco
de "eleger um presidente que
condenaria o Brasil ao atraso".
Mesmo em 2002, os bancos
de investimento norte-americanos Merrill Lynch e Morgan
Stanley Dean Witter rebaixaram a recomendação para negócios com títulos da dívida
brasileira por considerar que a
taxa de risco do país era maior
pela possibilidade de que Lula
vencesse as eleições.
Até a década de 90, quem fez
o trabalho de aproximar Lula
do empresariado foi Oded Grajew, empresário que hoje atua
na área social. "Eu abri as portas do setor empresarial para o
Lula e para o PT, e isso leva
tempo, porque você tem que
desmontar uma série de preconceitos mútuos. Você tem
que aproximar as pessoas, desmistificar coisas", diz ele.
Entre os principais medos
estavam mudanças bruscas na
economia, fuga de capitais, a invasão de terras produtivas e desapropriação até nas cidades.
"Hoje existe o entendimento
no empresariado que os acertos
do governo foram maiores do
que os erros", diz o economista
Roberto Segatto, presidente da
Abracex (Associação Brasileira
de Comércio Exterior).
Para muitos empresários, a
forma como o governo lidou
com a crise -em especial estimulando o consumo- foi definitiva para uma visão ainda
mais positiva da atual gestão.
Carta aos Brasileiros
Para o cientista político David Fleischer, da UnB (Universidade de Brasília), dois movimentos do PT em 2002 foram
decisivos para a mudança na
relação: a Carta aos Brasileiros,
em que o então candidato Lula
se comprometia a honrar compromissos econômicos caso
vencesse as eleições, e a escolha
do empresário José Alencar como vice na chapa presidencial.
Além disso, a definição das
diretrizes da política econômica agradou o setor.
"A macroeconomia foi conduzida com astúcia, por um PT
light e pragmático", afirma
Fleischer sobre gestões de Antonio Palocci Filho e Guido
Mantega no Ministério da Fazenda, e de Henrique Meirelles
no Banco Central.
O preço pago pela guinada
que conquistou os empresários
foi "jogar na lata do lixo o dogma do PT", diz ele, e emenda:
"Colocar Meirelles no BC foi
uma heresia, que muitos petistas não aguentaram", diz ele.
José Maria de Almeida, presidente do PSTU, partido que
fundou com outros dissidentes
após deixar o PT em 1992, argumenta que o apoio do empresariado demonstra que ambos os
lados mudaram: "Lula assumiu, ainda na campanha [de
2002], um programa neoliberal, que permitiu um acordo
com setores importantes da
burguesia brasileira".
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