São Paulo, domingo, 7 de fevereiro de 1999

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DATAFOLHA
Aprovação às medidas adotadas há quatro anos cai, mas ainda supera a rejeição a elas entre os brasileiros
Plano Real obtém pior avaliação desde 1994

da Reportagem Local


O Plano Real obteve na semana passada sua pior avaliação nacional desde que foi implantado, em 1994. Porém, os brasileiros que aprovam o plano econômico (34%) ainda superam aqueles que o rejeitam (29%). Outros 35% consideram o real regular.
Na comparação com a pesquisa nacional anterior, feita pelo Datafolha em dezembro do ano passado, o percentual de aprovação do plano despencou 27 pontos percentuais: caiu de 61% para 34%.
A perda de apoio do plano só não foi maior porque 37% das pessoas que estudaram até o 1º grau (a maioria da população) ainda o consideram bom ou ótimo. Entre os que têm diploma de nível superior, por exemplo, esse percentual é de apenas 26%.
Esse é um dos motivos pelos quais a popularidade do real continua superior à do presidente Fernando Henrique Cardoso. Há 13% de pessoas que consideram o plano ótimo ou bom, mas que qualificam o governo como ruim ou péssimo.
Na maioria das regiões do país o real ainda tem uma avaliação mais positiva do que negativa. A única exceção é o Sul, onde há um empate técnico entre os que o aprovam (31%) e os que o rejeitam (34%).
O mesmo acontece nas regiões metropolitanas (28% de ótimo e bom contra 31% de ruim e péssimo), áreas que concentram grande parte das maiores cidades do país, onde o desemprego é mais alto.
Junto com a perda de apoio ao plano do governo, cresceu a desconfiança da população em relação à economia. Para 68% dos brasileiros a inflação vai aumentar daqui para frente.
Esse percentual vem crescendo desde setembro do ano passado. No início daquele mês os pessimistas em relação ao comportamento dos preços eram 32%. Em dezembro, eram 48%.
O salto de 20 pontos percentuais registrado na pesquisa feita na semana passada deve-se, em boa parte, à percepção da população que os preços já estão subindo.
Chega a 81% o percentual de brasileiros que afirmam ter percebido o aumento do preço de alguma mercadoria na última semana.
O mesmo pessimismo é verificado em relação ao desemprego. Para 72% dos entrevistados ele vai aumentar. É o maior percentual já registrado pelo Datafolha, só comparável aos 70% observados em dezembro de 1997, quando a taxa de desemprego nas principais cidades do país deu um salto.
Embora a preocupação com o problema seja geral, ela é mais acentuada entre as pessoas com 25 a 40 anos, entre os que têm nível superior, entre os moradores do Sudeste e entre aqueles que vivem nas regiões metropolitanas.
Combinando o pessimismo em relação à inflação e ao desemprego, 48% dos brasileiros avaliam que seu poder de compra vai diminuir. Esse percentual era de 37% em dezembro último.
Outros 29% acham que o poder de compra dos salários vai continuar como está, e apenas 17% acreditam que ele vai aumentar. Essa última taxa já chegou a ser de 41% em dezembro de 1994.
Como resultado de todas essas preocupações, saltou de 34% para 50% o percentual de brasileiros que prevêem que a situação econômica do país vai piorar nos próximos meses.
Esse clima pessimista é menor, entretanto, quando a pergunta se remete à situação econômica pessoal do entrevistado. Os que acham que vão piorar de vida se equivalem aos que acham que vão melhorar: 30% em ambos os casos.
Outros 38% acreditam que sua condição econômica vai permanecer como está.
Apesar desse sinal menos negativo, a pesquisa captou uma deterioração nas previsões pessoais dos brasileiros. Em dezembro, os que achavam que sua situação ia piorar eram apenas 20%.
Isso se reflete também nos planos dos brasileiros. Aqueles que pretendem diminuir as compras que estavam planejando devido ao aumento das taxas de juros chegam a 55%. Essa tendência é maior entre os mais escolarizados e entre os que têm renda mais alta.
O motivo mais provável para esse comportamento da elite é que são justamente esses segmentos os mais bem informados sobre o aumento das taxas de juros: 91% dos que têm nível superior e 82% dos que ganham mais de 20 salários mínimos sabem que elas subiram, contra 56% na média da sociedade.
A maioria dos brasileiros não tem dúvidas sobre quem é o culpado pela situação econômica: 59% acham que, apesar de a crise ser mundial e de o Congresso ter contribuído para que ela ocorresse, o governo federal é o principal responsável porque não soube proteger o real.
Mais do que isso, 65% dos entrevistados acreditam que a crise fugiu ao controle do presidente. Só 28% ainda acreditam que FHC está conseguindo controlá-la.
A maioria dos brasileiros é contrária à liberação do câmbio (66%). Chegam a 48% os que acreditam que a desvalorização do real vai aumentar o desemprego e a inflação. As previsões da população em relação ao câmbio são, na maior parte, pessimistas. Para 41% a cotação do dólar vai subir, para 26% ela vai cair, e para 27%, vai ficar como está. (JRT)


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