São Paulo, quinta-feira, 07 de março de 2002

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CRISE NA SUCESSÃO

Para senador, presidente FHC é um dos responsáveis por suposta armação contra Roseana

"Destruíram todas as pontes para uma aliança", diz Sarney

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Magoado e decidido a atacar o governo, o ex-presidente da República e hoje senador José Sarney (PMDB-AP), 71, disse ontem que os aliados tucanos de Fernando Henrique Cardoso "destruíram todas as pontes para uma aliança" com o PFL na sucessão.
Sarney falava com interlocutores em seu gabinete no final da tarde de ontem quando fez esse diagnóstico. Para ele, o episódio da busca e apreensão de documentos na empresa Lunus, de propriedade de sua filha, a governadora Roseana Sarney (PFL-MA), quebrou totalmente a relação de confiança com o PSDB. Sarney atribui a tucanos a montagem da parte da operação que serviu para constranger Roseana.
"Quem é que não pensa assim no Brasil?", costuma perguntar a quem lhe indaga se tem convicção. Sua certeza inclui também o presidente FHC como um dos responsáveis por essa suposta armação contra Roseana.
"Se não tivessem feito isso, mais adiante o cenário seria outro. Se Roseana viesse a cair, poderia até haver uma composição. Não acredito que ela aceitasse ser vice, mas o PFL poderia indicar alguém", declarou o ex-presidente.
Há no PFL, e até por parte de Roseana, preocupação com a reação pública de Sarney sobre a conjuntura política. A frase-síntese sobre o tema ouvida entre dirigentes pefelistas ontem era: "Se Roseana atirar no peito de FHC acertará no próprio pé. Não queremos briga com o presidente".
Os pefelistas acreditam que FHC sempre terá uma popularidade acima ou em torno de 30%. Não querem desprezá-lo. Por isso temem um discurso público de Sarney. Consideram ter obtido uma vitória parcial ao demoverem o pai de Roseana de falar nesta semana no plenário do Senado.
"Ninguém me impedirá de falar. Concordei que nesta semana poderia prejudicar a decisão do PFL [de deixar o governo". Poderia parecer que eu estava querendo influenciar, o que não é o caso, pois não é essa minha intenção."
A nova data para o discurso de Sarney é terça que vem. É o único dia possível na próxima semana. Na quarta, ele embarca para Paris para o lançamento em francês de seu livro "Saraminda". Pretende voltar em seguida para o Brasil. "Não quero ficar longe", diz ele.
Para Sarney, o seu discurso pode até ser inoportuno para a candidatura presidencial de sua filha, pois poderia deixar o Palácio do Planalto ainda mais irritado com o PFL. "Mas não vou me calar. Considero ter o dever institucional de relatar o que sei, na condição de ex-presidente. Eu já havia falado mais de uma vez para o presidente Fernando Henrique que ele não deveria deixar que conspurcassem o governo dele. E foi o que aconteceu".
Sarney se recusa a dizer para seus interlocutores qual será o conteúdo exato desse seu discurso. Quem já leu uma versão preliminar do texto afirma ter visto ataques diretos ao ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira. A respeito de FHC, fica exposto o conteúdo de conversas de Sarney com o presidente da República.
"Falei para eles que havia gente da Abin [Agência Brasileira de Inteligência, o serviço secreto do governo federal" no Maranhão. O presidente colocou o general [Alberto" Cardoso para falar comigo, e ele negou. Então eu disse que deviam ser integrantes do antigo SNI [Serviço Nacional de Informações", e ele disse que poderia ser. Só que nunca mais me procurou", relata Sarney. "Foram lá fotografar Roseana, segui-la, grampear telefones. Ultrapassa qualquer tipo de limite. É absurdo".
Sarney considera que o atual episódio pode " tirar alguns pontos" de Roseana nas pesquisas eleitorais. "Mas ela se recupera em seguida, pois está conduzindo muito bem o processo".
Para o ex-presidente, sua filha conseguiu eliminar a pecha de que não tinha liderança. "Ela passou o PFL e está no comando. Demonstrou isso agora e essa atitude melhora sua imagem".



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