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CRISE NA SUCESSÃO
Para senador, presidente FHC é um dos responsáveis por suposta armação contra Roseana
"Destruíram todas as pontes para uma aliança", diz Sarney
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Magoado e decidido a atacar o
governo, o ex-presidente da República e hoje senador José Sarney (PMDB-AP), 71, disse ontem
que os aliados tucanos de Fernando Henrique Cardoso "destruíram todas as pontes para uma
aliança" com o PFL na sucessão.
Sarney falava com interlocutores em seu gabinete no final da
tarde de ontem quando fez esse
diagnóstico. Para ele, o episódio
da busca e apreensão de documentos na empresa Lunus, de
propriedade de sua filha, a governadora Roseana Sarney (PFL-MA), quebrou totalmente a relação de confiança com o PSDB.
Sarney atribui a tucanos a montagem da parte da operação que serviu para constranger Roseana.
"Quem é que não pensa assim
no Brasil?", costuma perguntar a
quem lhe indaga se tem convicção. Sua certeza inclui também o
presidente FHC como um dos
responsáveis por essa suposta armação contra Roseana.
"Se não tivessem feito isso, mais
adiante o cenário seria outro. Se
Roseana viesse a cair, poderia até
haver uma composição. Não
acredito que ela aceitasse ser vice,
mas o PFL poderia indicar alguém", declarou o ex-presidente.
Há no PFL, e até por parte de
Roseana, preocupação com a reação pública de Sarney sobre a
conjuntura política. A frase-síntese sobre o tema ouvida entre dirigentes pefelistas ontem era: "Se
Roseana atirar no peito de FHC
acertará no próprio pé. Não queremos briga com o presidente".
Os pefelistas acreditam que
FHC sempre terá uma popularidade acima ou em torno de 30%.
Não querem desprezá-lo. Por isso
temem um discurso público de
Sarney. Consideram ter obtido
uma vitória parcial ao demoverem o pai de Roseana de falar nesta semana no plenário do Senado.
"Ninguém me impedirá de falar. Concordei que nesta semana
poderia prejudicar a decisão do
PFL [de deixar o governo". Poderia parecer que eu estava querendo influenciar, o que não é o caso,
pois não é essa minha intenção."
A nova data para o discurso de
Sarney é terça que vem. É o único
dia possível na próxima semana.
Na quarta, ele embarca para Paris
para o lançamento em francês de
seu livro "Saraminda". Pretende
voltar em seguida para o Brasil.
"Não quero ficar longe", diz ele.
Para Sarney, o seu discurso pode até ser inoportuno para a candidatura presidencial de sua filha,
pois poderia deixar o Palácio do
Planalto ainda mais irritado com
o PFL. "Mas não vou me calar.
Considero ter o dever institucional de relatar o que sei, na condição de ex-presidente. Eu já havia
falado mais de uma vez para o
presidente Fernando Henrique
que ele não deveria deixar que
conspurcassem o governo dele. E
foi o que aconteceu".
Sarney se recusa a dizer para
seus interlocutores qual será o
conteúdo exato desse seu discurso. Quem já leu uma versão preliminar do texto afirma ter visto
ataques diretos ao ministro da
Justiça, Aloysio Nunes Ferreira. A
respeito de FHC, fica exposto o
conteúdo de conversas de Sarney
com o presidente da República.
"Falei para eles que havia gente
da Abin [Agência Brasileira de Inteligência, o serviço secreto do governo federal" no Maranhão. O
presidente colocou o general [Alberto" Cardoso para falar comigo,
e ele negou. Então eu disse que deviam ser integrantes do antigo
SNI [Serviço Nacional de Informações", e ele disse que poderia
ser. Só que nunca mais me procurou", relata Sarney. "Foram lá fotografar Roseana, segui-la, grampear telefones. Ultrapassa qualquer tipo de limite. É absurdo".
Sarney considera que o atual
episódio pode " tirar alguns pontos" de Roseana nas pesquisas
eleitorais. "Mas ela se recupera
em seguida, pois está conduzindo
muito bem o processo".
Para o ex-presidente, sua filha
conseguiu eliminar a pecha de
que não tinha liderança. "Ela passou o PFL e está no comando. Demonstrou isso agora e essa atitude
melhora sua imagem".
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