São Paulo, quinta-feira, 07 de março de 2002

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NO AR

Todos os cargos

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

- O PFL vai entregar todos os cargos.
Fátima Bernardes sublinhou "todos", ao anunciar o acontecimento histórico, no Jornal Nacional. "Todos os cargos" abrangem os milhares de segundo escalão para baixo.
Roseana Sarney dobrou o PFL. Os pefelistas agora estão tomados, também eles, pela "ira divina" resultante da investigação do suposto desvio de verbas na Sudam.
A decisão ajuda a reforçar a imagem de perseguição política, tão necessária para anular eventuais provas do desvio que surjam no correr da campanha eleitoral.
Mas a "ira divina" é também efeito da intenção de voto.
Os pefelistas passaram a acreditar na candidatura Roseana -ela que surgiu meio ano atrás dizendo que "o destino das mulheres não é ser vice", mas "as mulheres, se quiserem, podem ser vice".
O comercial foi feito antes de ela passar dos 20%. Agora o partido não quer mais ser vice. Quer Roseana.
É capaz de entregar "todos os cargos" por Roseana. Ela tomou o poder no PFL.
 
O ex-presidente José Sarney, do PMDB, anunciou com estardalhaço o fax enviado pela Polícia Federal a FHC, na sexta, insinuando ser prova do Watergate maranhense.
A prova se esvaziou rapidamente, com a resposta governista de que foi enviada no final da operação -e reenviada a Jorge Bornhausen, que chefia a campanha da filha de Sarney.
Ficou do episódio, que certamente pesou na decisão dos pefelistas de deixar o governo, um ex-presidente que trata o presidente por golpista.
E um presidente que trata um ex-presidente por mentiroso.
 
A decisão histórica de entregar todos os cargos quase fez esquecer que José Serra finalmente estreou o seu longo programa de horário nobre, em cadeia nacional.
Ecoando ou não a crise com o PFL, ele foi apresentado como o candidato de FHC, como o candidato do governo.
Um locutor dizia que "o presidente Fernando Henrique" e seu partido "estão se unindo em torno de José Serra". E o próprio dizia:
- Eu mereço o respeito e o apoio do presidente.
É o caso de perguntar se não há dúvidas no presidente, no momento em que inicia contra a sua vontade, de uma vez por todas, a fase terminal de sua presidência.
Se Roseana tomou o poder no PFL, Serra fez o mesmo no PSDB.



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