São Paulo, quinta-feira, 07 de março de 2002

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JANIO DE FREITAS

Dia de respostas

O presidente Fernando Henrique Cardoso interrompeu sua visita ao Panamá e voltou às pressas por causa de uma "tempestade em copo d'água".
Ao formular tal definição das reações pefelistas ao problema com a candidata-governadora Roseana Sarney, o presidente também "não via razão para tanta trepidação", exercendo em dose dupla a percepção política que, em seguida, se surpreende com o óbvio.
A esperança governamental está depositada em uma única fórmula, produzida na infinitude de conversas que, entre pefelistas-pacifistas e entre estes e os demais governistas, em vão procuraram melhores saídas para o estado agudo da crise.
A fórmula consiste na exoneração "espontânea" de todo o ministério. Assim seria dada ao PFL indignado a desejada exclusão pefelista do ministério, sem, no entanto, haver o gesto reprobatório da retirada.
Alguns problemas se apresentaram com a fórmula. Um deles é que a exoneração coletiva incluiria, além do controlável PSDB, o incerto PMDB, cujo ministro Ney Suassuna, por exemplo, abandonou sua candidatura ao governo da Paraíba para ficar no ministério até o final do mandato de Fernando Henrique.
Outro problema é que a exoneração levaria à nomeação de novo ministério. Se o PFL quiser incluir-se, a exoneração coletiva deixa de ser o que pretende e se mostrar como farsa. Caso o PFL recuse a inclusão, estará caracterizado o gesto reprobatório que os governistas tanto desejam evitar.
Por fim, há o problema Roseana Sarney e sua candidatura. A exoneração coletiva não parece capaz de satisfazer sua exigência de atitudes firmes do PFL, sem as quais -é sua advertência- deixará o partido sem candidato em sua primeira oportunidade real de aspirar à Presidência. E, nessa possível recusa à fórmula, Roseana contaria, por certo, com fortes apoios nas bancadas pefelistas da Câmara e do Senado.
O encontro do presidente do PFL, Jorge Bornhausen, com senador José Sarney emitiu poucas informações sobre a conversa. Uma, porém, evidenciou mais do que o noticiado adiamento, de ontem para a próxima terça, do discurso prometido pelo ex-presidente. Esse adiamento tem um sentido político, logo, Sarney o aceitou em razão de alguma proposta ouvida de Bornhausen ou por este aceita. É possível que hoje se tenha a resposta.
Hoje, aliás, promete ser um dia de respostas. E talvez se chegue ao impensável durante tantos anos -ver o PFL tomar a atitude de se afastar completamente do poder governamental. Mais ainda, fazê-lo em nome de sua dignidade.



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